Casimiro de Abreu foi um dos grandes poetas brasileiros e que viveu muito pouco, vindo a falecer aos 21 anos de idade, vítima de tuberculose, em 1860.Sua obra, marcante, foi um dos expoentes da segunda geração do romantismo brasileiro.
E foi uma poesia dele de 1858, A Cabana, que me veio justamente a cabeça quando soube que uma das primeiras casas antigas que vi na vida, quando eu ainda era criança, na rua que homenageia o poeta, está sendo demolida.
Quando eu era garoto e ia visitar meus avós maternos, no Belenzinho, costumava acompanhar minha mãe pelas ruas da região. A caminhada sempre esticava até o Brás para comprar roupas para mim ou para comprar um delicioso folar português em uma antiga padaria da rua Carlos Botelho. E, sempre que passava pela rua Casimiro de Abreu, gostava de parar diante desta casa não para admirar o imóvel, mas sim para ficar olhando as duas estátuas de meninos que enfeitavam a bela escadaria da residência.
Estas estátuas, bastante peculiares, não só fazia esta casa se destacar das demais, como me fazia viajar nos meus pensamentos sobre quem morou (ou morava ainda) por ali. Talvez nesta época tenha nascido em mim o desejo de sempre querer descobrir a história das casas paulistanas, que décadas mais tarde originaria este trabalho que tanto me orgulho, o São Paulo Antiga.
Tão logo este site foi lançado, inclusive, este imóvel foi um dos primeiros a ser catalogado, até sem muitos detalhes, com imagens enviadas por um colega fotógrafo.
Alguns dias atrás um leitor entrou em contato comigo para dar a seguinte triste notícia: a residência do número 302 da Rua Casimiro de Abreu começara a ser demolido.
Apressadamente me dirigi ao local em um domingo cedo e me deparei com um cenário que eu nunca gostaria de ver:
Da velha casa de tantas boas memórias pouco restava. Todo o interior da residência, há anos largada, fora demolido já quase por completo. Pelos degraus da bela escadaria de mármore, que outrora foi tão branco como a neve, pedaços e mais mais pedaços de entulho.
Mas o que mais me entristeceu na cena triste do fim desta casa foi ver que uma das estátuas já não estava mais por ali. Foi removida junto com a balaustrada que ficava sob ela.
Me pergunto se ela foi removida com cuidado para ser revendida em alguma loja de materiais de demolição, ou se foi destruída sem propósito. A outra nos dois dias que visitei a casa ainda resistia bravamente.
Reconheço que é impossível preservar todas as construções antigas da cidade. Afinal o progresso é necessário, mesmo que triste e doloroso em muitos casos. Entretanto, penso que certos imóveis deveriam ser protegidos e impedidos de virem abaixo.
Casas como esta, que era a última a existir nesta rua, deveria ser tombada como patrimônio municipal. E isso independente de ser relevante sua arquitetura ou não.
Com o fim dela quem passar dentro em breve pela rua Casimiro de Abreu, sequer irá imaginar (salvo se já a conhecesse antes), que nesta rua um dia existiram casas, viveram famílias ou que crianças brincavam por ali. Ficará sempre a imagem de uma rua comercial frenética de dia e desértica a noite.
Tal qual a última casa da avenida São João, que abordei recentemente, esta deveria ter sido poupada. Mas não foi…
A critério de curiosidade em 1961 residia (ou trabalhava) neste imóvel uma pessoa chamada Helena Lobosque e o telefone, à época, era 93-5250. Se alguém tiver alguma informação adicional, entre em contato conosco ou deixe um comentário.
Veja mais fotos desta casa na galeria a seguir (clique na foto para ampliar):
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