Interessante este lugar que nem sempre é lembrado pelos paulistanos. São Paulo é uma das poucas metrópoles que tem conhecimento exato de onde nasceu.
O lugar hoje tem aquela construção “branquinha e lisinha”, uma réplica do que foi a construção original que já causou muitos debates entre arquitetos, urbanistas, preservacionistas e historiadores quando da remodelação daquele espaço entre as décadas de 1950 e 1970.

Nossa intenção é dar uma rápida pincelada para que o leitor possa entender as transformações do lugar e também saber como que elas aconteceram, pois o que não faltaram são fatos e dados que merecem maior atenção dos estudiosos e dos alunos de arquitetura que tem a oportunidade de se debruçarem sobre o início da história da cidade.
A fundação de São Paulo se deu no lugar hoje chamado Pátio do Colégio em 1554 onde foi instalado o Real Colégio de Piratininga de São Paulo e uma pequena igreja pelos padres jesuítas, a igreja original, logo em 1556 foi substituída por outra que sobreviveu ao tempo da expulsão dos jesuítas de São Paulo em 1640 e que retornando à cidade em 1653 praticamente tiveram que reconstruí-la, considerando-se então esta reconstrução como a terceira igreja existente no mesmo lugar.

Ao lado da igreja, foram sendo construídos anexos e assim foi se formando um conjunto único de feições coloniais numa construção de taipa e pilão, típico método construtivo da época.
Já em 1759 os jesuítas são expulsos do Brasil e o prédio passou a ser utilizado para abrigar os governadores da província de São Paulo lembrando que em todo este período diversas reformas foram sendo executadas para adaptar o prédio as suas funções de repartição pública e residência do governador.
Foi no curto governo de Florêncio de Abreu que governou entre abril e novembro de 1881, que o prédio passou por sua mais importante reforma passando de seu estilo colonial para algo com feições europeias e causando polemica já na época. Tais mudanças são atribuídas ao engenheiro francês Eusébio Stevaux.
Em 1885 foi proposta a adição de um pórtico com quatro colunas e em 1886 foi dada como concluída a obra que ao lado continuava a ter a igreja e a torre datadas de 1653, porém em mau estado de conservação o que faria com que se deteriorasse pouco a pouco.
Nas imagens acima a igreja em março de 1896 (clique para ampliar)
O ponto culminante deste abandono aconteceu na noite de 13 de março de 1896 quando durante forte chuva o teto e parte do templo desabaram. Já no ano seguinte com a demolição dos escombros do desabamento, iniciou-se a construção de um torreão projetado por Ramos de Azevedo que eliminou qualquer traço colonial no conjunto de prédios que se formou.

Em 1907 no governo Jorge Tibiriçá cogitou-se demolir todo o conjunto e construir algo novo, porém isso não aconteceu. Com a compra do Palácio dos Campos Elíseos com a finalidade se vir a de tornar sede do governo em 1912, o antigo palácio passou a servir para despachos e recepções.
Passando a abrigar diferentes órgãos governamentais, o prédio em 1932, era a sede da Secretaria da Educação e Saúde Pública que lá permaneceu até a desativação do conjunto cujo terreno foi devolvido para a os jesuítas através da Lei Estadual 4.396 de 24 junho de 1953.
Inicia-se aí mais uma polêmica, pois o prédio – segundo consta, em mau estado de conservação – começa a ser demolido para que em seu lugar surja um novo conjunto arquitetônico apresentado pelos arquitetos Carlos Alberto Gomes Cardin Filho e Luciano Otávio Gomes Cardin.
Durante a demolição muita coisa foi perdida, mas uma grossa parede de taipa foi descoberta (foto abaixo) acreditando-se ser a mais antiga relíquia arquitetônica de São Paulo e que foi preservada.
O plano era bem audacioso com a construção de um prédio de 20 andares ao lado de uma réplica do que teria sido a igreja e o colégio originais tendo-se como referencia as gravuras da época colonial.
No lugar onde permanecem hoje os dois prédios das antigas Tesouraria da Fazenda*¹ e Secretaria da Agricultura*² existiria um grande espaço livre e outro edifício completamente novo. Felizmente somente parte deste projeto foi levado à diante e estes dois prédios sobreviveram.
Finalmente em 9 de junho de 1970 é colocada pelo então prefeito Paulo Maluf a pedra fundamental do que se vê hoje, uma réplica de gosto discutível, feita em concreto, com telhado perfeitamente alinhado e paredes absolutamente lisas o que contrasta e muito com as construções coloniais.
As obras foram iniciadas na gestão do então prefeito Miguel Colassuono que inclusive transferiu recursos (Lei 8.089 de 8 de agosto de 1974) para a Sociedade Brasileira de Educação (Companhia de Jesus) executar as obras que ficaram a cargo da Construtora Adolpho Lindenberg.
Apesar de um pedido de tombamento da área por parte do CONDEPHAAT em 1975 as obras não foram descontinuadas. O entorno foi um projeto do escritório de arquitetura Jorge Wilheim e as obras foram iniciadas em janeiro de 1976 na administração do prefeito Olavo Setúbal.
Notas:
*1 – Projeto de Ramos de Azevedo – 1891
*2 – Projeto de Ramos de Azevedo – 1896
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