Hoje quando passamos pela “depressiva” Avenida do Estado, temos a má impressão de estar em uma via completamente esquecida pelo poder público. Entretanto, nas primeiras décadas do século 20 a situação era bastante diferente. Tal qual ilustra o anúncio abaixo, de 1953 que anunciava um empreendimento imobiliário de 243 casas em uma área de 30.000m².
Apesar de ser uma ilustração, é possível ter uma noção de como era a região naquele tempo. A área já era uma grande avenida, possivelmente bem movimentada, mas ainda atraia construtoras e incorporadoras da época a investir em residências por ali.
Contudo, o tempo foi passando e o crescimento mal planejado e desordenado transformou a região em um área caótica. Destas construções quase nenhuma sobreviveu. Como o anúncio diz “243 casas construídas (não prometidas)” podemos presumir que todas chegaram a existir, entretanto desse conjunto atualmente restam apenas meia dúzia cuja arquitetura nos remete ao formato original apresentado na publicidade.
Trata-se de um belo conjunto composto por comércio e residências. Foi construída em um padrão arquitetônico bastante comum à época e que hoje é muito raro de se encontrar, especialmente na região central de São Paulo. São residências pequenas geminadas ao armazém que se estendem pela Rua Odete Sá Barbosa, além do próprio ponto comercial (que originalmente foi uma casa)e de uma casa um tanto maior, cujas dimensões diferenciadas possivelmente se dá devido ao formato do lote..
Como não são tombados como patrimônio histórico municipal (acorda DPH!) os imóveis vão sobrevivendo à própria sorte e possivelmente pela falta de interessados em comprar e construir algo ali, trecho consideravelmente ermo da avenida, especialmente à noite. Enquanto a rua lateral é essencialmente residencial.
Embora não estejam em total originalidade, boa parte dos imóveis permanecem bem fiéis ao que era na época de sua construção. Enquanto as duas casinhas do lado da rua Odete Sá Barbosa tiveram alterações significativas, os demais permanecem com sua estrutura praticamente inalterada, embora mal conservada.
O armazém – que como dissemos, outrora também foi uma casa – teve apenas suas portas comerciais mais antigas, que eram bastante estreitas, alteradas por outras mais atuais e espaçosas. A casa maior, que fica à esquerda do armazém, perdeu sua porta original, de madeira, e ganhou uma porta de aço, já que a residência perdeu um pedaço de sua área para o ponto comercial.
Apesar destas alterações todas, uma boa recuperação da fachada e uma pintura bem feita daria aos imóveis um aspecto bem mais atraente. O bar que funciona ali, embora não tenhamos fotos para apresentar, é uma viagem no tempo interessante também. Uma vez que sua última reforma parece ter sido na década de 70, com azulejos coloridos bem típicos daquela época. Voltaremos lá para tirar novas imagens.
A VILA SÁ BARBOSA:
Embora o local deste imóvel seja o Bom Retiro, ali também é a Vila Sá Barbosa. Todas as ruas desta vila, que é estritamente residencial e bem agradável para morar, levam nomes desta família.
Apesar do mapa acima, de 1913, não colocar o nome das ruas elas chamam-se: Rua Odete Sá Barbosa, Benedita Sá Barbosa, Mathilde Sá Barbosa e Gabriela Sá Barbosa. Consultamos o Dicionário de Ruas da Prefeitura de São Paulo e infelizmente eles não tem informação de quem foram os Sá Barbosa.
É possível que se trate de familiares de Francisco Sá Barbosa, que dá nome a outra rua no Bom Retiro que fica alguns quarteirões dali. Nós até abordamos as casas daquela rua recentemente (veja aqui). Agora fica a pergunta: Quem foram os Sá Barbosa que dão nome as ruas da região ? Se você tiver alguma informação, entre em contato conosco ou deixe um comentário. Ajude a montar a história de São Paulo.
Será que um dia veremos a outrora bela Avenida Tamanduateí, hoje Avenida do Estado, reurbanizada e com o rio despoluído ? Eu não tenho muitas esperanças e você ?
Veja mais fotos dos imóveis (clique na foto para ampliar):
Respostas de 26
São graciosas estas casinhas. Todas têm quintal? Ou o desenho inicial – do anúncio – se deu “liberdade artística” ? (Nada contra, é comum até hoje).
Dá até uma dor no coração em ver estas fotos e saber que o bairro era lindo…
Oi Douglas, uma vez li consultei um trabalho de estudantes de arquitetura do Mackenzie (2000 ou 2002) sobre a Vila Sá Barbosa. Um nome da MPB e ligado ao rádio paulista, o cantor e compositor Roberto Amaral (1930-1988), nasceu e passou a infância na Vila Sá Barbosa. Ele sempre pertenceu ao “cast” da Rádio Record. Foi casado com a cantora Neyde Fraga (também da Record). Irmão do grande músico Nestor Amaral.
Em 1960, Roberto Amaral gravou com a cantora Esterzinha de Souza o LP “Astros do disco” no qual foram interpretadas músicas como “Lampião de Gaz”, de Zica Bergami, “Nada além”, de Mário Lago e Custódio Mesquita, “Serenata do adeus”, “Conceição”, “Sistema nervoso”, de Wilson Batista, “Terra seca”, de Ary Barroso, “Meu mundo caiu”, de Maysa, e “Chega de saudade”, de Vinícius de Morais e Tom Jobim, entre outras.
É um filho ilustre da Vila.
Poderia dar uma olhada no palacete do Barão do Rio Pardo em Campos Elísios-SP, pois seu estado atual é uma lástima.
Olá Ewerton, como vai ?
Ele foi um dos primeiros que publicamos, há cinco anos atrás, e constantemente o abordamos aqui.
Vá em: Imóveis Antigos -> Bairros -> Campos Elíseos para encontrá-lo, ou digite Barão do Rio Pardo diretamente na busca.
Abraços,
Eis algumas escassas informações acerca de Francisco de Sá Barbosa.
Figura de relevo no comércio e na Pauliceia. Donos de terras e propriedades no centro, Santa Ifigênia e Luz. Antigo comerciante paulista. Residente na freguesia de Santa Ifigênia. Casado com Benedicta Assumpção Albuquerque. Era o 2º matrimônio de Benedicta. Do 1º casamento teve uma filha, Felisberta Pinto de Camargo Ribas, falecida em 1899.
O casal teve vários filhos: Vicente (? – 1926), Francisco Júnior (? – 1931), Mathilde, Odette, Maria Gabriella (? – 1900), Benedicta e Amélia (1880-1903).
Em abril de 1878, a escrava Galdina, de Francisco de Sá Barbosa, havia fugido de casa e fora encontrada pelo subdelegado da freguesia de Santa Ifigênia e conduzida a cadeia. Sendo depois removida por seu dono.
Em 1880, Francisco e seu sócio Dyonisio Pereira dos Santos, dissolveram a firma “Santos & Pereira”, com sede à Rua da Estação, nº. 12, freguesia da Luz, e com filiais em Santos, Sorocaba, Campinas e Rio de Janeiro.
A Vila Sá Barbosa foi de sua propriedade e as ruas levam os nomes de suas filhas.
Francisco de Sá Barbosa faleceu na capital paulista, em sua residência à Rua Barão de Itapetininga, nº. 30, em 8 de agosto de 1904. O enterro deu-se no Cemitério da Venerável Ordem Terceira do Carmo, na Vila Buarque.
Sensacional Thais! Onde encontrou isso ? Abraços
E uma pesquisa que fiz em jornais antigos, quando montei a biografia do cantor Roberto Amaral….
Sensacional, não encontrei nada no Correio Paulistano e nem do Estado. Te devo uma! Vou fazer um especial só sobre a Vila Sa Barbosa.
Muito bem! A Vila Sá Barbosa é um recanto especial e merece um post destacado. Posso te enviar, caso seja pertinente, uma foto do cantor Roberto Amaral. Filho ilustre da Vila. Obrigada.
Esse tipo de matéria deixa o coração da genre mais feliz.
É inacreditável o quanto o poder público pode enfeiar uma cidade, com obras mal planejadas e de necessidade duvidosa. E sempre há como piorar: na gestão Pitta, iniciaram-se as obras do Fura-Fila, terminadas vários anos depois, na gestão de Serra. Com o Fura-fila, ficou ainda mais feia essa região, com recuperação cada vez mais difícil.
http://www.jusbrasil.com.br/diarios/4360101/pg-38-poder-executivo-diario-oficial-do-estado-de-sao-paulo-dosp-de-27-08-1953/pdfView
Essa pagina do DOSP (1953) comenta sobre a desapropriacao da Vila pela Fazenda Estadual. Na ocasiao, os imoveis pertenciam a Helena de Sa Barbosa.
Douglas e Thais,
nasci na Vila Sá Barbosa e sou proprietário do comércio que fica na entrada da vila (esquina com a Rua Jorge Miranda).
Aguardo ansioso pelo especial sobre ela, bem como, os convido para uma visita ao meu bar. Será um prazer recebê-los.
Abraço,
Marco Bressan
Olá Marcos, como vai ? Devo ir ai muito em breve.
Qual é o melhor horário para te encontrar e melhor dia da semana ? Abraços
Opa, estou bem, Douglas e você?
Nosso restaurante fica aberto de 2a a sábado, horário comercial. E nas 6as feiras, abrimos tb à noite. Estou sempre por aqui.
Fico no aguardo, abraço.
Reparei em mais duas coisas: as pinhas decorativas na platibanda e o no mapa o nome da rua Vidal de Negreiros era Javary (nome de um rio da Amazônia).
E ai douglas, faço arquitetura na USP de São Carlos e estou fazendo um trabalho sobra a vila economizadora e aparentemente a localização da vila neste mapa me parece equivoca, pois ela faz divisa com a rua São Caetano com a rua da Cantareira, é um pouco mais para baixo 😉
Letícia, o mapa – conforme explica o texto – não é da Vila Economizadora mas da Vila Sá Barbosa que é o destaque do artigo.
Olá Douglas,
Você saberia me dizer se a numeração da av. do Estado foi alterada em algum momento?
Estou procurando algum mapa das ruas com numeração da época da década de 1930 e não encontro. Segundo imagino a numeração começava no parque D.pedro próximo à rua da Mooca.
Você poderia me ajudar? O nº específico que procuro é o de 165.
Olá Antonio!
Em meados da década de 30, não me recordo o ano exato agora, toda a numeração da cidade foi alterada.
Olá Douglas, como vai??
Sou Marco Antonio Topgian, nasci na rua Doutor Rodrigo de Barros com rua Benedita Sá Barbosa em 1965, em 1967 meu pai comprou uma casa na Benedita Sá Barbosa 38 onde vivo até hoje.
Sou amigo do Marco Bressan q postou nesse artigo.
Aqui na vila temos histórias interessantes como a de um morador das décadas de 50/60/70 chamado “Pingo” q foi um craque em futebol (aliás aqui na vila sempre teve craques inclusive o q vos fala kk) e uma vez a diretoria do time do Flamengo do Rio veio em sua casa para contrata-lo, o mesmo foi e em sua primeira semana no clube ele furtou todos os pertences dos jogadores no vestiário e voltou para São Paulo. Passou um período, a diretoria do Flamengo voltou a sua casa e disse à ele para voltar para o clube e fazer um contrato e esquecer o ocorrido….
Morar aqui é maravilhoso, um lugar tranquilo guardado pela polícia militar, é uma área militar, ao lado do metrô, o menor índice de criminalidade da capital, por exemplo nesse momento q escrevo já faz 11 minutos q não passa um veículo, essas coisas não têm preço.
Um abraço amigo.
Olá, Douglas. Tudo bem? Estou fazendo uma pesquisa para a família (portuguesa) de Dyonisio Pereira dos Santos, sócio de Francisco de Sá Barbosa. Você tem algo mais sobre a empresa Santos e Barbosa? Um abraço!
A avenida do Estado é uma das mais largadas da cidade, especialmente o trecho próxima à região central.
Olá Douglas, como vai?
Sou moradora da Vila Sá Barbosa, encontrei um documento da minha bisavó de 1925, ela já morava na casa onde resido.
como estava em 01/24: https://maps.app.goo.gl/4khLL2kRQA8bKSeM9 e https://maps.app.goo.gl/eV7CXsqAySNnVyYs7