Sempre que andamos pelo interior é comum vermos o nosso patrimônio ferroviário abandonado e dilapidado, isso quando já não foi demolido. O transporte por trens, outrora tão importante meio para o desenvolvimento de nosso pujante Estado, atualmente sofre com o descaso. Porém, às vezes esbarramos com verdadeiros milagres, que nos dão alguma esperança de melhores tratamentos com nossa memória.
Este é o caso da estação de Louveira, cidade próxima a Jundiaí. Até pouco tempo atrás, tinha sua estação ferroviária mal cuidada, subutilizada e dilapidada. No entanto, veremos a seguir a sua restauração!
A estação de Louveira nasce no ano de 1872, junto aos trilhos da Cia Paulista de Estradas de Ferro, em um distrito afastado de Jundiaí, levando o nome do córrego em sua proximidade, “Capivary”. Não demora muito, é necessária a troca deste nome para que não houvesse confusão com a estação na já formada cidade de Capivary (hoje Capiravi) , na linha da Companhia Ituana, próxima a Piracicaba.
O nome recebido, segundo os historiadores locais, teria sido em função de uma árvore comum da região, a louveira.
Em 1890, é feita a primeira reforma na estação, para que pudesse abrigar também a plataforma da recém-inaugurada Cia Carris de Ferro Itatibense, ferrovia idealizada por cafeicultores de Itatiba, para que sua produção de café fosse escoada até os trilhos da Paulista e daí seguisse para o porto de Santos.
A duplicação da via férrea entre Jundiaí e Campinas obriga a Paulista a uma nova reforma na estação, que recebe um prédio totalmente novo em 1915, dotado de uma extensa cobertura metálica sobre as plataformas de embarque. Este é o prédio que ainda esta lá, e que felizmente, não corre mais o risco de cair.
No meio dos anos 50 ela deixa de servir à Itatibense, com o fechamento desta ferrovia, e desde os anos 70 estava fechada como estação, porém ainda utilizada como parada para os trens de passageiros. No ano de 1997 ela vê o ultimo trem de passageiros passar por sua plataforma. Atualmente, apenas poucos trens de carga passam por ela, poucas vezes na semana.

A estação nos anos 1990 (foto de Vanderlei Zago)
A bela estação amargurou por anos de maus tratos e manutenção quase inexistente. Por um período serviu de sede da guarda metropolitana, e isso manteve o prédio com o mínimo de manutenção para que simplesmente não desabasse.
No entanto, às vésperas do prédio atual completar 100 anos, em 2015 , por iniciativa da Prefeitura do Município iniciou-se o restauro. Não simplesmente uma reforma, mas sim um restauro completo e com critérios.
Uma pesquisa histórica foi desenvolvida e uma empresa especializada fora contratada para o serviço. Por ser um bem tombado pelo CONDEPHAAT como patrimônio histórico, toda a reforma fora supervisionada pelo órgão.
Prospecções foram executadas em todas as partes da estação, para que suas cores originais fossem recuperadas. Estas prospecções estão expostas protegidas por vidros, demonstrando a preocupação em contar ao publico a história do prédio, e o carinho com qual foi tratado.
Foram descobertas diversas pinturas decorativas antigas nas paredes, tal como o roda teto original, partes do antigo piso, e na parte externa, os diferentes tons dos tijolos, demonstrando a época em que a estação ainda estava com acabamento de tijolos à vista.
Externamente, a estação é decorada até meia altura com ladrilhos de cor caramelo, que estavam bastante deteriorados, com muitos já caídos e quebrados.
Foi encontrado um artesão do Espirito Santo que conseguiu entender a técnica utilizada há mais de cem anos, reproduzindo-a em uma queima correta com um barro muito próximo ao original, refazendo um total de aproximadamente 30% de todos os ladrilhos.
Internamente, algumas salas eram azulejadas, e da mesma forma como os ladrilhos externos, muitos haviam se perdido com o tempo. Uma técnica parecida foi adotada, para que novos e idênticos azulejos fossem fabricados e instalados nos seus devidos lugares.
Toda a estrutura do telhado da cobertura metálica das plataformas foi limpo, tratado e pintado, e as enormes telhas de zinco foram, uma a uma, retiradas, lixadas, tratadas e pintadas, retornando ao exato lugar de onde haviam saído.
A cobertura, depois de pronta recebeu uma incrível iluminação de led moderna, para que fique evidente todo o trabalho empregado, e toda a beleza do conjunto.
A cabine de chaves (antigo sistema de automatização dos desvios e sinais do pátio de manobras) também teve atenção especial.
Com base de alvenaria e construída em madeira, estava prestes a cair, hoje totalmente revitalizada após restauro, nem de longe lembra aquele edifício sem vida, com risco de arder em chamas a qualquer momento, por um andarilho que quisesse ali dentro se proteger do frio com uma fogueira descontrolada.
Abaixo o resultado de antes e depois da cabine:
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Estes são alguns exemplos de vulto de todos os belos serviços que foram executados na estação. A finalização da obra tornou incrível a estação, trazendo ela novamente a sua forma, assim como em sua inauguração em 1915. A população e os turistas ganharam, então, um novo espaço de lazer e cultura. Espaços com loja de artesanato, restaurantes e até mesmo uma antiga locomotiva a vapor, que ficará exposta em memória aos áureos tempos da ferrovia ainda serão atrações que complementarão o projeto em breve.
Para aqueles que fazem o belo passeio do Expresso Turístico da CPTM com destino a Jundiaí, é possível comprar um dos vários pacotes que contemplam a cidade de Louveira como destino final, seja no circuito das frutas, imigração italiana ou fazendas de café.
A Prefeitura ainda manifesta a vontade de continuar os investimentos no belo complexo ferroviário de Louveira, dando continuidade futuramente em programar possíveis novos projetos, como restaurar a vila ferroviária e até mesmo a antiga subestação elétrica “Francisco de Monlevade”, a primeira construída pela Cia Paulista em 1921, para alimentar suas possantes locomotivas elétricas.
Fica aqui o nosso parabéns a essa bela iniciativa que manteve a dignidade de nossa história, e manteve de forma caprichosa em pé mais uma de nossas belas estações de trem.
Veja mais fotos pós restauro (clique para ampliar):
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