A gripe espanhola chegou ao Brasil de navio, em viajantes da Europa, e rapidamente se espalhou nos grandes centros e também no interior, trazendo mortes e um cenário catastrófico que acabou por levar até o Presidente da República a óbito.
Aqui em São Paulo os paulistanos daquela época acabam por conhecer a devastadora gripe espanhola através de grande crise que gerou desabastecimento, hospitais lotados, falta de coveiros, produção em massa de caixões e a morte de cidadãos de todas as camadas sociais.
Os jornais paulistanos publicaram recomendações à população, com dicas de como evitar aglomerações, deixar de ir às missas e noções de higiene.
Nos serviços públicos o caos surge pela grande demanda quase impossível de se atender para a produção de caixões, que devido ao volume e a necessidade de serem entregues com mais rapidez passam a ser produzidos mais simples, sem ornamentos e detalhes.
A empresa Casa Rodovalho responsável pelos carros fúnebres, produção de caixões e pelo serviço funerário paulistano em geral é umas das poucas a não conhecer crise, acabando por contratar mais pessoas para poder atender à demanda crescente de serviço.
Outra carência são os coveiros, que ao realizar sepultamentos de mortos por gripe espanhola acabam por se contaminar e adoecer, tendo que ser substituídos.
Entre os milhares de mortos da capital paulista, dois nomes bastante conhecidos surgem: o do jornalista José Maria Lisboa, fundador do jornal Diário Popular, e José Paulino Nogueira Filho diretor do Automóvel Club e filho de José Paulino, cafeicultor, empresário e presidente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, falecido três anos antes.
Se era grande o número de mortos era muito maior o total de adoecidos, deixando hospitais abarrotados de pessoas internadas o que levaria a criação de leitos provisórios, como o aberto pelo Club Athletico Paulistano.
Com um total estimado em 35 mil mortos em todo o país, acredita-se este número possa ter sido bem maior, já que a notificação de morte por gripe espanhola não era obrigatória e muitas pessoas que estavam hospitalizadas e possuíam doenças pré existentes tinham seus atestados de óbitos preenchidos com estas outras enfermidades como causa da morte, como tuberculose, pneumonia e cardiopatias.
Com o abastecimento de alimentos comprometido e o fechamento de postos de trabalho por conta da epidemia muitos paulistanos de origem mais pobre, tinham dificuldade de se alimentar o que levou a criação de locais para distribuição de alimentos.
Junto a agentes públicos e membros da Cruz Vermelha, funcionários de empresas paulistanas se voluntariaram para ajudar na distribuição de comida aos mais pobres.
A foto abaixo mostra um dos postos da Cruz Vermelha em São Paulo, localizado na Rua Direita, onde voluntários do Mappin Stores e oficiais distribuem itens de primeira necessidade aos carentes:
A epidemia de gripe espanhola não só em São Paulo como em todo o Brasil foi rápida e avassaladora, mas de curta duração. Foram tantas as pessoas infectadas entre os meses de setembro a novembro, que em dezembro já não havia quase pessoas para o vírus poder atacar.
Estima-se que em na Cidade de São Paulo cerca de 350 mil pessoas foram infectadas pela Gripe Espanhola, um número assustador que corresponde a dois terços da população paulistana de 1918.
Anos mais tarde, precisamente em 1945, outro surto de gripe viria a atingir São Paulo e o Brasil, causando pânico mas sem grandes proporções.
Abaixo, veja mais imagens da epidemia de Gripe Espanhola na capital paulista em 1918:
Bibliografia consultada:
. Correio Paulistano – Edição 19872 – 31/10/1918 pp 2 e 3
. Correio Paulistano – Edição 19911 – 08/12/1918 pp 5
. A Vida Moderna – Edição 347 – Ano 1918 pp 10, 12, 13, 19, 20 e 26
. A Vida Moderna – Edição 348 – Ano 1918 pp 25
. A Ilustração de S. Paulo – Edição de Abril de 1919 pp 20
Respostas de 11
Minha bisnona materna, morreu vitima da gripe espanhola
A minha sobreviveu, mas contava sobre corpos sendo recolhidos nas ruas. Moravam todo num cortiço no Alto do Pari, Pai, mãe e filhos pequenos. Pena não estarem mais por aqui pra que eu pergunte como sobreviveram.
Ótimo texto.
Anália Franco também faleceu devido à Gripe Espanhola.
Meu bisavô paterno faleceu vitima da gripe Espanhola, senão me falha a memória com 35 anos.
…/… grato pelo registro oportuno pelo momento que vivemos !
Excelente trabalho!
Mais um texto excelente! Parabéns! Interessante notar as semelhanças entre a Gripe Espanhola e o Covid 19…
Minha bisavó falava muito dessa epidemia . Em 1918 , ela tinha 16 anos e morava no litoral do Paraná .
Adoro ver a história real retirada em fotos de época antigas,principalmente uma história tão palpável,principalmente,que sou da área da saúde,trabalho no hospital das Clínicas da UFBA,aqui na Bahia e já contei Covid e vi colegas meus perdendo a vida na linha de frente!!!
Meus avós vivenciaram e contavam exatamente isso que está reportado em sua matéria. Agora tive oportunidade de ver realmente os fatos . Bela materia, grata .