Na busca sobre a história de um prédio construído nos derradeiros anos do século 19 no bairro de Campos Elíseos, acabei por descobrir o histórico de uma importante escola paulistana, já extinta, cuja origem e trajetória é bastante interessante e mostra como nossa história passa pelos anos sem que as pessoas a conheçam. Mas antes de vocês verem a foto do lugar, vamos “começar do começo” e contar a história do Colégio Azevedo Soares.

Anúncio do jornal Correio Paulistano, em outubro de 1881
Joaquim José de Azevedo Soares, ou apenas Azevedo Soares como é mais conhecido, por ser nome de uma importante rua de São Paulo, fundou sua escola na cidade de Petrópolis no ano de 1880. Apesar de ser nascido na cidade de Maricá, também no Rio de Janeiro, foi lá em Petrópolis que começou sua carreira de professor, lecionando matemática no Colégio Kopke e foi onde também conheceu e casou-se com Cândida Borba.
O Colégio Azevedo soares é talvez o mais itinerante que já ouvi falar em nossa história. Isso porque pouco tempo depois de inaugurá-lo em Petrópolis, mudou-se para o Estado de São Paulo, precisamente para a cidade de Amparo em meados de 1881, como mostra a ilustração anterior. A instituição permaneceria naquela cidade do interior paulista até o final de 1885, quando no término do ano letivo faria uma nova mudança, agora (e definitivamente) para a capital paulista, mais precisamente na Rua da Glória, na Liberdade.
O anúncio abaixo, veiculado em fevereiro de 1886 no jornal Correio Paulistano, apresentava a escola aos paulistanos e também dava detalhes do método de ensino, valores das trimestralidades e também o vestuário e itens pessoais que os alunos precisavam levar (chamado de enxoval, o que caiu em desuso atualmente). Observem no anúncio que o bairro da Liberdade era chamado de “…um dos arrabaldes mais aprazíveis da capital…”.

Anúncio de 1886 – Correio Paulistano
O dom de lecionar de Azevedo Soares somado a uma cidade ainda carente de instituições de ensino, levou o Colégio Azevedo Soares a crescer rapidamente, fazendo com que as instalações da rua da Glória logo se mostrassem insuficientes. Foi assim que a escola mudou para seu quarto endereço, o segundo na capital paulista, para um belo e amplo casarão na rua Monsenhor Andrade, no bairro do Brás.
A litografia abaixo, é a única imagem conhecida deste imóvel que já não existe mais.
Considerando que o sistema de numeração de logradouros mudou nas primeiras décadas dos século 20, o número 38 da rua Monsenhor Andrade naquela época, compreende hoje a alguma área entre os fundos da Igreja Bom Jesus do Brás e a rua Sampaio Moreira, sendo que meu palpite vai para o trecho mais próxima a rua do Gasômetro.
Abaixo o anúncio da instituição já neste novo endereço:
Observem no anúncio acima a qualidade do professorado da instituição, com nomes que se consagrariam posteriormente na história paulistana, sendo inclusive atualmente nome de importantes vias de nossa cidade, como João Pedro da Veiga Filho e Emílio Rangel Pestana.
Apesar do tamanho do novo imóvel da escola, que era alugado, o Colégio Azevedo Soares acabou ficando somente um ano na rua Monsenhor Andrade, apenas durante 1887. Já no ano seguinte o colégio mudaria para seu quinto endereço, agora no bairro de Santa Ifigênia. A nova sede era também alugada e o imóvel pertencia ao Barão de Souza Queirós.
O informe abaixo publicado em janeiro de 1888 apresenta o novo endereço, além dos valores a serem pagos.
Neste seu primeiro ano no novo endereço, a escola recebeu a visita da imprensa em suas dependências internas pela primeira vez. O jornal Correio Paulistano descreveu o colégio da seguinte maneira:
Foi neste endereço que a escola mudaria de nome, desaparece o Colégio Azevedo Soares e surge o Ginásio Paulista (ou Gymnasio Paulista na grafia da época). A instituição recorreria a imprensa para comunicar a mudança em janeiro de 1890.
O Ginásio Paulista permaneceria neste endereço mais alguns anos. Em 1897 a “característica nômade” do colégio se revelaria mais uma vez, com a mudança para outro local, não muito distante deste da Senador Queirós, estabelecendo-se na Ladeira Porto Geral. No endereço, funcionava o Collegio Yvahy (do educador Joaquim Carlos) que fechou. É neste período que eles também optam por voltar ao nome tradicional, de Colégio Azevedo Soares.
Não foi possível obter informação precisa de quantos anos exatamente a instituição ficou neste endereço, mas foi entre algo entre três e cinco anos. Pois nos primeiros anos do século 20 o colégio já estava em seu novo e último endereço, na Alameda dos Bambus (atual Avenida Rio Branco), cujo imóvel existe até hoje e foi o ponto de partida desta pesquisa.
O anúncio abaixo mostra a nova sede no ano de 1902:
Ao chegar em sua nova sede, o Colégio Azevedo Soares reforçaria o caráter de vanguarda dos Campos Elíseos. A instituição foi a segunda a se estabelecer neste bairro, chegando depois apenas do Liceu Coração de Jesus. E ali permaneceriam até a instituição encerrar suas atividades aparentemente em meados da década de 40 (esta parte da pesquisa está ainda em andamento e atualizaremos o artigo assim que obtermos novos dados).
O fundador desta instituição de ensino, Joaquim José de Azevedo Soares faleceu em 29 de setembro de 1938. Sua esposa, Dona Cândida Borba de Azevedo Soares faleceria quatro anos mais tarde, em 1942.
O imóvel do Colégio Azevedo Soares hoje:
O imóvel, tombado como patrimônio histórico da cidade de São Paulo, é um dos mais antigos do bairro de Campos Elíseos. Embora não se tenha informações do que ele foi antes de ser o colégio, ele já estava lá nos últimos anos do século 19. É possível dizer que trata-se de um dos mais antigos imóveis do centro da capital paulista.
Intacto no piso superior, sua fachada foi alterada no piso térreo. As dez janelas que se estendiam pela Alameda Glete (veja a litografia um pouco mais acima para estabelecer o comparativo) foram retiradas e viraram 8 portas e dois vitrôs. Já na frente do imóvel, na Avenida Rio Branco todas as três portas originais e cinco janelas foram substituídas.
Por alguns anos este imóvel este em situação de penúria, pichado com vidros quebrados e com parte do telhado desabado. Felizmente ele foi completamente reformado e recuperou parte do vigor do passado. Agora, sempre que passo por ali faço questão de dar um viva a Joaquim José de Azevedo Soares, um dos grandes educadores de São Paulo.
ATUALIZAÇÃO – 18/02/2019:
O imóvel que abrigou o extinto Colégio Azevedo Soares atualmente encontra-se em obras e fara parte de um novo complexo hospitalar que está sendo construído no bairro de Campos Elíseos. Todos os imóveis vizinhos foram derrubados, sendo apenas este preservado.
À medida que tivermos mais novidades este artigo será novamente atualizado.
HISTÓRICO:
- 1880 – Colégio Azevedo Soares é fundado em Petrópolis (RJ)
- 1881 – Colégio muda para o município de Amparo (SP)
- 1886 – Colégio muda para a cidade de São Paulo, estabelecendo-se na rua da Glória, 28 e 30
- 1887 – Novo endereço na rua Monsenhor Andrade, 38 no Brás
- 1888 – Muda-se para novo endereço na rua Senador Queirós, 20 na Santa Ifigênia
- 1890 – O nome da instituição passa a ser Gymnasio Paulista
- 1897 – Muda-se para novo endereço na Ladeira Porto Geral, voltando-se a chamar Colégio Azevedo Soares
- 1902* – Transfere-se para seu novo e derradeiro endereço na Alameda dos Bambus, 44, atual Avenida Rio Branco em Campos Elíseos (*data estimada)
A importância da pesquisa:
Esta matéria é bastante longa, reconheço, mas mostra a importância da pesquisa em nosso cotidiano. Até este artigo ser escrito quase não existiam informações online sobre o colégio ou o que foi este imóvel da Avenida Rio Branco. Não fosse meu interesse em descobrir o que funcionou outrora neste prédio, eu talvez nada saberia sobre o Colégio Azevedo Soares. A curiosidade é saudável e mantém a história de um povo viva!
Não esqueça de deixar um comentário!
Comentarios