Casarão tombado que abrigou batalhão corre risco de desabamento

Existe um antigo ditado, bastante conhecido, que diz: “casa de ferreiro, espeto de pau”. Essa máxima é ótima para demonstrar o quanto nossos governantes não enxergam o próprio pé quando o assunto é a preservação do patrimônio histórico.

Hoje relataremos aqui o caso, ou melhor, o descaso, que atinge dois imóveis centenários localizados nos números 1294 e 1312 da Avenida Rio Branco, no bairro paulistano de Campos Elíseos.

Os casarões da Avenida Rio Branco 1294 e 1312 (clique na foto para ampliar)

Ambas as construções são tombadas pelo patrimônio histórico estadual – Condephaat – e estão largadas à própria sorte, aguardando um trágico desabamento que quando ocorrer não só irá colocar abaixo parte da história paulistana, quanto poderá causar vítimas que por ventura estiverem passando por ali.

O local até algum tempo atrás abrigou o 13º BPM/M e até estava em um estado satisfatório de conservação, entretanto há pouco mais de um ano o local não só está completamente abandonado como parece estar sendo discretamente “deixado para cair”.

Se o objetivo é deixar que tudo venha abaixo, estão conseguindo (clique para ampliar)

De acordo com fontes do órgão estadual de preservação – que falaram conosco sob a condição de anonimato – a situação já é conhecida por todos do alto escalão do Condephaat que vem minimizando o fato. Se esta denúncia não for real ela, no mínimo, faz sentido, aja visto que já se vão meses de nossa primeira denúncia ainda em 2019 e quase três meses da mais recente feita em abril deste ano.

Em meados de 2019, ocasião de nossa primeira denúncia, o dano estrutural era relativamente menor como poder ser observado pela foto abaixo. Se providências tivesse sido tomadas naquele momento, não estaria como vemos hoje com alto risco de desabamento.

O dano em 2019 era menor e o forro interno ainda não havia desabado (clique para ampliar)

Na resposta que recebemos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo em 14 de abril de 2020, foi dito em um e-mail – não assinado por ninguém diga-se de passagem – que o caso já era conhecido e estaria sendo acompanhando pela UPPH (Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico) e que a Polícia Militar estaria abrindo processo de licitação para restauro da obra.

A resposta ainda mencionou que o caso estava em andamento pelo processo 76783/2016. Questionamos que processo seria esse e que nos encaminhasse o mesmo para análise e quase dois meses depois não obtivemos – até o presente momento – qualquer resposta.

Telhado ? Só resta o madeiramento podre (clique para ampliar)

RISCO DE ACIDENTES E ATÉ DE MORTE PARA PEDESTRES

A reportagem do Instituto São Paulo Antiga ficou no local por cerca de 1 hora nesta segunda-feira, 8 de junho de 2020, observando a situação de pedestres que por ali transitam e o risco de uma tragédia é grande.

Há vários tijolos soltos na estrutura e que podem a qualquer momento se desprender e cai sobre a cabeça de alguém. Notamos, como mostra a foto a seguir, que as pessoas com medo de se ferirem acabam por caminhar na pista da Avenida Rio Branco, correndo risco de serem atropeladas.

Devido ao entulho, pedestres se aventuram na pista (clique na foto para ampliar)

NEGLIGÊNCIA DO GOVERNO E MINISTÉRIO PÚBLICO

A evidente negligência do governo estadual tanto quanto a nível de secretarias como do poder executivo é evidente e não se traduz apenas a este bem histórico.

Dentro do campo vermelho é a área mais sensível do casarão (clique para ampliar)

No Parque d. Pedro II o antigo Batalhão de Guardas segue sem qualquer notícia de restauro e cada vez mais correndo o mesmo risco de um trágico fim. Em fevereiro deste ano ao menos uma parede daquele antigo quartel desabou, felizmente sem deixar vítimas.

O São Paulo Antiga irá procurar o Ministério Público Estadual para que alguma providência urgente seja tomada a respeito desses dois casarões da Avenida Rio Branco, antes que seja tarde demais.

Assista a seguir o vídeo que produzimos por ocasião de nossa visita ao local:

Caso ocorra alguma manifestação da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa, Polícia Militar ou Condephaat, este artigo será atualizado.

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11 respostas

  1. Por questões de’visibilidade’escreva para os jornais locais de SP das TVs como SPTV e BALANÇO GERAL e sugira reportagem sobre isso!

  2. Que horrível! Isto revela a desconsideração das autoridades. Há uns 30 anos atrás ainda se mostravam em estado satisfatório, pelo menos os dois imóveis da Rio Branco.

  3. BRASIL UM PAÍS SEM MEMÓRIA.
    A CADA DIA QUE PASSA NOSSA HISTÓRIA VAI PERDENDO UMA PÁGINA DO LIVRO DE SUA EXISTÊNCIA.
    PACIÊNCIA!

  4. Deixar as pessoas que passam por perto correrem esse risco é mais um crime que o estado comete.

    Se alguém morrer sabemos que dificilmente alguém será punido, pois quem julga os crimes do estado é o próprio estado.

    O estado tem inúmeros imóveis abandonados pela cidade, sendo que o preço por espaço em São Paulo está caríssimo devido à alta demanda habitacional. É também um grande desperdício.

  5. É o famoso jogo de empurra-empurra entre Herodes e Pilatos para condenar o justo,próprio do nosso país…O faz de conta que nada acontece para dar o tiro de misericórdia papel da mais pura canalhice!!!

  6. É motivo de espanto a forma com que esse imóvel está desabando. As rachaduras e a forma como os tijolos estão se soltando indicam muito provavelmente um recalque do solo (E de forma bem acelerada, visto que o imóvel estava íntegro há algum tempo atrás), talvez essa seja a causa do esvaziamento do prédio. Os responsáveis deveriam é estar bem preocupados com isso, pois além de um possível desabamento total do imóvel sobre os veículos e pedestres, pode ocorrer o recalque da própria Avenida Rio Branco, causando ainda mais estragos.
    No mais, quando a gente se perguntar como belas construções como essa chegam a se tornar ruínas e desaparecem para sempre, podemos sempre lembrar desse caso. Uma construção que até poucos anos atrás estava bem conservada e agora caminha para a ruína a olhos vistos, sem que possamos fazer nada. Dá uma sensação muito ruim…

  7. E lembrar do tempo que quando eu passava de ônibus executivo de Campinas a São Paulo e vice-versa via essas casas em perfeito estado de conservação! Que decadência e que descaso!

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