Casarão de Dino Bueno / Pensionato Auxilium

Outrora o bairro de morada da elite paulistana, Campos Elíseos hoje se reergue dos anos de esquecimento como um bairro misto, com escritórios e residências, mas sem perder o charme presente em grande parte de seus imóveis.

Um dos mais belos e preservados é a antiga residência de Dino Bueno.

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Localizado no número 1282 da rua Guaianases, o palacete foi residência de Dino Bueno, barão do café(¹), promotor público, senador estadual pelo extinto PRP e governador interino de São Paulo em 1927, após o falecimento do titular Carlos de Campos.

Natural de Pindamonhangaba, Dino Bueno chegou a São Paulo na década de 1870, época em que veio estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Nesta tempo sua carreira deslanchou como lente e político e foi ai que procurou-se estabelecer-se na capital em definitivo.

entrada do casarão (clique para ampliar)
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A história do casarão que serviu-lhe de residência começa na última década do século 19, quando o bairro recém criado passou a receber as construções de inúmeros palacetes e casarões que ocuparam a região.

Construída em 1895, a residência de Dino Bueno foi e ainda é uma das mais importantes da região. No período em pertenceu ao político, era frequentemente visitada pelas autoridades paulistas.

O imóvel manteve-se como residência da família Bueno até meados da década de 30, sendo que Dino faleceu em 1931.

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Nos menos anos 1930 o palacete passou a ser alugado, tendo usos distintos até o início da década seguinte, quando passou a servir como uma pensão católica, chamada Pensionato Auxilium.

Foi abrigando esta instituição que o imóvel passaria pelas décadas seguintes, até o início dos anos 1970.

Após a saída do Pensionato Auxilium o palacete que já se encontrava ˝cansado˝ dos anos e anos de uso começou a enfrentar um processo de deterioração.

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É neste época – década de 1970 – que o bairro vive uma realidade completamente diferente do seu tempo glorioso do século 19 e início do século 20. Muitos de seus casarões estão bastante deteriorados, alguns demolidos e outros transformaram-se em cortiços. Muito da decadência do bairro se deve ao Terminal Rodoviário da Luz erguido nos anos 1960 e também a mudança da sede do governo paulista de Campos Elíseos para o Morumbi.

O futuro do imóvel começará a mudar em 1975, quando a empresa Porto Seguro chega ao bairro, inaugurando sua nova sede na avenida Rio Branco. É neste mesmo ano que a companhia adquire o casarão.

Detalhes do casarão (clique para ampliar)
Detalhes do casarão (clique para ampliar)

O restauro, entretanto, só chegaria na década seguinte, após o tombamento do bairro ser realizado e o projeto da Porto Seguro ser aprovado pelo Condephaat, no ano de 1988.

Três anos depois, em 1991, é iniciado o longo e delicado processo de restauração do imóvel, tocado pelas empresas Israel Sancovski Arquitetos Associados SCL e a construtora Hochtief do Brasil S/A.

Em 1993, o casarão era entregue de volta para São Paulo completamente restaurado, sendo o primeiro imóvel de grande relevância histórica da região a receber este tipo de atenção.

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O restauro foi feito de uma maneira que o casarão fosse completamente integrado com o prédio da Porto Seguro da avenida Rio Branco. Desta maneira garantia-se que o imóvel seria sempre mantido na ativa. Do casarão é possível acessar o edifício e vice-versa.

Desde então até os dias de hoje, a antiga residência de Dino Bueno, oficialmente rebatizada de Casarão Porto Seguro, é utilizada como espaço de reuniões e eventos da empresa.

Antiga dependência dos funcionários (clique para ampliar)
Antiga dependência dos funcionários (clique para ampliar)

Além da casa principal, o anexo que era a habitação dos funcionários de Dino Bueno (foto anterior) também foi restaurado.

DETALHES DA RESIDÊNCIA:

De arquiteto desconhecido, o palacete foi projetado em estilo eclético e composto de duas edificações (casa principal e anexo), além de uma terceira edificação que teria sido uma garagem, demolida no decorrer do século 20.

Os belos pisos hidráulicos da residência (clique para ampliar)
Os belos pisos hidráulicos da residência (clique para ampliar)

Na casa principal são dois andares, além de um porão habitável. Na entrada da residência e em todas as sacadas o piso consiste em azulejos hidráulicos de diferentes traços.

A porta principal é adornada com o brasão da família de Dino Bueno jateado no vidro. São dois brasões idênticos sendo um com a face para quem entra na residência e outro com a face para quem sai.

No interior da casa o piso original de madeira foi restaurado e mantido, sendo que apenas as escadas que levam aos aposentos superiores e ao porão foram substituídas por similares, uma vez que as originais se encontravam irrecuperáveis.

Na foto, destaque para as pinturas internas (clique para ampliar)
Na foto, destaque para as pinturas internas (clique para ampliar)

Em todos os cômodos do piso térreo e também no corredor do andar superior, pinturas decoram as paredes (foto anterior). Todas foram restauradas de acordo com as originais, sendo que em alguns cantos as pinturas antigas foram mantidas para observação.

Nos objetos da casa, vários que eram pertencentes a Dino Bueno foram não apenas restaurados como mantidos em uso até os dias de hoje. Entre eles, podemos destacar a mesa do salão principal e os tapetes persas, que também foram minuciosamente restaurados.

Salão principal (clique na foto para ampliar)
Salão principal (clique na foto para ampliar)

A experiência bem sucedida no restauro e reutilização do imóvel por parte da Porto Seguro, serviu como base não apenas para recuperação de Campos Elíseos, que ainda segue em curso, como para novas empreitadas de restauração da própria companhia pelo bairro, que já adquiriu outros imóveis históricos na região.

Todos estes imóveis, como a casa do corretor(²), residência do Coronel Juliano de Almeida e o casarão de Alfredo Prates foram restaurados e hoje contribuem para o bairro cada vez melhor.

Notas:
¹ Barão do Café não é um título oficial
² Em breve aqui no São Paulo Antiga

Veja mais fotos do Casarão Dino Bueno (clique para ampliar):

Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

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Foto: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

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Respostas de 25

  1. O patrimônio de SPaulo deve muito à Porto Seguro. Estão espalhadas pela cidade varios casarões antigos, palacetes restaurados – todos comprados pela PSeguro em lastimável estado de conservação e recuperados com cuidado e respeito.
    Imagino que isso deve ter vantagens comerciais para eles, certamente compram os imoveis deteriorados por preço baixo, mas não importa: a cidade ganha com isso, quem dera tivéssemos mais emrpesas com essa maneira de proceder.

  2. Pena que a Porto Seguro não “chegou a tempo” de restaurar a casa que pertenceu a meu bisavô, Cel. Antonio José Correia, naquele bairro.

    1. Pena que a Porto Seguro não “chegou a tempo” de restaurar a casa que pertenceu a meu bisavô, Cel. Antonio José Correia, naquele bairro.

  3. Iniciativa espetacular da Porto Seguro, sua arrecadação deve ser fabulosa, mas realiza obras que merecem reverências!

  4. Estudei em um palacete magnífico situado umas duas quadras apenas desse do Dino Bueno, na esquina das ruas Glette e Guaianazes. Os geólogos da USP, cujo curso no tal palacete começou nos anos 1950, tem um site cuja “imagem de capa” é o tal… A história dos dois palacetes é similar até meados do século XX, mas o da alameda Glete foi demolido lá por 1970 e hoje no terreno só resta uma “figueira” do século XIX, uma das raras árvores tombadas em São Paulo. Para os interessados o site dos geólogos é:
    http://www.figueiradaglete.com.br/
    A USP publicou recentemente um livro que fala sobre o tal prédio, por ela ocupado por décadas …

  5. Maravilha de residência, diferente desses prédios modernos que tem somente concreto e vidraçaria.
    Existem ainda muitas casas abandonadas nessa região e que devem ser recuperadas. Demolir um palacete como este é um crime.
    O local ficou deteriorado devido a mudança do palácio do governo ter se transferido para o Morumbi. Aquela antiga rodoviária que ficava ao lado da Estação Júlio Prestes, também contribuiu para o abandono daquele bairro.

  6. Como sempre, Douglas, excelente matéria. Sugiro também que faça uma sobre o solar do Marquês de Três Rios, que hoje abriga a Fatec São Paulo. Abraços!

  7. Eu trabalho na Porto Seguro a alguns anos na não na região do Campos Elísios e apenas essa semana tive uma reunião neste casarão e fiquei chocada e maravilhada em como é lindo. Os ambientes enormes, principalmente para uma filha de apartamento, iluminados, arejados, os detalhes de pinturas e acabamentos. Fico muito feliz de ver a empresa cuidar da região desta forma. Ontem depois da reunião andei um pouco pelo bairro e fiquei feliz de ver outra casas bem cuidadas e mais perto do metrô alguns prédios novos tambem. Espero que em poucos anos o bairro volta a ser o que foi a algumas décadas.

  8. Vendo essa matéria, lembro-me da casa, que conheci pessoalmente, apenas pelo lado de fora, dos Irmãos Baptista, localizada no bairro da Pompéia. na Rua Venâncio Aires, 408. Os fundadores, juntamente com Rita Lee, de uma das maiores bandas de Rock do Brasil e do mundo, Os Mutantes, merecem ter sua casa restaurada, e por que não – transformada até em um Museu do Rock Brasileiro. Infelizmente, de casa que abrigou dois dos maiores músicos e compositores da história da música e do Rock mundial, virou um pensionato popular, super maltratado, com tinta azul clara diluída, para “render” mais. Por que a Porto Seguro não restaura tal imóvel? Para quem quiser conhecer mais da história, assista ao documentário Loki, a História dos Mutantes, centralizada na pessoa de Arnaldo Baptista. Artistas mundialmente consagrados como Sean Lennon, Kurt Cobain, David Byrne reconhecem nossos músicos, tais como Arnaldo Baptista e Tom Zé, enquanto que o Brasil, vergonhosamente, os esquece.

    1. Obs.: Já encaminhei um email para a Porto Seguro com a sugestão. Agora, é torcer pra que dê certo.

  9. Bela iniciativa da Porto Seguro. Da até vontade de conhecer o casarão por dentro, tão lindo que ficou. Do mais tem a história do passado e presente conectados. Boa matéria jornalística. Obrigado!

  10. Bárbaro o trabalho da Família Garfinkel na restauração da cada que foi de meu bisavô e que somente agora tenho a oportunidade de a conhecer por dentro. Já trabalhei na Porto e a vida de fora sempre. Parabéns Jayme e família!

    1. Olá Cleide Correa, foi muito bom ter encontrado, a sua informação, pois, eu gostaria muito de localizar a funcionária do pensionato, “TOINHA”, você por acaso a conheceu? Um abraço Sandra Majer (smajer@prefeitura.sp.gov.br)

  11. No ano de 1974 morei ai. (Junho/74 a julho/75) Esse período foi quando entrei trabalhar no Antigo Banespa. (Trabalhava na Agência São Luiz da Av. Ipiranga) Era administrado pelas Irmãs Salesianas. Muito bem cuidado por elas e muito organizado em tudo .Conheci muitas meninas na época, que agora é difícil lembrar nome de todas.
    Gostaria muito de ver as restaurações que foram feitas. Quem sabe um dia. Se alguém daquela época ver esse meu comentário, por favor mande notícias no email anexo

    1. Maria Rosa Fioretto, bom dia!
      Eu, Sandra Majer (smajer@prefeitura.sp.gov.br), também morei lá, e estou a procura de uma funcionária, “Toinha”, você a conheceu?
      Um forte abraço

  12. TAMBÉM MOREI AÍ POR UM ANO 1978/1979. SAÍ PARA CASAR E TENHO FOTOS DE NOIVA E DAS IRMÃS SALESIANAS, IRMÃ ANA E IRMÃ MARIA ANTÔNIA, COMIGO, VESTIDA DE NOIVA. INCLUSIVE HOJE É DIA DE NOSSA SRA. AUXILIADORA. MUITA SAUDADES DE TUDO QUE APRENDI COM ELAS E DE AMIGAS QUE AÍ FIZ. GOSTARIA DE REENCONTRÁ-LAS. INCLUSIVE UMA PORTUGUESINHA CHAMADA LUISA QUE FOI MINHA MADRINHA DE CASAMENTO, COM SEU NOIVO, ACHO QUE O NOME ERA CLAUDIO. EU, NA ÉPOCA TRABALHAVA NO BANCO FRANCES E ITALIANO(SUDAMERIS) DA RUA XV DE NOVEMBRO.

  13. MOREI NESSE PENSIONATO DE 1978/1979. SAÍ DAÍ PARA CASAR. TENHO VARIAS FOTOS COM A IRMÃ ANA E IRMÃ MARIA ANTONIA. FOI UM ANO MUITO FELIZ NA MINHA VIDA E APRENDI MUITO COM ELAS. FIZ VÁRIAS AMIGAS AÍ. E INCLUSIVE MINHA MADRINHA DE CASAMENTO, UMA PORTUGUESINHA CHAMADA LUISA, COM SEU NOIVO CLAUDIO. TENHO MUITA VONTADE DE REVER MUITA GENTE QUE PERDI O CONTATO.

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