Ah as ruas de São Paulo… se eu fosse um viajante do tempo vindo do passado possivelmente ficaria sem encontrar muitas das ruas de outrora. Nem é preciso falar do centro paulistano, cujas ruas sofrem mudanças há mais tempo, sendo que as mais notáveis foram durante a queda da monarquia. Vou focar apenas nas vias do bairro que será abordado neste texto, o Itaim Bibi.

Mapa do Itaim em 1930, a seta indica o local da casa
Aliás este Bibi já foi nome de rua neste bairro, e era um nome bem charmoso e representativo, porém alguém quis mudar para Rua Dr. Renato Paes de Barros. O “Seu” Bibi permaneceu homenageado, mas sem o apelido que tão lembra o bairro: Rua Leopoldo Couto Magalhães. E essa rua também tinha outro nome, sendo conhecida como Rua do Porto*¹.
E é nessa rua do Porto, opa desculpem, Leopoldo Couto de Magalhães, que morou aquela que possivelmente depois do próprio “Seu” Bibi, fora a moradora mais representativa do charmoso bairro paulistano do Itaim: Dona Guiomar da Conceição Schilaro.
Falecida em 2016, aos 98 anos de idade, Dona Guiomar como carinhosamente vou chamá-la, viveu por quase toda sua vida neste bairro. Ela chegou em 1925, ao sete anos de idade, junto com seus pais que compraram uma terreno na então Chácara Itahim de um dos proprietários, Arnaldo Couto de Magalhães.
E por toda sua vida ela morou no bairro, seja na Rua João Cacheira seu primeiro endereço, seja na Rua Bibi para onde mudou-se quando se casou e na Leopoldo Couto de Magalhães (foto abaixo), onde viveu até seus últimos dias.
Por toda a vida Dona Guiomar percorreu todos os cantos, ruas e esquinas do bairro em seus passeios e afazeres do dia a dia, fato que a tornou uma legítima “perita” na história do bairro, que viu desenvolver, crescer e prosperar.
Suas memórias foram perpetuadas no livro “O legado de um sonho”*² escrito em parceria com uma de suas filhas, Nereide Schilaro Santa Rosa, onde com um texto leve e carregado de lembranças e emoções seus dias pelo Itaim desde sua chegada ainda nas primeiras décadas do século 20.
Em fevereiro de 2011 tive a oportunidade de conhecer essa pessoa maravilhosa, que me presenteou com um exemplar de seu livro e me contou muitas histórias do bairro em uma tarde de café nesta mesma casa que reporto aqui.

A casa em construção no ano de 1953 (Acervo Dona Guiomar)
Depois de seu falecimento, sua filha ainda continuou morando na região por algum tempo. Residiam na casa ao lado, cujo lote era (ou talvez ainda seja) conjugado no fundo, dando através de uma casa acesso à outra. De acordo com o que apuramos sua filha, que é escritora, mudou-se para Orlando, nos Estados Unidos.
Anos depois a casa recebeu essa nova cor, amarela, que lhe deu nova vida e destaque em uma rua que é relativamente sem graça com um enorme hipermercado do outro lado da rua (antigo Mappin Itaim) e muitos edifícios sisudos.
Entretanto, no último final de semana, observamos que a casa e a sua “irmã” vizinha estão vazias e, para piorar, a casa de Dona Guiomar encontra-se destelhada. Será que estamos diante de uma reforma ou o fim desta casa tão cheia de alegria e história está chegando ao fim ? Acompanharei e trarei novidades à medida que elas forem surgindo.
Veja mais fotos da casa (clique para ampliar):
Notas:
*1 – O nome Rua do Porto se dava ao fato da mesma terminar então em um pequeno porto que havia às margens do Rio Pinheiros.
*2 – O legado de um sonho – O Itaim Bibi nas crônicas de Dona Giomar, Autoras: Guiomar da Conceição Schilaro e Nereide Schilaro Santa Rosa, Editora Duna Dueto (2010)
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