Tenho muito apreço pelo bairro da Vila Esperança. Quando nasci, em 1974, após sair da então Maternidade São José do Belém foi ali que fui morar, em uma pequena casa alugada pelos meus pais na rua Heloisa Camargo. Poucos anos mais tarde, em meados de 1978, meus pais compraram uma casa em São Miguel Paulista e deixei o bairro, mas o bairro jamais saiu de mim.
Foi ali que dei meus primeiros passos, conheci meus primeiros coleguinhas e tive meus primeiros brinquedos. Também foi por ali que tomei minhas primeiras vacinas, em um posto de saúde que existia na esquina das ruas Gilda e Heloisa Penteado.
Também pedalei muito por ali, já que passava os finais de semana na casa da minha avó, na vizinha Vila Granada e por fim, fiz o colegial não longe dali na Escola Gabriel Ortiz.
Por isso a relação forte com o bairro me deixa bastante triste quando vejo imagens como essa a seguir:
Certo dia desses estava indo visitar um grande amigo de infância quando descia a rua Isabel. Esta via de mão única liga a Avenida Amador Bueno da Veiga até as proximidades da igreja Nossa Senhora da Esperança. Foi já chegando justamente esquina com a rua Heloisa Camargo que me deparei com a casa acima e sua vizinha em estado de demolição parcial.
As residências do número 469 e 471 são das mais antigas da rua e estavam em bom estado até aproximadamente um ano atrás (caso da mostrada na fotografia acima) e um pouco mais na outra. Foi um choque encontrá-las assim, mas há alguns ela estava bem diferente:

A casa em janeiro de 2010, bem diferente de hoje
Tratava-se de uma adorável residência térrea, cuja casa principal era essa na frente e ainda uma menor aos fundos, acessível pelo portão no lado direito da imagem acima. A beleza da casa não se limitava a pouco usual fachada de azulejos coloridos azuis e marrons, mas também nos detalhes do frontão decorado com dois murais de azulejos, um sobre a janela e outro sobre a porta de entrada, feitos por um artista – já falecido – que era bem conhecido no bairro do Tatuapé*¹.
O charmoso piso de caquinhos vermelhos também estava por lá. Ele cobria todo o chão de entrada, os beirais da casa e ao redor do pequeno jardim e também os muros da residência. Os portões, pintados de branco, combinavam com o gradil diante da janela e também da porta.
Hoje pouco resta daquela casa antiga. Telhado, estruturas e quase todas as paredes foram derrubadas, enquanto outras caíram com a ação do tempo. Do mural de azulejos só um sobrevive intacto, enquanto o outro já está impossível de se reconhecer. No lugar do pequeno jardim uma pilha de lixo e entulho.
É triste vê-la neste estado de avançada deterioração. A casa que por anos e anos foi lar de uma família hoje são apenas paredes a espera do seu derradeiro fim, quando juntamente com a residência vizinha (foto abaixo) irá dar lugar para um edifício, ou aqueles conjuntos de sobradinhos apertados e claustrofóbicos que tem se espalhado pelas ruas da zona leste de São Paulo.
A cada dia que passa a esperança por uma cidade mais harmoniosa vai ficando cada vez mais distante, à medida que a especulação devora cada palmo de terreno disponível nesta cidade, sem se preocupar com nada além do que o lucro das grandes incorporadoras e construtoras.
Veja mais fotos (clique na foto para ampliar):
*1 – Elyan (ou Elvan) era o nome de um (uma?) artista plástico(a) cujo trabalho é visto com bastante frequência em casas antigas da zona leste de São Paulo, especialmente Penha, Tatuapé, Água Rasa e Belenzinho, além de azulejos artísticos no Cemitério da Quarta Parada. Seu ateliê ficava em uma casa na rua Jarinu, mais ou menos onde hoje se encontra o Shopping Metrô Tatuapé. Qualquer informação é bem vinda!
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