A demolição total do antigo presídio do Carandiru, na zona norte da capital paulista, foi algo que sempre achei apressado e desnecessário. Claro que manter todo aquele complexo não seria legal, mas eu defendo que um dos pavilhões deveria ter sido preservado e o restante dado lugar ao Parque da Juventude e a excelente Biblioteca São Paulo.
Fica sempre a impressão para mim de que a demolição de tudo foi para “apagar” da memória da população os horrores que ocorreram por ali na década de 90. Fico pensando aqui se o governo paulista fosse na Polônia se iriam demolir Auschwitz para tirar da lembrança… um memorial para a posteridade em um dos pavilhões preservados teria sido uma boa ideia.
Mas porque lembrei do presídio ? Para dizer que em Itapira, agradável cidade do interior paulista, sua antiga cadeia foi preservada e hoje serve a população local de outra maneira:
A antiga Cadeia de Itapira foi construída na primeira década do século 20, entre 1905 e 1909, e sua inauguração ocorreu no ano seguinte, em 1910. Por décadas o prédio serviu à população itapirense como presídio, onde quem cometia delitos tanto na própria cidade como nas regiões próximas ficava detido.
Após muitos anos de uso, o prédio foi tornando-se pequeno e obsoleto para a função carcerária e a cadeia local foi para outra endereço. Com isso discutiu-se pela primeira vez a necessidade de dar uma nova atividade ao imóvel, que ainda apresentava-se em excelentes condições de uso e estava construído em uma região central da cidade. Foi neste momento que implementaram ali o fórum da cidade.
E o fórum também funcionou no endereço do velho presídio por longos anos, até que em meados da década de 70, o fórum também deixou o imóvel e neste momento o prédio ficou sem função. Entretanto este “vazio” felizmente não iria durar muito tempo.
Em 1976 a Prefeitura de Itapira decide fazer uma importante mudança para a cidade, transformando a velha cadeia e antigo fórum em uma casa de cultura. As obras preservaram a originalidade do imóvel e apenas removeram os muros que cercavam a cadeia pública, mantendo o pórtico de entrada, o que integrou o prédio ao seu entorno. Após alguns anos de obras o imóvel finalmente é reinaugurado, como um espaço definitivo para a cultura itapirense, em 1980.
No prédio funcionam atualmente uma série de atividades ligadas à cultura. No andar térreo está instalada a Biblioteca Municipal “Mário da Fonseca Filho” e uma sala de pesquisas. Já no piso superior está o auditório onde realiza-se eventos culturais. E é neste mesmo andar que funciona a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
A memória da antiga cadeia não foi apagada da memória do munícipe, como fizeram em São Paulo no antigo Carandiru. O pórtico, como já dissemos lá no início, foi mantido e nele é possível ver, pelo lado de fora, a inscrição “cadeia”. Ao sair da Casa de Cultura é possível avistar no mesmo pórtico, do lado de dentro, e a inscrição com a data de inauguração do prédio.
A preservação de um local histórico mesmo que de passado triste, como presídios e cemitérios por exemplo, é importante para que a história não seja esquecida. Quando esquecemos um fato trágico podemos vir a repeti-lo. Felizmente a Cadeia de Itapira foi preservada e, além de ter se transformado em um importante centro de cultura, consolidou-se em um dos mais bonitos pontos turísticos de Itapira.
Veja mais algumas fotos da Casa de Cultura João Torrecillas Filho:
Respostas de 9
Ave, amigo! Que bela matéria. Sei que é trabalhoso, mas eliminar os fios elétricos deixaria a foto bem mais charmosa… Abração!
Renato, tudo bom ?
Sei que deixaria a foto mais charmosa, mas nosso objetivo é mostrar o local exatamente como ele é.
Abraços
o bom mesmo é entender o que a imagem representa , então os fios e essas coisas também podem fazer parte do local, e na maneira de descreve-lo.
Excelente trabalho, é muito bom a cidade onde moramos mostrando sua história !!!! Valeu mesmo
Então,Douglas…alguns artigos atrás,quando você esteve na Vila Zelina(Vila Prudente),eu lhe falei sobre uma casa muito antiga,na rua Dos Ciclames(e você sequer me respondeu,com certeza,não se interessou)que tinha umas placas de arquiteto na entrada.Pois bem,tal casarão,belo e muuuuuuuuito antigo já veio abaixo.Eu gostaria de saber para que você coloca uma chance para a nossa interatividade,se ela não serve para nada????Além dessa,eu já comentei vários artigos seus e você jamais respondeu.Vou parar!!
Olá Luiz,
Infelizmente não dá para responder a todos, são dezenas de comentários todos os dias e a interatividade nem sempre é possível.
Também não é sempre eu quem libera os comentários.
Contudo, todos os emails e comentários são lidos e tentamos ir atrás de tudo. No caso, embora eu não tenho respondido eu fui até lá e acabamos por fotografar toda a rua, desde a CEPAM até o final na rua das Giestas. Em breve as fotos estarão por aqui…
belo imóvel em estilo fortificação militar,arquitetura comum em prédios com esta finalidade,o de socorro próximo a itapira também possui este estilo,apareça por aqui douglas para ver os nossos casarões sera bem vindo,abração.
UOU!!!!!!! espera ai… esse prédio tem de ser preservado porque é de uma arquitetura que não existe mais hoje em dia, diferentemente do Carandiru, que era praticamente uma fortaleza quadrada, horrorosa e sem graça, isso porque não falei dos maus fluídos que deveriam circular naquele lugar, veja bem, não sou simpatizante do governo do Estado de São Paulo (muito pelo contrário), mas nessa ocasião, a decisão de demolir o presídio foi mais que acertada, pelo menos o lugar deu vez a outro que serve inclusive para encontro de carros antigos.
Boa tarde Douglas. O Correio Paulistano (1900 n° 13172) informa: “Os srs. Tapajós, Maragliano & Cia., e os engenheiros Luiz Dulpy e Van Varemberg, vão depositar no Thesouro do Estado, a quantia de 3:000$000, como garantia da proposta que pretendem apresentar para a construção de uma cadeia em Itapira.” Você sabe se um deles construiu essa cadeia?