Residência da família Fanganiello

Costumo dizer que devemos aproveitar a vida ao máximo pois dela quando morrermos nada iremos levar. E ao escrever a respeito desse casarão paulistano esse pensamento veio-me novamente à tona. Quanto suor e esforço para erguer uma beleza de casa como essa para depois ela ficar nesta situação ?

clique na foto para ampliar

A história dessa casa começa já no distante ano de 1929 quando João Fanganiello tem sua planta de construção de imóvel aprovada pela Prefeitura de São Paulo (veja box na imagem acima). É neste momento que ele inicia as obras que em 1930 seriam concluídas com a inauguração desta residência oficialmente registrada na alameda Eduardo Prado 641, no bairro de Santa Cecília região central da cidade.

No imóvel passaram a residir João, sua esposa Regina e seus filhos, dos quais infelizmente consegui identificar apenas uma, de nome Yolanda, e mais nenhum outro.

Pelas pesquisas que fiz cruzando dados públicos disponíveis como escritura e IPTU foi possível constatar que o casal João (patriarca) e Regina Fanganiello viveram no casarão até o fim de suas vidas, sendo que faleceram respectivamente em 1960 e 1963. Abaixo dois recortes com as notas veiculadas em jornais de grande circulação.

A partir deste momento os dados disponíveis a cerca dessa residência e da família ficam bem mais escassos de serem encontrados, sendo que a única nova informação encontrada após 1963 é a alteração dos dados de IPTU que em 1970 passa a estar no nome da filha do casal, Yolanda Fanganiello. A própria Yolanda reside no casarão até falecer em 7 de setembro de 1979, conforme atesta a nota de pesar veiculada no jornal O Estado de S.Paulo de 12 de setembro daquele ano.

De acordo com vizinhos que já moravam no entorno em meados da década de 1990, sem infelizmente precisar o ano, foi nesse período que o casarão passou a entrar em decadência. A informação bate com o início dos atrasos nos pagamentos de IPTU pois em uma consulta foi possível levantar que o débito do tributo municipal mais antigo da casa é do ano 2000. De lá para cá ninguém mais pagou os impostos da casa que já se encontram em dívida ativa e somados atingem o valor de R$ 1.493.697,71 (base agosto/2023). O débito acumulado, aliás, já se aproxima do valor real da propriedade.

Na foto detalhe da fachada do casarão (clique para ampliar)

O casarão, apesar disso, não está vazio. É ocupado por pessoas que não é possível afirmar serem relacionadas à família Fanganiello. Algo muito comum, que não posso afirmar que se aplica a este caso, é de funcionários que após o falecimento do proprietário da casa, este sem herdeiros, passam a viver na residência esperando que alguém reivindique a posse. Na ausência desse pedido ficam na casa e tentam posteriormente o usucapião. Neste caso falta pagar o IPTU astronômico para conseguir e é mais provável que num futuro próximo a prefeitura peça a desapropriação do imóvel.

Construído em um estilo que tem traços art noveau, o casarão da alameda Eduardo Prado é uma das jóias arquitetônicas desta região de Santa Cecília mais próxima de Campos Elíseos. O lote tem uma área total de 511m² e a casa tem 250m² num total de 400m² de área construída.

Detalhe da fachada, com destaque para a entrada da residência (clique para ampliar)

O caminho mais adequado para o futuro deste imóvel é a desapropriação e posterior restauração, para transformar o imóvel em algum serviço público útil para a região, como uma casa de cultura. A demora pode ser fatal para imóveis antigos como esse, ainda mais com esse novo e famigerado plano diretor paulistano. Em julho de 2023 um palacete do século 19, vizinho a este, foi demolido sem a menor cerimônia.

Seja lá qual for o destino deste imóvel, seja com a prefeitura ou um particular, terá muito trabalho pela frente, com uma obra relativamente custosa. Apesar de ainda manter todas as suas características originais o velho casarão está em péssimo estado de conservação como é possível observar nas imagens publicadas neste artigo, e isso falando da área externa. A interna, por enquanto, segue uma incógnita.

Veja mais fotos do casarão (clique para ampliar):

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Respostas de 11

  1. Um imóvel que com certerza merecia um destino de preservação. Patrimônio de um tempo. Curiosamente, quando vejo o sobrenome Fanganiello, associo ao bairro da Casa Verde. Uma das principais ruas do centro da Casa Verde é a rua Bernardino Fanganiello. E o conhecido jurista Walter Fanganiello Maierovitch é filho de Moises Maierovitch, que foi dentista com consultório no centro da Casa Verde…

  2. Sou apaixonada por essas casas e casarões, guardam tanta história , mas sinto demais quando vem abaixo por culpa da especulação imobiliária, que não poupa nada, esses imóveis precisam com urgência serem preservados !!!! Pelo amor de Deus !!!!

  3. Boa tarde, lindo casarão.
    Alguém precisaria fazer uma pesquisa junto ao registro de imóveis e prefeitura para conhecer a situação atual do imóvel. Creio que aindq existem muitos investidores que transformariam este lindo casarão num restaurante, um belo escritório ou até nesmo uma loja. Fica a dica.
    Obrigado por permitir opinar neste espaço..
    Até o próximo. Deus abençoe.

  4. Ótima reportagem sou apaixonada por essas construções. Pena não ter dinheiro para restaura-la apesar da quantia altíssima dos impostos.
    Vemos em outros países incentivo à compra e venda de construções antigas, pena aqui deixarem neste abandono, triste ainda seria a demolição que na maioria das vezes, os órgãos públicos acham mais fácil e lamentável.
    Mas parabenizo pela reportagem e estar compartilhando.

  5. Por não preservarmos esses patrimônios espalhados pelo Brasil nós tornamos um país sem memória,onde só o novo importa lamentável!!!

  6. Moro num bairro chamado Jardim Fanganiello. Fiquei pensando se tem algo relacionado à família. Mas nunca encontrei a história do meu bairro.

  7. Olá. Minha trisavó Rita Quartim de Castro viveu na Alameda Eduardo Prado, 105 (creio que era numeração antiga, por ordem não por metragem). Poderia me ajudar a localizá-la na rua atual? (creio que já foi demolida). Li em textos seus sobre o acesso público a escrituras e IPTU. Também fiquei curioso em saber como ter acesso. Agradeço toda a ajuda. Parabéns pelas suas postagens, são muito interessantes e ajudam a preservar a história e memória de São Paulo.

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