A história do Viaduto Boa Vista

Um símbolo arquitetônico de São Paulo completou recentemente 92 anos: Trata-se do Viaduto Boa Vista. Apesar de ocupar uma distância bem curta e quase não ser notado por quem passa sobre ele diariamente, este pequeno e belo viaduto foi inaugurado poucas semanas antes de eclodir a Revolução Constitucionalista de 1932 e é o grande marco da gestão do prefeito Gofredo da Silva Teles, que só governou a cidade naquele fatídico ano.

Ilustração do Viaduto Boa Vista feito por seu projetista, o arquiteto Oswaldo Arthur Bratke (clique para ampliar)

A importância desta obra viária não pode ser medida pela sua extensão, mas devido a enorme praticidade que sua construção trouxe para a locomoção de pessoas, bondes e automóveis no centro de São Paulo a partir daquele ano.

Ao ser construído ele resolveu o grande problema que era ir da região das ruas Florêncio de Abreu e Santa Ifigênia até o então Palácio do Governo que ficava na Praça João Pessoa (atualmente Pátio do Colégio), pois a Ladeira General Carneiro, dificultava a ligação. Para isso, ele foi construído deixando a conhecida ladeira intacta por baixo do viaduto.

A obra começou a ser planejada em 1914 e sua construção só inicio de fato em 1928. Como a construção viria a receber um intenso tráfego de bondes e veículos, era bastante importante que o viaduto fosse bastante robusto. Para evitar problemas futuros, inúmeros testes de resistência da estrutura foram realizados, todos eles com bastante sucesso, permitindo assim a inauguração do viaduto no dia 24 de junho de 1932, sendo anunciando com bastante galhardia pelos principais jornais paulistanos à época, como mostra a imagem a seguir.

Com o tempo o “da” caiu em desuso, hoje sendo apenas Viaduto Boa Vista.

A obra trouxe profundas transformações viárias na região central da cidade. O novo viaduto desafogou completamente o já saturado trânsito da rua 15 de novembro, que até então era a principal ligação entre a praça da Sé até o vale do Anhangabaú, através do viaduto Santa Ifigênia, bem mais distante. Além disso, o novo caminho do centro impulsionou uma série de novos edifícios na região, como o atual vizinho ao viaduto, sede da Associação Comercial de São Paulo.

O viaduto Boa Vista atualmente, em sua melhor vista, ou seja, por baixo (clique para ampliar)

E o viaduto não bastava sem funcional, precisava ser uma bela obra arquitetônica pois estava localizado ao lado do então Palácio do Governo. E mesmo sendo uma obra de apenas poucos metros os engenheiros Gaucherry (calculista) e Oswaldo Bratke (autor do projeto arquitetônico) idealizaram uma bela construção em art déco, cujos traços podem ser observados com mais detalhe na parte inferior do viaduto e nos detalhes de suas grades de ferro (veja foto anterior e na galeria ao final deste artigo).

Abaixo um comparativo feito entre 1938 e a atualidade (clique para ampliar):

O entorno ganhou novos edifícios, mas a paisagem até que não mudou tanto.

Hoje, quase um século depois da sua inauguração o viaduto continua sendo uma importantíssima via de tráfego da região central da cidade e um dos belos lugares do centro a serem fotografados.

DADOS COMPLEMENTARES:

Nome: Viaduto Boa Vista (à época Viaduto da Boa Vista)
Projeto: 1914 por Oswaldo Bratke e  B. Gaucherry
Início das obras: Novembro de 1928
Inauguração: 24/06/1932 – 14:00hs
Cálculos e engenharia:  Miguel Angelo de Souza Aguiar, auxiliado por José Haar e Oswaldo Arthur Bratke (Companhia Mechanica)
Execução: Siciliano & Silva
Prefeito: Gofredo da Silva Teles

VEJA MAIS FOTOS DO VIADUTO BOA VISTA (clique na miniatura para ampliar):

Bibliografia consultada:

* O Estado de S.Paulo – edição de 24/6/1932 pp 4
* O Estado de S.Paulo – edição de 25/6/1932 pp 3
* Correio Paulistano – edição de 24/6/1932 pp 1
* Correio de S.Paulo – edição de 24/6/1932 pp 1
* A Gazeta – edição de 21/10/1932 pp 1

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Respostas de 19

    1. Realmente muito bonito, depois vieram os militares, viadutos feios, sem falar que a população quadriplicou e tudo virou o que ja sabemos do Centro, sujo, mascarando essas pérolas !!!!

    1. O projeto de pedestrianização do centro é dos anos 1970 e foi conduzido pelo prefeito Olavo Setúbal, que se inspirara em projetos urbanos contemporâneos que estavam na moda na Europa.

      Curiosamente, o banqueiro, em seus últimos anos de vida, demonstrando certo preconceito de classe, considerou a operação inadequada à cidade, pois ela teria possibilitado a “popularização” da paisagem central. Ele chegou a dizer que o calçadão paulistano seria um “mercado persa” (ou seja: ele considera ruim justamente o que torna o calçadão fantástico, a presença do povo).

  1. Quando passo aí, sempre paro aí só pra observar as vigas,que aliás, são lindíssimas.

  2. Pessoal , o centro passou a ter calçadões no governo do prefeito Olavo Setúbal entre 1975-76. Na minha opinião foi a criação dos calçadões e do mini anel viário que deram o golpe derradeiro na decadência do centro….

  3. Olá, o engenheiro B. Gaucherry pode ter calculado e projetado a estrutura do viaduto, mas o projeto arquitetônico art déco é de autoria do arquiteto Oswaldo Arthur Bratke (1907-1997). Em 1930, a Prefeitura de São Paulo realizou um concurso para caracterizar esse viaduto. Oswaldo Bratke, então estudante do Mackenzie, apresentou um trabalho e teve seu projeto escolhido. Esse foi o primeiro trabalho profissional do arquiteto, que acabou sendo contratato pela Companhia Mecânica e Importadora (que construiu o viaduto). Referência (texto e fotos): Segawa, Hugo e Dourado, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke. São Paulo: ProEditores, 1997. pp. 57-60.

  4. O belíssimo gradil do viaduto ,que segundo Luiz Roberto Kamide é obra do arquiteto Oswaldo Bratke se encontra em adiantado estado de enferrujamento. Há poucos meses o fotografei e enviei ao Sr. Bucheroni
    atual encarregado da SubPrefeitura da Sé pedindo providencias urgentes e restauração. Não fui até hoje honrado com uma resposta do distinto senhor.

  5. As fundações desse viaduto foram inteiramente refeitas em 73, devido à passagem sob ele dos dois túneis do metrô que ligam as Estações Sé e São Bento. Como o projeto original havia se perdido, os engenheiros foram escavando o solo e reforçando as colunas que encontravam. Depois construiu-se o novo sistema de sustentação, cuja parte visível são esses paredões de concreto em ambas as laterais da General Carneiro.

  6. Se não me falha a memória foi durante a década de 70, na gestão do então prefeito Olavo Setúbal.

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