Presente em todas as repartições públicas, documentos municipais e na lateral de todos os ônibus que circulam na capital, o brasão de armas paulistano parece ser um símbolo quase tão antigo quanto a fundação da cidade, entretanto ele é bem mais novo e acaba de completar um século.
Em 1915, diferente de muitas outras capitais brasileiras, São Paulo ainda não possuía um brasão de armas. Mesmo tendo então passados 361 anos da fundação da cidade, até aquele momento nenhuma autoridade havia pensado em desenvolver um símbolo municipal. Foi neste momento que a Prefeitura de São Paulo decidiu criar um concurso público para escolher qual seria, em breve, o brasão de armas paulistano.
Em 3 de daquele mesmo ano, após a publicação no Diário Oficial do município, um grande número de especialistas em heráldica, ilustradores, historiadores e até poetas começaram a elaborar seus projetos para o símbolo da cidade. A adesão a campanha foi grande e logo a prefeitura resolveu tornar os desenhos públicos. Eles foram expostos em um salão de um edifício na rua Líbero Badaró.
Abaixo, uma montagem com os principais desenhos que participaram do concurso:
Nota: Imagens abaixo veiculadas original no jornal O Estado de S.Paulo no decorrer do ano de 1916 (ver bibliografia no final deste artigo).
Os desenhos eram bastante variados entre si e foram pensados a partir dos mais diferentes motivos imaginados pelos seus criadores, a partir das regras estabelecidas pela organização do concurso. Os ramos de café eram adotados em boa parte dos símbolos.
Entre todos os participantes, seria agraciado o projeto número 7, de autoria da dupla José Wasth Rodrigues e do poeta Guilherme de Almeida. Enquanto o artista plástico foi responsável pela ilustração, o poeta foi o autor do famoso lema em latim “Non Ducor Duco” cujo significado em português é “Não Sou Conduzido, Conduzo”.

O projeto número 7 – Vencedor do concurso
Após a escolha do trabalho da dupla Guilherme de Almeida e José Wasth Rodrigues, entre 32 projetos finalistas, só faltava a oficialização do brasão pela prefeitura paulistana. Isso ocorreria em 8 de março de 1917, após a publicação do decreto no Diário Oficial e reproduzido pelos principais jornais da cidade, entre eles o Correio Paulistano (recorte abaixo).
Note que o artigo único do decreto detalha a ilustração presente no Brasão de Armas:
ERRO NO BRASÃO PASSOU BATIDO POR QUASE 60 ANOS:
Embora consolidado como símbolo da Cidade de São Paulo um erro de heráldica, que passou sem ser notado na época, poderia ter eliminado do concurso o projeto vencedor.
Entre as regras do concurso, estabelecia-se que os projetos deveriam estar em conformidade com as regras da heráldica e qualquer erro técnico neste quesito acarretaria na eliminação do trabalho.
Ocorre que as quatro torres presentes no símbolo não representam uma cidade pelas regras da heráldica, mas sim uma aldeia. O erro foi notado em 1974 pela Sociedade Brasileira de Heráldica, que enviou correspondência à Câmara Municipal de São Paulo alertando o erro e apontando a correção.
Pouco tempo depois, em 2 de outubro do mesmo ano, o então prefeito paulistano, Miguel Colassuono publicou decreto alterando o brasão de armas do município, sendo que a partir daquele momento passava a ser com “coroa mural de ouro, de oito torres, contendo cada torre três ameias, duas janelas e uma porta” no lugar de “mural d’ouro, de quatro torres, com três ameias e sua porta cada uma”.

A alteração do brasão em 1974
Desde então o brasão do município passou a ser como conhecemos hoje, cuja arte abre este artigo.
Observando os concorrentes acima, qual teria sido o seu escolhido caso o projeto de José Wasth e Guilherme de Almeida tivesse sido eliminado naquela época ?
Bibliografia:
A Cigarra – Ano 3 – Edição 63 (março 1917)
Correio Paulistano – Edições de 24/06/1916 e 08/03/1917;
O Estado de S.Paulo – Edições de 03/03/1916, 24/06/1916 e 16/02/1917;
Acervo Estadão – Datas consultadas 11/03/2017 12/03/2017 – Brasão de São Paulo completa 100 anos;
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