A casa de Dona Guiomar

Ah as ruas de São Paulo… se eu fosse um viajante do tempo vindo do passado possivelmente ficaria sem encontrar muitas das ruas de outrora. Nem é preciso falar do centro paulistano, cujas ruas sofrem mudanças há mais tempo, sendo que as mais notáveis foram durante a queda da monarquia. Vou focar apenas nas vias do bairro que será abordado neste texto, o Itaim Bibi.

Mapa do Itaim em 1930, a seta indica o local da casa

Aliás este Bibi já foi nome de rua neste bairro, e era um nome bem charmoso e representativo, porém alguém quis mudar para Rua Dr. Renato Paes de Barros. O “Seu” Bibi permaneceu homenageado, mas sem o apelido que tão lembra o bairro: Rua Leopoldo Couto Magalhães. E essa rua também tinha outro nome, sendo conhecida como Rua do Porto.

E é nessa rua do Porto, opa desculpem, Leopoldo Couto de Magalhães, que morou aquela que possivelmente depois do próprio “Seu” Bibi, fora a moradora mais representativa do charmoso bairro paulistano do Itaim: Dona Guiomar da Conceição Schilaro.

Dona Guiomar em 2011, quando me recebeu em sua casa, segurando a bandeira do Itaim Bibi.

Falecida em 2016, aos 98 anos de idade, Dona Guiomar como carinhosamente vou chamá-la, viveu por quase toda sua vida neste bairro. Ela chegou em 1925,  ao sete anos de idade, junto com seus pais que compraram uma terreno na então Chácara Itahim de um dos proprietários, Arnaldo Couto de Magalhães.

E por toda sua vida ela morou no bairro, seja na Rua João Cacheira seu primeiro endereço, seja na Rua Bibi para onde mudou-se quando se casou e na Leopoldo Couto de Magalhães (foto abaixo), onde viveu até seus últimos dias.

A casa em 2011, quando visitei Dona Guiomar (clique para ampliar)

Por toda a vida Dona Guiomar percorreu todos os cantos, ruas e esquinas do bairro em seus passeios e afazeres do dia a dia, fato que a tornou uma legítima “perita” na história do bairro, que viu desenvolver, crescer e prosperar.

Suas memórias foram perpetuadas no livro “O legado de um sonho” escrito em parceria com uma de suas filhas, Nereide Schilaro Santa Rosa, onde com um texto leve e carregado de lembranças e emoções seus dias pelo Itaim desde sua chegada ainda nas primeiras décadas do século 20.

Em fevereiro de 2011 tive a oportunidade de conhecer essa pessoa maravilhosa, que me presenteou com um exemplar de seu livro e me contou muitas histórias do bairro em uma tarde de café nesta mesma casa que reporto aqui.

A casa em construção no ano de 1953 (Acervo Dona Guiomar)

Depois de seu falecimento, sua filha ainda continuou morando na região por algum tempo. Residiam na casa ao lado, cujo lote era (ou talvez ainda seja) conjugado no fundo, dando através de uma casa acesso à outra. De acordo com o que apuramos sua filha, que é escritora, mudou-se para Orlando, nos Estados Unidos.

Anos depois a casa recebeu essa nova cor, amarela, que lhe deu nova vida e destaque em uma rua que é relativamente sem graça com um enorme hipermercado do outro lado da rua (antigo Mappin Itaim) e muitos edifícios sisudos.

A casa em dezembro de 2019 (clique para ampliar)

Entretanto, no último final de semana, observamos que a casa e a sua “irmã” vizinha estão vazias e, para piorar, a casa de Dona Guiomar encontra-se destelhada. Será que estamos diante de uma reforma ou o fim desta casa tão cheia de alegria e história está chegando ao fim ? Acompanharei e trarei novidades à medida que elas forem surgindo.

Veja mais fotos da casa (clique para ampliar):

Notas:

*1 – O nome Rua do Porto se dava ao fato da mesma terminar então em um pequeno porto que havia às margens do Rio Pinheiros.

*2 – O legado de um sonho – O Itaim Bibi nas crônicas de Dona Giomar, Autoras: Guiomar da Conceição Schilaro e Nereide Schilaro Santa Rosa, Editora Duna Dueto (2010)

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Respostas de 21

  1. As cores são pra lá de infelizes, muito berrantes. Procure acompanhar o que está havendo com as casas.

  2. Parabéns pelo trabalho Douglas, seu site é sensacional. Por curiosidade entrei no Google Street, e na casa, havia uma placa de VENDA (na verdade a placa está a palavra ‘comercializa’), na foto de 2017. Espero que algum bom samaritano a tenha comprado e esteja reformando!!

  3. Morei aí ao lado do Itaim e trabalhei na rua Paes de Araújo por muitos anos. Gostava muito da região.

  4. É o que o meu chefe na época sempre falava, derrubam uma ou duas casas onde moram duas familiad, constroem um prédio de vinte andares, quatro apartamentos por andar onde vão morar mais de 80 pessoas. Como que não querem trânsito, e ainda tem que ter água, luz e esgoto. Fica muito saturado.

  5. Parabéns por esta matéria tão linda sobre esta paulistana. Orgulho de pertencer à comunidade de seus leitores. Me interesso muito pela história do Itaim Bibi, pois minha bisavó viveu or muito tempo por lá. Um grande abraço.

  6. Passei minha adolescência no Itaim, fiz o ginásio no Jorge Saraiva que está a um quarteirão desta charmosa casa. A anos que não volto neste saudoso bairro, pois a última vez que fui chorarei ao ver no que transformaram meu querido bairro.

  7. Residi com minha família dos 3 aos 8 anos (1953 a 1958) na rua Manoel Guedes, onde hoje existe um pequeno restaurante que sobrevive . Minha rua era de terra, mas era uma delícia viver alí, no então distante bairro da zona sul.Brincávamos eu e meu irmão na rua, com a garotada do bairro, sem nenhum problema, ou perigo. Na rua João Cachoeira, que era nosso caminho para o grupo escolar (se não me engano o Aristides de Castro), havia uma oficina mecânica, do Edmundo, muito amigo de meu pai, seu cliente. A filha do Edmundo acabou ficando minha amiguinha. Até primeira comunhão fizemos na igreja de Santa Teresa. E falando nesta, amava ir com meus pais nas procissões que aconteciam pelo bairro. Foi um bom tempo vivido ali no Itaim Bibi!! Ah, morava perto em uma ampla casa térrea, com enorme jardim o famoso Mazzaropi, quase nosso vizinho.

  8. meus avós se mudaram para a Rua imperial no início dos anos 30, depois de morarem na V.Madalena. Minha mãe estudou. no Aristides de Castro. Minha avó e sua amigas que vieram da Europa, moraram na Rua Imperial e formaram uma família. Eram Iuguslavas, polonesas , Hungaras que se reuniam toda semana para conversar e tomar café com leite condensado. Eu nasci na Rua imperial em 1954 e mudei para a Jesuino Cardoso em 1960 aonde vivi até 1979. Depois morei na Gomes de carvalho até me mudar para Ribeirão Preto.

  9. E então…..o que aconteceu com a casa???? Foi reformada ou perdeu -se na história do bairro…????

  10. Essa pintura foi realizada depois do falecimento de Dona Guiomar. Ela nunca pintaria sua casa dessas cores .
    A empresa imobiliária que resolveu pintar para chamar atenção para o imóvel. Infelizmente

  11. A casa recebeu essas cores depois do falecimento de D. Guiomar. Ela jamais pintaria sua casa com essas cores.

  12. foi-se dona guiomar, foi-se a casa… como estava em 07/23: https://shre.ink/8ing Parece que o tempo estava impaciente em varrer as memórias da moradora mais antiga do bairro, como se um século imutável fosse imperdoável na são paulo de hoje.

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