Um prédio sempre chamou a atenção dos moradores e frequentadores do bairro de Planalto Paulista nem tanto pelo seu estilo, mas sim pela curiosa abóbada bem no centro da construção: um observatório com a característica porta corrediça, que permite a passagem de uma grande luneta para observar os astros distantes…
Estávamos em 1947 quando foi inaugurado na ainda distante Avenida Indianópolis, 1.706 o prédio industrial que passaria a ser a sede da D.F Vasconcellos S.A. Óptica e Mecânica de Alta Precisão.
A D.F. Vasconcellos foi fruto da tenacidade de um jovem santista chamado Décio Fernandes de Vasconcellos que, desde cedo, se interessava por tecnologia e que, em 1940, por volta dos 30 anos de idade, escreveu ao Presidente da República de então se propondo a fabricar um instrumento de observação – telêmetro de depressão – para a Marinha usar nas unidades de artilharia de costa. Chamado pelo Ministro da Guerra para explicar seus planos, saiu da reunião com o apoio necessário para iniciar a fabricação de tal aparelho, antes importado, já no ano seguinte.

Tal foi o sucesso de sua empreitada que, em 1947, já estava instalada no icônico edifício do Planalto Paulista aquela que seria a pioneira e a mais conhecida indústria de precisão do Brasil.
Daí para frente a D.F.Vasconcellos ou simplesmente DFV, passou a ser conhecida como uma empresa dedicada a instrumentos de precisão, tais como binóculos, máquinas fotográficas, microscópios, teodolitos, lunetas e até brinquedos, se é que assim podemos chamar o Poliopticon, estojo com peças de encaixar, que possibilitavam a construção de diversos e diferentes instrumentos ópticos e que, sem dúvida, influenciou gerações de jovens brasileiros no desafio de descobrirem suas aptidões profissionais. Na década de 1950 passavam de oitenta os produtos fabricados pela DFV.

Mas não só os produtos ópticos eram apresentados nos catálogos da DFV, afinal, pistolas de pintura e até carburadores dos mais diferentes modelos eram fabricados sob licença da The Bendix Corporation fabricante dos famosos carburadores Zenith e Stromberg.
Esta atividade no setor de autopeças, inclusive, levou Décio F. Vasconcellos a ser diretor do Sindipeças em dois biênios.

A DFV atendia todo o mercado nacional. Para esta linha de produtos foi construída uma unidade na Avenida Interlagos, 665, que depois se transformou na Wecarbras S/A em referência à fabricante de carburadores Weber, também pertencente ao grupo Bendix. Em 1979 a DFV acabou vendendo esta divisão para a Weber, passando a se dedicar inteiramente ao setor de produtos ligados à óptica.
Quanto ao prédio da Avenida Indianópolis, este foi desativado pela DVF em 2010 e, desde que deixou a região, o imóvel encontra-se fechado apesar de ter sido comprado em 2011 pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo, o CRECI.
Na época do negócio, o plano era recuperar o edifício preservando as características originais da construção. O custo da reforma estava estimado inicialmente em R$ 8 milhões, incluindo aí a recuperação do observatório, com o objetivo de criar no local um centro cultural para estudantes.
Por ser um dos primeiros imóveis de cunho industrial de região do Planalto Paulista, se mantém a expectativa de que a antiga fábrica seja preservada como um patrimônio da região; afinal, nada foi feito até agora a não ser a colocação dos tapumes que cobrem toda a fachada.
Sem dúvida, seria um gesto nobre quando da reforma do prédio a manutenção do letreiro “D. F. Vasconcellos”, que existe sobre a porta principal do prédio; afinal, trata-se de uma referência e demonstraria a sensibilidade e responsabilidade históricas daqueles que, com tanto empenho, fazem a intermediação dos negócios imobiliários em nossa cidade.

OBSERVAÇÕES:
– Décio F. Vasconcellos participou da diretoria do Sindipeças em 1964/66 e 1966/68
– Quanto à DF Vasconcellos, a empresa se mudou para Valença, no estado do Rio de Janeiro, onde continua com suas atividades fabricando aparelhos de absoluta precisão, como microscópios cirúrgicos e micro cirúrgicos, continuando sua saga pioneira na indústria de ponta no Brasil desde 1941.
CURIOSIDADES:
As câmeras fotográficas produzidas pela DF Vasconcellos são até hoje muito populares e procuradas por colecionadores em entusiastas da fotografia analógica, onde ainda se utiliza o bom e velho filme fotográfico.

Uma das câmeras era compacta Zina 25, muito apreciada para ensinar crianças e adolescentes ao mundo da fotografia (foto acima).
A outra era a Kapsa que pode ser vista abaixo em dois momentos, na linha de produção dentro da DFV e um raríssimo exemplar novo, jamais usado e ainda na sua embalagem original que pertence ao acervo do Instituto São Paulo Antiga.
Veja mais fotografias do local quando estava em situação de abandono (clique na miniatura para ampliar):
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
– Revista da Esso edição do 3º bimestre de 1957
– Gattás, Ramiz. A indústria automobilística e a 2ª. Revolução industrial no Brasil. Prelo Editora. 1981
– Blog Opaleiros Guararapes
– Blog Cola Fina e Casca Grossa
– O Estado de S. Paulo – acervo – diversas edições consultadas
– Catálogos da coleção José Vignoli
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