Em janeiro de 2007 passou a ver na capital paulista a Lei Cidade Limpa. Criada para regulamentar a publicidade urbana, conter a poluição urbana e regulamentar um setor que dava ares caóticos nas ruas paulistanas, a lei acabou sendo muito benéfica também para o patrimônio histórico municipal.
Muitas ruas e avenidas da cidade possuíam construções antigas cujas fachadas já eram desconhecidas dos paulistanos muitas vezes por décadas, escondidas por letreiros, faixas ou luminosos enormes e de gosto duvidoso.
Aos poucos essas fachadas foram sendo descobertas e em um primeiro momento recebendo pouca atenção principalmente dos comerciantes e empresários. Muitos deles acreditavam que a lei “não pegaria” porém o que aconteceu foi exatamente o contrário.
Com o tempo estes empresários enxergaram a necessidade de recuperarem suas fachadas antigas para deixarem seus estabelecimentos mais elegantes. O resultado foi uma profusão de fachadas antigas que outrora estavam desprezadas, restauradas.
Uma das vias que mais sentiu o benefício desta lei foi a Rua Santa Ifigênia. Aberta em 1809 e ligando o largo homônimo com a Avenida Duque de Caxias, a Santa Ifigênia possui uma série de construções históricas altas e baixas, a maioria delas tombadas.
Fizemos uma seleção de 9 belas fachadas da Rua Santa Ifigênia para você conhecer e também duas delas que merecem um restauro, veja:
Inaugurado em 1923, o Palacete Helvetia é um edifício de dois andares cuja arquitetura é uma das mais interessantes da rua. Atualmente, como a grande maioria de seus vizinhos, tem o seu térreo e salas ocupadas por lojas de artigos eletrônicos e de informática. Sua breve história e mais fotografias podem ser visto com detalhes neste artigo.
No número 247 e 251 também temos um pequeno edifício de dois andares cuja arquitetura e preservação merece destaque. Apesar da maior parte da área e sua entrada principal estarem na Rua dos Timbiras ele não poderia ficar de fora desta lista. No térreo funcionam várias lojas de eletrônicos enquanto nos andares superior há o Hotel Paulicéia.
Fugindo um pouco de nossa lista, observem o prédio laranja e branco à esquerda do Hotel Pauliceia. Aquele ali é o Palacete Tymbiras (sim, com y). Em breve falaremos dele por aqui.
Localizado no número 373 este sobrado construído nos primeiros anos do século 20 é um dos mais encantadores da Rua Santa Ifigênia. Ao lado dele há um edifício também muito interessante, o Palacete Lellis. Notem os traços de art noveau presentes na fachada e também no gradil da sacada.
O sobrado do início do século 20 localizado no número 485 é também um dos mais encantadores da Rua Santa Ifigênia. No passado sempre pintado de cores que não eram as ideais para esta elegante fachada, ultimamente vem recebendo bastante atenção de seus proprietários. No térreo funciona uma galeria com boxes de lojas de eletrônicos.
Este e outros edifícios que estamos mostrando a parte superior apenas você confere a fachada completa no final deste artigo.
Não pense que a fachada deste pequeno edifício de dois andares é mal cuidada, pelo contrário. Poucos dias depois de fotografar esta fachada para o artigo o prédio recebeu uma pintura nova e ficou ainda mais bonito (em breve substituiremos a foto pela nova). Está localizado no número 502 e abriga galeria de lojas e assistências técnicas.
Outro grande edifício desta via que passou por grandes transformações nos últimos anos é este, localizado no número 555. Até a metade dos anos 2000 o edifício abrigou o extinto Hotel Galeão. Com o encerramento do hotel passou alguns anos com a fachada bastante encardida e com a pintura já deteriorada.
Em 2013 o edifício sofreu uma grande transformação recebendo uma nova pintura, recuperação das janelas e venezianas e foi adaptado para receber salas comerciais. Enquanto no térreo funcionam as mais variadas lojas de eletrônicos, os andares superiores possuem oficinas, escritórios e lojas de assistência técnica.
Um dos nossos preferidos na Rua Santa Ifigênia é este lindo sobrado verde localizado no número 611. Apesar do andar térreo estar modernizado (foto disponível na galeria ao final do artigo), a fachada superior é impecavelmente preservada.
Destacamos nesta fachada a sacada com o gradil de ferro em art noveau e também o detalhe sob as janelas. Se repararem talvez tenha a mesma impressão que nós, que lembra uma galera ou outra embarcação fenícia com pessoas escondidas atrás de escudos. Pode ser pareidolia, mas foi a primeira coisa que nos veio à cabeça.
Com sua construção iniciando na Rua General Osório com uma pequena faixa construída na Rua Santa Ifigênia o edifício que no passado abrigou o extinto Hotel Aliança hoje serve de salas comerciais e apartamentos residenciais, enquanto o térreo obriga várias lojas de eletrônicos e de câmeras de vigilância. Sua fachada foi recuperada e pintada em 2015 e desde então apresenta-se sempre bem preservado.
Já nas proximidades com a Avenida Duque de Caxias, no número 727, este sobrado também se consagra com um dos destaque da rua dos eletrônicos. Ao menos desde 2011 seus proprietários mantém a fachada sempre impecável e limpa.
Ao menos desde 2014 as cores verde claro e vermelho são mantidas a cada nova pintura, sendo que anteriormente ao verde utilizavam a cor amarela. No térreo, que sempre é pintado de cor vermelha, funciona a loja JMC Material Elétrico e Iluminação.
EXEMPLOS QUE PODERIAM MELHORAR:
É claro que em meio a tantos ótimos exemplos de fachadas restauradas e preservadas existem aqueles que apesar do importante valor histórico seguem em mau estado de conservação.
Deixamos aqui dois exemplos de imóveis comerciais da Rua Santa Ifigênia onde seus proprietários (ou até inquilinos) poderiam dar uma atenção melhor, contribuindo para a valorização não só da quadra onde estão como também de seus próprios estabelecimentos.
Este armazém é um caso de processo inverso. Enquanto a grande maioria dos imóveis da Rua Santa Ifigênia se recuperaram nos últimos anos, este sofreu uma considerável degradação e apresenta-se apenas em regular estado de conservação.
O local que décadas atrás abrigou o tradicional armarinhos de Mario Silva Braga nos últimos tempos abrigou uma loja de eletrônicos. Em 2012 o estabelecimento fechou e ficou por cerca de um ano fechado, reabrindo em meados de 2013 para receber um estacionamento e também uma casa de lanches que opera na porta menor.
Aqui fica uma crítica ao segmento de estacionamentos: Reparem que estacionamentos na região central que ocupam construções antigas na maioria das vezes não gastam um centavo para a recuperação das fachadas. E se há um tipo de estabelecimento que dá lucro são eles, pois a grande rotatividade faz arrecadar um grande volume de dinheiro.
A prefeitura paulistana deveria dificultar a abertura de estacionamentos neste tipo de construção. Não acrescentam nada à municipalidade e isso quando não são irregulares ou clandestinos.
GALERIA – FACHADAS INTEIRAS (clique para ampliar):
CONCLUSÃO:
É evidente que nem todos os imóveis com fachadas recuperadas ou preservadas nesta rua do centro paulistano foram mencionadas neste texto. O critério adotado para este artigo foram imóveis que receberam intervenções recentes ou que mudaram drasticamente após a Lei Cidade Limpa.
Alguns bons exemplos ficaram de fora, como o belo Palacete Lellis ou mesmo o edifício do número 01 da Rua Santa Ifigênia. A ideia não foi mostrar tudo, mas bons exemplos que deveriam ser seguidos por outros empresários cidade afora.
Na preservação, todos ganham!
Respostas de 13
…/… excelente registro !
Ah… Não substitua aquela foto da fachada que foi pintada! Está muito bonita também desse jeito 😀
É uma pena que não seja possível ficar apreciando edifícios no centro da cidade (eu não consigo). Acho muita bagunça e perigoso :’/
A rua Santa Ifigênia deveria ser proibida à circulação de carros e virar calçadão.
Douglas, amei sua reportagem! Estou preparando um texto e fotos de uma visita minha à rua Santa Ifigênia. E senti que o pouco que eu percebi foi largamente pesquisado por vc. Parabéns! Aqueles prédios realmente estão bonitos e fazem a diferença na região e em meio ao comércio.
Lindo Artigo Douglas, a rua Santa Efigênia é uma das minhas preferidas em São Paulo. Obrigado pelo seu trabalho e por sua atenção com esta cidade que todos nós adoramos. Parabéns.
Belíssimo artigo. Uma pena que a Lei Cidade Limpa ande meio esquecida.
Contudo, eu penso que essa lei deveria estender-se contra os pixadores, na preservação de estátuas e monumentos, na manutenção de calçadas e sarjetas limpas e seguras, etc. E as praças, então? É só mato crescendo e a falta de lixeiras(já que os vândalos quebram tudo, especialmente nas madrugadas…).
Lei Cidade Limpa para combater a poluição visual e a degradação ambiental…Há muita degradação ambiental em São Paulo. Muito além de uma propaganda mais “ousada” de um estabelecimento.
A região central da cidade esconde verdadeiros tesouros arquitetônicos.
Belos exemplos, pena que aqui onde moro,em Itapira SP, estão seguindo o caminho inverso, esses dias passando pelo centro reparei que estão reformando um belo casarão antigo, e estão tirando todos os ornamentos de sua fachada, e provavelmente as janelas originais serão substituidas por blindex…uma pena que o povo daqui não dá valor algum pra esse tipo de imóvel.
Eu acho que, pelo fato do centro não ser tão visado assim para os especuladores imobiliários, ainda se preservam boa parte dessas construções antigas.
Talvez o motivo seja outro, o Centro de SP ainda era bastante cobiçado nos anos 60 e 70. Antes de o centro financeiro da cidade se deslocar para a Avenida Paulista, muita coisa veio abaixo para dar lugar a blocões.
Contudo, eu penso que essa lei deveria estender-se contra os pixadores, na preservação de estátuas e monumentos, na manutenção de calçadas e sarjetas limpas e seguras, etc. E as praças, então? É só mato crescendo e a falta de lixeiras(já que os vândalos quebram tudo, especialmente nas madrugadas…).
Lei Cidade Limpa para combater a poluição visual e a degradação ambiental…Há muita degradação ambiental em São Paulo. Muito além de uma propaganda mais “ousada” de um estabelecimento.