Mais uma vez, um prédio (até esquecido na paisagem da metrópole) hoje se revela como um marco importante no desenvolvimento de São Paulo e que, neste caso, chama a atenção pelo seu formato triangular. O que até agora não se sabia era que o prédio, chamado Condomínio Edifício Patriarca, que fica na confluência das ruas Líbero Badaró e a ladeira Dr. Falcão, foi sede de uma importante empresa que desenvolveu, nada menos do que uma enorme área da cidade de São Paulo.
Originalmente com três andares e um sótão, vide a primeira foto à esquerda, é possível ver a ocupação do térreo e de um dos andares pela Cia. Territorial Paulista, pela sua ligada Cia. Constructora Paulista (grafia da época) e de outros espaços sendo usados, nesta época, por três dentistas. Nas fotos adicionais o sótão não existe mais e dois novos andares foram acrescentados.
Segundo informações da prefeitura de São Paulo este edifício foi o primeiro a ter uma “estrutura de concreto armado, calculada e executada para permitir vários pavimentos”. Também informa esta mesma fonte que o prédio foi construído em 1912 pelo Escritório de Arquitetura Samuel das Neves. Na galeria abaixo é possível conferir o que existia neste local antes do edifício ser erguido.
Hoje, tombado, conta com cinco andares e nota-se, pelos originais guarda corpos de metal trabalhado, que estes só estão presentes até o terceiro andar denunciando que, quando da grande reforma feita para aumentar o número de andares, não houve a preocupação estética de se dar continuidade à decoração exterior original.
A Cia. Territorial Paulista e sua ligada eram empresas que vendiam terrenos e casas a prestações e que havia sido formada pelos empresários Fernando Arens Júnior*¹, Eugênio Levèfre Júnior e Ernesto Diederichsen. Por volta de 1913, Fernando Arens Júnior troca uma área no litoral paulista por 182 alqueires na cidade de São Paulo. Esta grande área, transforma-se, a partir de 1915, no que virão a ser os futuros bairros de Moema e Indianópolis.
Segundo nos relata o Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida – CONSA, no bairro de Moema, desde 1940, “As terras que deram origem ao bairro eram parte de uma grande extensão de terra chamadas de Sítio da Traição. Esse nome seria consequência do fato de que o bandeirante paulista Borba Gato teria sofrido uma emboscada de seu próprio filho adotivo nesse local muitos anos antes, perto da atual avenida dos Bandeirantes. Além da atual Moema, o sítio abrangia as regiões de Jabaquara, Vila Mariana e Campo Limpo”.
Mas existem outros fatos muito interessantes ligados à Cia. Territorial Paulista, pois, um dos terrenos mais cobiçados de São Paulo na atualidade, o da Cruz Vermelha Brasileira na avenida Moreira Guimarães, região de Indianópolis, em terreno de 46.656 metros quadrados, foi doado pela empresa, em 1927, para a instituição.
É importante apontar que Ernesto Diederichsen, um dos sócios da empresa, montou em Moema, bairro aberto pela Cia. Territorial Paulista, uma empresa que ocupava todo o quarteirão onde atualmente está o Shopping Ibirapuera, era uma fábrica de fiação, a Malharia Indiana.
Isso é pouco diante de tudo no que se transformou aquela imensa área e de tantas histórias a serem contadas. E pensar que tudo começou a ser pensado naquele pequeno e esquecido prédio triangular…
Bibliografia consultada:
* Bens Culturais Arquitetônicos no Município e na Região Metropolitana de São Paulo Secretaria Municipal de Planejamento – 1984
* São Paulo e seus homens no centenário. Empreza de publicidade Independencia Editora. Tipographia Piratininga – São Paulo, 1922
* Correio Paulistano edições de 5/11/1905, 17/12/1924, 8/7/1927 e 19/4/1953
* O Estado de S. Paulo edição de 17/12/1924
* Site: CONSA – História do bairro de Moema – Link visitado em 9/5/2023
Nota *1:
Fernando Arens Júnior era um engenheiro mecânico que abriu em 1905 uma empresa de máquinas e representações com seu pai, Fernado Arens que naquele ano deixou a tradicional empresa do mesmo ramo, Arens & Irmãos que funcionava pelo menos desde 1875.
Este artigo foi atualizado em 15/12/2023
Respostas de 6
Os “guarda corpos” seriam as pequenas áreas nas laterais do prédio, certo? Nas imagens mais recentes(as últimas), elas estão emparedadas na parte de baixo, não dando acesso. Será que originalmente havia essa saída para a área?
Lembra muito um prédio em New York, onde passa várias gravações de filme de Hollywood, até pensei que fosse lá, lembra muito.
Sim, ele tem o mesmo formato do Flatiron Building, inaugurado em 1902, sendo este um dos primeiros arranha-céus de Nova York, com quase 90 metros de altura.
Próximo a prefeitura, o bar do térreo (chamado Triângulo) é conhecido pelos servidores municipais como “bar do bigode”.
Obs1: Acabei de descobrir porque a Usina Elevatória da Traição tem esse nome.
Obs2: Acredito que onde o texto diz Campo Limpo, seja Campo Belo, ou o tal sítio era um imenso latifúndio. rsrsrsrs.
interessante a parte que fala de meu bisavô, Fernando Arens Junior mas eu gostaria de dizer que, todos os nomes alí citados eram de alguma forma parentes próximos. Por exemplo, Diederichsen era de primo do marido de Dona Lilí, irmã de FAJ e grande capitalista da empresa.
a empresa fundada por FAJ era a Cia Metalúrgica Brasileira, reconhecida por um losango com as iniciais CMB dentro deste e, antes da Arens e Irmãos, a cia chamava-se Arens e Cia, situada na cidade do Rio de Janeiro, indo para Campinas (que era vizinha da igreja matriz da cidade) e depois para Jundiaí (1898 dando origem à Vila Arens e também onde nasceu minha avó Aracy Arens) e só então para Indianópolis… em 1927
a conversa sobre as terras no litoral, ele (FAJ) comprou com a herança de sua mãe, terra esta que deu origem à Mongaguá, de onde ele tirou a maioria dos nomes das ruas ao lotear Indianópolis, o Sitio do Fundão.
quanto ao comentário sobre o Campo Limpo, lá era o sítio do sogro do ora conhecido Vereador José Diniz.