A famosa zona cerealista, no Brás, é uma das regiões mais movimentadas de São Paulo em quase todos os horários do dia e até da noite. O ritmo frenético de caminhões dificulta bastante observar algumas construções antigas que se estendem pelas ruas deste pedaço do Brás. E foi por ali, precisamente na rua Professor Eurípedes Simões de Paula, que encontramos um pequeno prédio bastante peculiar:
Foi bastante difícil obter informações sobre ele uma vez que eu não encontrava dados telefônicos ou mesmo de cadastro na prefeitura para a numeração deste imóvel (respectivamente 316, 320 e 324). Foi ai que constatei que até 1978 esta rua chamava-se Américo Brasiliense e, a partir de então, consegui levantar os dados precisos.
Construído na primeira metade do século 20, este edifício chama muito a atenção dos poucos que o notam pelos seus vários detalhes curiosos presentes por toda a sua fachada. Começando pelo entrada, uma bela (mas mal conservada) porta de ferro que na parte superior exibe uma lamparina com uma chama. Subindo um pouco mais, vemos sobre este mesmo pórtico as iniciais “JL” remete ao seu primeiro dono, Julio Lerario.
A construção tem uma arquitetura bastante particular e incomum, além de ser de bom gosto. Existem belos detalhes nas sacadas e também uma figura, logo acima da janela do andar mais alto que me lembra um pouco Éolo, Deus do vento. Já no frontão há um período esculpido que não conseguimos identificar o motivo e nem mesmo seus moradores souberam identificar: 1895-1941.
O será que esta data significa ? É, de fato, um prédio repleto de simbolismos em toda a extensão de sua fachada. Arrisco dizer que a data de nascimento e morte de alguém muito importante para a família Lerario, curiosamente Jose Lerario faleceu muito próximo à segunda data, precisamente em 1942.
QUEM FOI JULIO LERARIO?
São poucas as informações que temos sobre esta pessoa, porém podemos afirmar que Julio Lerario foi comerciante bem conhecido na região central de São Paulo, a frente da empresa Lerario & Cia e também ocupou o cargo de vice-presidente da Bolsa de Cereais. Sua empresa ficava na rua Santa Rosa em trecho que foi demolido para alargamento de pista.
Veja abaixo mais algumas imagens do edifício, clique para ampliar:
Essa é uma das preciosidades do Brás, que fica boa parte do dia “escondida” pelas carretas que ficam sempre estacionadas diante dela. Deveria ter sua fachada recuperada e a edificação receber um uso digno de sua beleza arquitetônica. Porém infelizmente não foi isso que aconteceu, como é possível ver na fotografia a seguir:
Em 2017, exatamente dois anos após fotografarmos o predinho, tanto ele como duas outras construções vizinhas foram demolidas para dar lugar a este galpão horroroso que é uma espécie de depósito de uma já tradicional empresa da região, a Mercantil Santa Paula. Não sei se eles são proprietários ou apenas inquilinos, mas são os ocupantes do imóvel.
Reconheço que muitas vezes não é possível preservar o imóvel histórico e ele nem mesmo estava em suas melhores condições estruturais, porém o que se debate aqui é outro coisa: a incapacidade do empresário paulistano em fazer algo que seja minimamente agradável esteticamente.
Saiu um prédio com diversas referências e arquitetônicas entrou algo que mais parece a morada do Shrek ou mesmo do incrível Hulk. Um galpão gigante, horroroso e sem qualquer intenção de fazer da zona cerealista uma região menos agressiva visualmente. Não é à toa que esse canto do Brás é tão desvalorizado e tão lembrado como um das regiões mais feias da capital. Até mesmo a antiga Cracolândia, é melhor organizada.
É urgente a requalificação da Zona Cerealista bem como sua mudança para alguma área junto a uma das marginais paulistanas (Tietê ou Pinheiros) e essa região do Brás receber uma completa reformulação, nos moldes do que aconteceu em Puerto Madero, na capital Argentina.
Respostas de 16
Na subtração das datas seria 46 o resultado, seria uma homenagem ao construtor do mesmo? Ou não sei se nessa epoca ja haviam construtoras e seria o total de anos de existencia da empresa que construiu?
Acho mais possível que seja homenagem a alguém, este prédio indica ter sido uma construção independente. Algo bem corriqueiro no Brás…
Sim,são 46 anos. E quem o construiu? Ou quando? Onde se poderia obter este tipo de informação, aliás?
Pode ser o início e o fim das obras,por que não?
Improvável pelos materiais utilizados e não disponíveis em 1891.
Achei essa data um tanto sinistra, pois pelo que tenho acompanhado até mesmo aqui no site, quando colocavam data no frontão, costumavam colocar apenas o ano e não o período…
P L entrelaçados identifica esta casa como sendo de um franco maçom.
Elisa, na maçonaria o que significa o PL ?
Não teria sido uma loja? nesse caso a data poderia fazer referência a ao tempo de vida da empresa de sua fundação à inauguração do prédio?
Caso tenha mesmo relação com a Maçonaria pode ser “Príncipe do Líbano” nome dado ao 22o. Grau Maçônico.
qual foi a data que foi construida ?
infelizmente parece que foi demolido
como estava o em 01/23: https://maps.app.goo.gl/ViQupd1hmzSJk7rd9 Foi demolido. Pode-se observar a construção à esquerda, na primeira foto do artigo, construída com um acabamento de “pequenos tijolos” ocre: https://maps.app.goo.gl/eNSsL8fcnNnScdkn6 Que serviu de referência para achar o local.
Quando criança morei no Bras . Nessas imediações conheci prédios lindos por dentro. Inclusive na rua Santa Rosa por trás de um portão de ferro horrível uma construção linda com apartamentos em torno de um pátio. Com escadas com serralheria primorosa como guarda corpo. Uma joia. Infelizmente abandonada.
Aaaaameeeeiiii, realmente deu lugar a um galpão horroroso…
Como se n bastasse termos perdido um predinho de grande valor estético pra construção disso aí, reparem na qualidade da construção que veio depois: Vejam como a linha do telhado parece “torta”, o que comunica desleixo, como o acabamento intencionalmente liso e chapado é grosseiro, dá pra ver exatamente as camadas de reboco aplicadas, aliás é por isso que muitas construções antigas tinham tantos ornamentos, é um recurso que mascara o desgaste da fachada e alivia a impossibilidade de se fazer grandes superfícies lisas e por fim essa cor, chamativa, gritante, destoante, quase como se fosse uma sede da Mancha Verde (Nada contra a torcida, me refiro apenas a cor utilizada), uma verdadeira aberração arquitetônica