Roubos na Consolação comprometem a compreensão de nossa história

Caminhando por uma alameda do Cemitério da Consolação bem próxima ao muro que faz divisa com a rua que leva o mesmo nome, um túmulo chama a atenção de dois turistas americanos que se aventuram pela mais antiga necrópole paulistana.

Eles comentam o estado lamentável da sepultura, suja e com quase todas as suas placas furtadas e me perguntam se eu sei quem está enterrado ali.

Quando comento que é o túmulo é de um Presidente da República e que também foi governador e prefeito de São Paulo, a dupla ficha chocada com o descaso a uma figura de tamanha relevância história, algo impensável no país deles.

É neste estado lamentável e desrespeitoso que está o túmulo de Washington Luís:

clique na foto para ampliar

Não há mais qualquer placa que identifique o jazigo como de um Presidente da República. Ano após anos as placas foram sendo roubadas e agora – neste ano – a última que identificava Washington Luís foi roubada. Resta apenas uma placa de homenagem à sua esposa, Sofia, com quem divide o jazigo.

Entretanto não é apenas o saudoso presidente que teve sua identificação arrancada por ladrões na Consolação. Um rápido passeio pela necrópole constata a trágica situação de um cemitério que além de última morada para inúmeros paulistanos, famosos ou não, é um importante ponto de visitação turística da cidade.

Quem procurar por ali os túmulos de personalidades como Tarsila do Amaral, Celso Garcia, Ramos de Azevedo e muitos outros não irá encontrar. Isso se deve ao fato de que neste ano de 2017 os furtos atingiram níveis alarmantes.

Na foto o alerta sobre os roubos

A situação está tão alarmante que os administradores do jazigo de Antoninho da Rocha Marmo, santo popular paulistano e de longe o túmulo mais visitado da Consolação, colocaram uma faixa de alerta aos que colocam placas de agradecimento ao menino.

O São Paulo Antiga também procurou familiares de falecidos que estão sepultados na Consolação. Sob a condição de anonimato alguns aceitaram conversar conosco. Eles alertam que em 2017 os roubos explodiram e que os furtos não estão mais concentrados apenas no bronze, mas também em ferro, granito ou o que for possível carregar.

As duas imagens abaixo mostra o estrago no jazigo da Família Maluf (não é do Paulo Maluf):

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O número crescente de furtos da Consolação já está comprometendo severamente a compreensão da história de São Paulo para aqueles que visitam o cemitério atrás de conhecimento. Sem uma pessoa experimente em encontrar lápides, agora sem nomes, fica quase impossível a visita de estudantes e turistas.

Vejam abaixo o caso do herói de 1932, Prudente Meirelles de Moraes:

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No caso desse jazigo de grande importância histórica apenas a estátua não foi roubada. O restante do conjunto escultórico como o portão, a bandeira paulista, o capacete e a espada que descansava sobre a bandeira foram levados.

No caso do túmulo da pintora Tarsila do Amaral é ainda mais grave. Todas as placas foram levadas, só uma pessoa acostumada a visitar o cemitério consegue identificar a sepultura:

Jazigo de Tarsila do Amaral (clique na foto para ampliar)

A situação persiste por todos os cantos do cemitério, especialmente nos locais mais próximos a muros e aos portões dos fundos.

O São Paulo Antiga também localizou em uma área atrás da administração uma pilha de placas de bronze recuperadas pela administração nos últimos meses. A imagem diz tudo:

Obras furtadas e recuperadas

Contatado pela nossa reportagem sobre os furtos, segurança e a limpeza do Cemitério da Consolação, o Serviço Funerário enviou a seguinte resposta:

O Serviço Funerário do Município de São Paulo informa que a segurança nos cemitérios foi melhorada graças a uma parceria com a Guarda Civil Metropolitana (GCM), que tem aumentado o número de rondas periódicas em todos os cemitérios, agências,  velórios e no crematório. De janeiro a setembro deste ano, foram efetuadas 13.101 patrulhas. Dessas, 856 realizadas no Cemitério Consolação. A instalação de câmeras nos cemitérios municipais é  outra ação que está em estudo,  que também contará com a parceria com a Secretaria Municipal de Segurança Urbana.

Esclarece, ainda, que todas as placas de bronze recuperadas ficam na administração do Cemitério Consolação, aguardando a identificação dos familiares dos sepultados para a devolução das mesmas nos jazigos. Em relação à limpeza, informa que foram retirados dois caminhões e duas caçambas após limpeza geral (varrição, galhos, troncos) no último mês.

Enquanto a administração do cemitério e o Serviço Funerário batem cabeça na principal necrópole da capital paulista apenas uma coisa é certa: a criminalidade faz a festa sem qualquer tipo de represália.

Veja a situação do túmulo de Celso Garcia:

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O São Paulo Antiga observando a preservação do que ainda resta no Cemitério da Consolação visitou o gabinete do vereador Gilberto Natalini (PV). O objetivo é entrar com uma representação para investigar a situação atual do local e procurar alternativas para a preservação.

Veja na galeria abaixo mais algumas imagens de túmulos famosos que foram vítimas de furto e/ou vandalismo (clique para ampliar):

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Respostas de 12

  1. Nossa cidade já era. São Paulo hoje pertence aos ladrões, pichadores, traficantes e drogados.
    O pouco que resta, dentro de pouco tempo, já terá desaparecido também…

  2. Nos seres humanos (?) q pisam este chão abençoado por Deus – inexiste o RESPEITO a absolutamente nada ou a ninguém,,,,,

  3. É o crescimento da miséria humana, principalmente na falta de respeito aos antepassados.

  4. É INTERESSANTE, PARA NÃO DIZER TRÁGICO, QUE UM CEMITÉRIO FAMOSO E BEM LOCALIZADO, SOFRA TANTOS ATOS DE VANDALISMO E NINGUÉM- OS FUNCIONÁRIOS, A POLÍCIA- PERCEBA NADA NO ATO, NA HORA, PARA TENTAR IMPEDIR. PODERIAM, SEI LÁ, PROVIDENCIAR GUARITAS…OU ENTÃO VIGIAS PARTICULARES À POSTOS, 24 HORAS. É UMA IDEIA. POR QUE AINDA NÃO FOI FEITA UMA PREVENÇÃO, VISTO QUE A BANDIDAGEM FAZ “GATO – E – SAPATO” DOS MAIS FAMOSOS E INTERESSANTES JAZIGOS DA CAPITAL? PARECE, SABE O QUE? A CHAMADA “FITA DADA”…

  5. A situação está ruim, mas podia ser pior, vejam como estão o Rio de Janeiro e Porto Alegre, totalmente quebrados, só resta pedir a Deus que essa quebradeira não chegue aqui, pois do contrário ai sim nos “tamu fu”.

  6. Eu visitei o Cemitério da Consolação este ano de 2017 e fiquei até com medo, vi túmulos abertos sabe com as portinholas quebradas, sei que a administração não tem nada com isso, pois seriam os familiares os responsáveis, mas é claro que certas famílias nem existem mais ou que os descendentes não querem nem saber de túmulos, isso é compreensível. Acho que no mínimo deveria haver uns guardas não de carro (nas minhas 2 visitas me deparei com guardas municipais patrulhando de carro) acho que os policiais deveriam patrulhar à pé ou de bicicleta, estar mais presentes ali. Fica um ambiente muito vazio em que a gente se assusta com algumas aparições. Aparições por exemplo, vi um homem muito bem vestido caminhando e em seguida ele desapareceu. Só estávamos eu e ele, num ambiente muito solitário, não acredito em fantasmas mas confesso que fiquei um pouco arrepiado. Se eu avistasse policiais ou funcionários ou visitantes eu não sentiria medo. Visitei também o túmulo dos Guimaraes Reis (crime da rua Apa – castelinho) neste ano de 2017 em que completou 80 anos da tragédia dos dois irmãos e da mãe deles.

  7. Uma pena que já não se possa dizer que o Cemitério da Consolação seja um museu a céu aberto. Inacreditável o descaso da administração quanto à segurança do local, onde os violadores de sepulturas possam roubar com tanta facilidade. O cenário é de terra arrasada, tamanha a quantidade de sepulturas dilapidadas. A impressão que passa é que exista conivência com funcionários do cemitério. E pior, não sinais de melhoria na segurança. Isto aqui é o Brasil

  8. Frequentava o cemitério na adolescência ,recentemente a mais ou menos uma semana fui novamente está muito diferente é uma pena … tanta história ,um lugar tão rico culturalmente… uma tristeza …

  9. Douglas, bom dia! Sempre acompanho seus posts com grande interesse. Parabéns pelo site e pelo serviço que presta a São Paulo. Sou paulistano de nascimento e lá vivi 40 anos. Muito me entristece e revolta a situação dos cemitérios, entre tantas outras…. como o artigo já tem mais de ano e você mencionou uma ação junto à Câmara Municipal, que fim levou isso tudo? Como está a situação agora? Poderia fazer uma outra reportagem/artigo atualizado? Obrigado e continue o belo trabalho que vem fazendo!

    1. Olá Pedro, como vai ? Obrigado pelo comentário.
      Estamos justamente atualizando essa matéria, pra primeira semana do ano novo. Mas não fique muito animado com o que iremos publicar.
      Tenho uma livro da Você S.A traduzido por um homônimo seu… ou seria você ? Fiquei curioso. Abraços

      1. Oi, Douglas! Após tanto tempo sem voltar a este artigo, reli e vi sua resposta….Sim, o livro da série Você S/A é de tradução minha, encomendada pela Editora Nobel e agora vou ver se vc conseguiu atualizar essa matéria. Abraços

  10. Gande parte desse descaso é a falta de respeito pelas próprias autoridades e gestoes em proteger este local, nao é só um cemiterio, é um museu a ceu aberto que conta a história da cidade e q deveria ter sido protegido desde o inicio visto a onda de violencia q existe em SP… Ficou entregue as traças diminuido a pouca relevancia nas gestoes que se passaram, ao contrario de tantos cemiterios com obras de arte q existe no mundo este em particular é uma vergonha!

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