A Rua Florêncio de Abreu, uma das mais antigas da Cidade de São Paulo, costuma ser uma via interessante para os amantes da arquitetura paulistana.
Inicialmente chamada de Miguel Carlos, a Florêncio de Abreu começa no Largo de São Bento, região da Sé, e vai até as proximidades da Igreja de São Cristóvão, já no bairro da Luz. Por toda sua extensão é possível encontrar belos edifícios antigos e palacetes, sendo o mais interessante o casarão de Marieta Teixeira de Carvalho.
Na altura do número 800, uma fachada que sobreviveu ao tempo agoniza a céu aberto:
Do antigo imóvel construído nos primeiros anos do século 20, a fachada e o piso inferior são as únicas coisas que restaram. No passado serviu de residência no piso superior e de estabelecimento comercial na parte térrea. E permaneceu assim durante décadas, até o momento em que a Florêncio de Abreu perdeu suas características residenciais, em meados dos anos 50.
Trata-se inclusive, do mesmo imóvel que aparece no lado esquerdo da foto de 1914 que abre este artigo.
No início da década de 60 o imóvel já aparece como comercial, como endereço de uma empresa de venda de máquinas para a indústria. Nesta época a rua já começava a destacar-se como a “rua das ferramentas e máquinas”.
E funcionando como um comércio o velho sobrado permaneceu por longos e longos anos. Nos anos 2000 o local já funcionava como um estacionamento de veículos em seu térreo.
Segundo o que podemos apurar o estacionamento foi a última atividade comercial a existir ali, e teria sido fechado pela falta de segurança do prédio, cujo telhado no andar superior desabou. Desde então o imóvel encontra-se fechado e sem qualquer perspectiva de restauro, apesar de que esporadicamente alguém aparece para pintar a fachada.
Estudos de restauro, feitos por estudantes de arquitetura ou empresas de restauro, já foram apresentadas e podem ser encontradas pela internet. De todos eles, o de Raphael Toscano (imagem abaixo) é o mais interessante.
Acreditamos que o mais viável neste imóvel seja a completa recuperação da face exterior, aliada a uma liberdade de construção em seu interior, permitindo assim que o um prédio moderno seja desenvolvido. O importante a observar é a necessidade de se preservar o gabarito de altura, não excedendo a altura da fachada.
É bem possível que o maior obstáculo a uma recuperação seja a verba necessária para dar início ao projeto.
Veja abaixo mais duas imagens do imóvel (clique na foto para ampliar):
ATUALIZAÇÃO – 12/03/2020:
E infelizmente o que mais temíamos sobre esta incrível fachada antiga aconteceu. Os resquícios deste imóvel, oriundos dos primeiros anos do Século XX, foram levados abaixo sem dó nem piedade pela construtora Kallas que levou tudo abaixo para dar prosseguimento ao seu novo empreendimento, conforme apontamos aqui.
Eles poderiam, evidentemente, construir seu edifício no terreno sem problema nenhum, afinal o interior do terreno já não possuía nada. Porém um pouco de bom senso e teriam mantido essa incrível fachada que iria sem dúvida alguma valorizar o novo imóvel.
Contudo essas construtoras e incorporadoras, tal qual seus donos e eventuais acionistas são desprovidos de qualquer senso comunitário, respeito ao patrimônio ou à história da cidade. Em busca da defesa de seus empreendimentos transformam a cidade cada dia mais em uma ode ao mau gosto e à feiúra.
A demolição não foi ilegal – afinal o imóvel por incrível que pareça não era tombado – mas foi imoral.
Respostas de 24
Nossa que feliz coincidência….
Passo em frente todos os dias, pois este imóvel fica bem em frente a um das saídas do metro Luz.
Na ultima sexta-feira, ao sair do metro, olhei para esta fachada e pensei “nossa bem que o SPA podia fazer uma matéria sobre este local”, e para minha surpresa, recebo o e-mail com informação de matéria publicada sobre ele. Que legal.
Aproveito para sugerir reprotagem sobre umas casas de vilas (acho que no passado foram vilas de operários) na Rua São Caetano, bem proximo desse imóvel da matéria.
Parabens pela matéria Douglas.
Abraços.
Um belo imóvel da São Paulo provinciana de 1930 ! Devemos propagar seu reparo para manter a identidade da nossa cidade!
Na verdade esse imóvel é de no máximo 1913, em 1914 ele já aparece na foto indicada no início do artigo. Abraços
Meu pai trabalhou na empresa que funcionava neste lindo prédio. Todo o escritório ficava na parte superior e na parte térrea ficavam as maquinas operatrizes em exposição na loja.
Lembro que fui algumas vezes ao escritório dele e apesar de ainda criança me lembro dos detalhes. Todo o piso era de madeira de longas tábuas. A sala da telefonista ficava na alcova “da mocinha” ou seja, o quarto que tinha janela voltada para dentro de casa.
Infelizmente a SAVA faliu no final da década de 80 e depois disso o prédio entrou em decadência passando a ser o estacionamento…
Os quartos eram salas de diretores e de reunião.
BOM DIA PEDRO, LEMBRO SIM DESSA ÉPOCA, EU ERA BOY E MINHA CHEFE ERA A ELZA, TINHA A IVONE SECRETÁRIA DO DIRETOR E O GENIVALDO ” APELIDO BOZÓ ! ” , ERAMOS EM 12 OFFICE-BOYS NA ÉPOCA DE 1978 A 1980, SEMPRE NOS FINAIS DE ANO PASSÁVAMOS ALGUNS DIAS EM MATÃO NA CHÁCARA DA BAMBOZZI , ABRAÇOS RENATO MACEDO.
Opa Renato!!! O Bambozzi é meu padrinho de batismo. O meu pai era o Serafim.
Boa Noite, Pedro.
Meu nome é Reinaldo Garcia.
Meu pai trabalhou na SAVA, na década de 60, Antes era Sanson Vasconcelos. Quase todos os sábados, eu ia com pai e ficava na loja, durante toda a manhã.
Nome dele: Nemézio Garcia.
Você tem alguma foto dessa loja, do pessoal?
“O mesmo imóvel que aparece no lado direito”… Creio que é o lado esquerdo da primeira foto. No passado já vi outros problemas com lateralidade nas suas descrições. Será que as fotos estão invertidas (acho que não; conheço os lugares)?
Eu devo estar maluco mesmo Ronaldo, é lado esquerdo mesmo. Já arrumei! Obrigado pelo alerta.
Douglas, parabéns pela bela matéria.
No final dos anos ’50, quando trabalhava como ‘office-boy’, frequentemente ia do Cambuci ao Centro. Ali, visitava a Florêncio de Abreu frequentemente.
Me recordo da Rádio Bandeirantes, na Rua Paula Souza, algumas travessas a partir do Largo São Bento. Participei até de um programa com o Fernando Solera, ao vivo, no início dos anos 60.
Seu artigo desencavou bastante memórias, de um tempo onde se podia andar no Viaduto Santa Ifigência às 23h sem problema algum.
Obrigado.
Nesta mesma rua, no nº 123, o sobrado “Casa da Bóia” é um exemplo de preservação.
Douglas, Boa noite.. Trabalho ao lado desse imóvel, e inclusive estaciono lá todo dia.. SIM, ainda é um estacionamento e conforme o rapaz que trabalha lá, já está tudo vendido e será demolido até janeiro próximo, pra virar um hotel dessas grandes redes hoteleiras..igual a um outro imóvel uns 100 metros pra baixo, número 720, que tbem é um prédio da mesma época, até agosto era estacionamento, e foi fechado pq o novo comprador vai começar a derrubar tudo tbem…triste fim pra história da rua Florêncio..
E o pior é que se é uma “grande rede hoteleira” eles teriam dinheiro para fazer um hotel preservando a fachada, mas enfim… aqui no “reino da bananolândia” antigo = velho na mentalidadezinha de algumas pessoas, pois para elas, o que importa é ter um prédio sem graça com formato de caixote, mas com “gramú”.
Bela fachada, triste saber quer será demolida, dá pena mesmo.
Alguém afirmou que será demolida?
Além de ser triste, é um crime contra a memória e a cultura da cidade de São Paulo!
Povo sem memória é povo sem história!
Pelo o que se deu para observar parece só ter a fachada da casa e a parte de trás do seu interior foi demolida e feito estacionamento no seu interior.Coisa tipica que estão fazendo,desmanchando a parte do interior da residencia e só deixando a fachada intacta para despistar a fiscalização.Acontece muito assim em BH
O casarão da Rua Florêncio de Abreu 812 serviu de moradia e escritório, na parte alta e no térreo como armazém de peças para máquinas de fiação e tecelagem, até os anos 40. Daí em diante funcionou ali somente o escritório.
Trabalhei nessa firma durante muitos anos. Foi surpresa ver que a parte interna do prédio ruiu e, ainda mais, que em certas fotos nem os anjinhos da sacada estão mais lá.
De qualquer forma, foi bom rever esse lugar.
Douglas, o imóvel é tombado? Trabalho perto dele, há uns dias a Kallas colocou uma placa na fachada. E já avisaram os vizinhos sobre a futura construção, ainda não sei o que será feito. Abs
Eu vi a placa e estou apurando. Mas adianto que apenas a fachada é tombada e é bem possível que seja construído algo no fundo, similar ao hotel da Rua Araújo.
infelizmente a fachada começou a ser demolida hoje
Hoje, 11/03/2020 foi demolida essa fachada. Lamentável.
porque demoliu a fachada linda ?
como estava em 01/23: https://maps.app.goo.gl/DvnbmzondLEs8v9d7