Localizado na Avenida Paulista, um dos mais importantes e famosos endereços da capital, o Edifício Dumont-Adams é um patrimônio paulistano que há anos esteve desocupado e agora encontra-se em um longo e tortuoso caminho de reforma cuja conclusão está prevista para este ano de 2024. Vamos conhecer um pouco de sua história ?
Projetado e construído no início da década de 1950 pelo engenheiro Plínio de Oliveira Adams*¹, foi inaugurado em 1958 e consistia originalmente em uma edificação com 10 andares e era de uso estritamente residencial.
O nome do edifício, Dumont-Adams, celebra a união de duas famílias da elite paulistana: Os Adams, representado por Plínio, e a de sua esposa Adélia Santos Dumont, a mesma do aviador brasileiro Alberto Santos Dumont.
O prédio nunca teve seus apartamentos colocados à venda, sendo sempre disponibilizados para locação, servindo como fonte de renda para a família Dumont-Adams. Dessa maneira o prédio permaneceu até meados dos anos 1990, quando começou lentamente a ser desocupado, não entrando novos moradores à medida que os antigos deixavam o local.
Nos primeiros anos do século 21 a família decidiu desfazer-se da propriedade, vendendo o edifício para empresa de telefonia Vivo. A partir da aquisição a empresa fechou um acordo com o Museu de Arte de São Paulo (MASP), para ceder o uso do prédio para o que quisesse desde que a empresa pudesse explorar a publicidade externa. Surgia o projeto da Torre MASP-Vivo.
O então presidente do MASP, Júlio Neves, propôs uma completa reformulação do edifício transformando o Dumont-Adams em uma moderna torre de vidros espelhados com 110 metros de altura. O projeto foi levado para apreciação do CONPRESP que deu parecer técnico desfavorável à obra.
Abaixo fotos do edifício quando ainda se encontrava em situação de abandono, em 2008 (clique na foto para ampliar).
Apesar disso o parecer foi desrespeitado e deram início às obras que desfigurou o edifício por completo. A novidade não foi bem recebida pelos paulistanos e também por defensores do patrimônio histórico municipal, que viam no projeto uma desrespeitosa descaracterização do projeto original da construção.
Porém o que causaria a paralisação da polêmica obra não seria a disputa em torno do patrimônio, mas a Lei Cidade Limpa que inviabilizou o envelopamento do prédio com publicidade, deixando de ser interessante para a empresa de telefonia. A partir deste momento o edifício parcialmente desfigurado passou a ficar em situação de quase abandono.
As fotografias abaixo mostram o antigo Edifício Dumont-Adams em obras para abrigar a sua nova configuração como anexo do Museu de Arte de São Paulo (MASP):
MASP EM EXPANSÃO:
Depois de todo o impasse da crise com a empresa Vivo, o MASP anunciou em 2019 o projeto MASP em Expansão, que consiste na conclusão das obras do “novo edifício”. A aspas na frase anterior se dá para o fato de que, na verdade, não trata-se de um novo prédio mas de um já existente que foi totalmente desfigurado de sua arquitetura original e ampliado. Em essência os dez primeiros andares são o velho Dumont-Adams.
O prédio aumentará os espaços expositivos e de multiuso do museu, com estrutura apropriada para as mostras, os programas educativos e os serviços de restauro de obras, possibilitando ao público maior acesso à cultura.
Nas duas imagens abaixo (clique para ampliar) uma perspectiva em computação gráfica onde é possível conferir como ficará o prédio e o MASP após a conclusão das obras, bem como a ligação subterrânea.
Com previsão de entrega para 2024, o “prédio Pietro” irá contemplar 14 andares. Estes serão ocupados por cinco galerias expositivas e duas galerias multiuso. O edifício também abrigará restaurante, bilheteria, loja, salas de aula e laboratório de restauro. Ao final da reforma, a área total do MASP será de 17.680 m² (hoje, são 10.485 m²). Além de aumentar o espaço físico, a nova construção vai ampliar aquilo que o MASP é e já representa nacional e internacionalmente.
OPINIÃO: APAGAMENTO DA MEMÓRIA:
De toda a novela que se transformou o caso do velho edifício com o Museu de Arte de São Paulo, o que me causa realmente desconforto e ojeriza não é o caso com a Vivo ou mesmo a demora para a conclusão das obras, algo que já parece corriqueiro no Brasil quando se trata de investimento em cultura.
O mais absurdo é a mudança do nome do edifício de Dumont-Adams para outro, ao menos provisoriamente sendo chamado de “Prédio Pietro”, nome que já na pronúncia soa estranho. Claro, sabemos que trata-se de uma homenagem a Pietro Maria Bardi, que junto com Assis Chateubriand foi responsável por fazer o MASP ser uma realidade.
Contudo causa estranheza esse apagamento da memória da avenida Paulista que está sendo proporcionado diante de nossos olhos ao remover o nome original do edifício. O fato fica ainda mais incômodo e deselegante quando lembramos que tal ato está sendo praticado por um museu, justamente de onde mais esperamos a defesa e a preservação da memória.
A desculpa de que é um novo prédio é rasa. É sabido que o ocorrido ali foi uma reforma e uma expansão de um prédio que já existia. Por mais que seja transformado continuará sendo na essência o Dumont-Adams.
Fica a pergunta: Será que preservaram os dizeres com o nome do edifício que ficava sobre o pórtico de entrada? Haverá uma área no museu explicando sobre o “antigo” Dumont-Adams? Essas perguntas só teremos resposta quando o novo espaço ser inaugurado. E temo que já sabemos a provável resposta.
Nota:
*1 – Plínio de Oliveira Adams, responsável pelo projeto arquitetônico do edifício Dumont-Adams, formou-se em engenharia pela Escola Politécnica de São Paulo e teve boa parte de sua carreira desempenhada no setor agrícola, sendo inclusive membro diretivo da Sociedade Rural Brasileira. No setor financeiro foi presidente por anos do Banco de S.Paulo S/A (não confundir com BANESPA). Faleceu em 17 de fevereiro de 1966 e está sepultado no Cemitério da Consolação.
CURIOSIDADE:
Abaixo está publicada a relação de todos os números de telefone existentes nos apartamentos do Edifício Dumont-Adams no ano de 1961. Dos 10 andares do prédio à época 9 deles já possuíam linha telefônica. É possível observar que Plínio de Oliveira Adams residia no décimo andar e seu número está no final da lista.