Um dos bairros mais animados e visitados de São Paulo, a Liberdade é sempre associada com a comunidade oriental de São Paulo, especialmente os nipônicos. Porém, o bairro que lá atrás era conhecido como bairro da Pólvora, devido a uma fábrica deste artefato explosivo na região, era originalmente identificado com os negros e também com pessoas pobres.
No decorrer do século 20 ocorreu um “apagamento” da identidade negra da região, à medida que o bairro fincava cada vez mais sua imagem com os japoneses. Esse apagamento por parte do poder público teve um apoio indireto dos novos ocupantes do bairro e teve seu ápice recentemente com a mudança do nome da estação Liberdade para Japão-Liberdade em 2018. A mudança foi feita pelo governador paulista atendendo ao pedido de um empresário (obviamente de origem oriental) e gerou controvérsia.
Aos poucos algumas coisas vão voltando ao lugar e a memória negra, importantíssima para a região, vai sendo redescoberta e melhor divulgada, como a instalação na praça da Liberdade do monumento à Deolinda Madre, mais conhecida como Madrinha Eunice, em 2022.
Algumas lembranças da memória negra e popular do bairro ainda estão ocultas e uma delas trago aqui para você hoje, trata-se da primeira sede do clube e escola de samba Paulistano da Glória.
Localizado no número 120 da rua da Glória, este pequeno edifício que atualmente está em mau estado de conservação abrigou a partir de maio de 1971 a tradicional escola de samba, que também mantinha um elegante e concorrido salão de bailes e jantares em um dos andares. O Paulistano da Glória também era conhecido como a “oficina do samba”.
De sua fundação em 1971 até o ano de 1975 ficou nos grupos inferiores do carnaval paulistano, sendo que em 1976 passou para o grupo 1. No ano seguinte faria sucesso com “Oração em Tempo de Festa“, um belo samba composto por Geraldo Filme, então compositor e puxador da escola até 1980.
A grande glória da Paulistano, foi em 1978 durante o Concurso Nacional de Sambas de Enredo, do programa Fantástico, da rede Globo de televisão, cantando “MMDC – Epopeia da Glória”, a escola venceu como melhor samba, sendo o maior feito de uma agremiação paulistana desde a fundação da primeira quadra coberta do país.
A vida da escola foi curta, diminuindo as atividades na década de 1980 até culminar em seu fechamento em 1985. A escola seria recriada em 2020 no bairro paulistano de Cidade AE Carvalho mas sem a tradição de outras épocas. Voltou aos desfiles e este ano terminou em 8º Lugar no grupo Acesso III de Bairros, com o samba “Glória à Mãe Preta Majestosa”.
Abaixo o samba MMDC – Epopeia da Glória, extraído do LP “Sambas-Enredo de São Paulo, Carnaval de 1978”:
Respostas de 3
Bacana esse documentário, mas é preciso ver a historia dos bairro periféricos como Vila Formosa, Vila Carrão, Vila Prudente, Vila Ema , Sapopemba, etc.
Onde fica grande parte da população paulistana.
Continue assim, parabéns.
Muito bom o documentário. Morei nos bairros Paraíso, Ipiranga, Grajaú, hoje estou na Bela Vista. Gostaria de saber a história dos outros bairros.
Dancei por muitos anos no que definiámos ser a gafieira da Liberdade. “Negro é a raiz da Liberdade” tocava mais alto, num salão simples, de mesas e cadeiras de metal, seguranças para ninguém se exceder e tampouco fumar na pista. Comida e bebida boa e barata, samba da melhor qualidade, ao lado de casa (morei no Bixiga entre 1966 e 2001). Época em que pagava meia entrada com a carteira de estudante.