Certo dia caminhando pela alameda Barão de Limeira, em Campos Elíseos, região central de São Paulo, me deparei com a bela calçada da sede da Folha de S.Paulo, feita em pedras portuguesas. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi a calçada de seu imóvel vizinho, com um desenho muito interessante e que lembra desde um disco de telefone analógico a uma flor estilizada.

O símbolo não era totalmente estranho para mim, mas não associei exatamente ao que era de imediato. Embora já até tivesse fotografado o belo galpão onde fica essa calçada, nunca tinha reparado no piso. Fui para casa com a missão de descobrir o que era aquele logotipo e o que funcionou ali no passado. E encontrei a sua origem.
Neste galpão, veja só, funcionou a primeira loja (depois sede do grupo) da Rede Zacharias de Pneus, cuja trajetória remonta à primeira metade do século 20, precisamente em 1934, quando o filho de imigrantes libaneses Adhmar Zacharias abriu neste endereço seu estabelecimento dedicado a pneus, na época como Casa Zacharias de Pneumáticos.

Adhmar foi um empresário de destaque no segmento e sua loja logo se transformaria em referência no setor de serviços e venda de pneus de primeira linha, expandindo sua rede para diferentes pontos da capital e interior do estado. A empresa teve seu ápice especialmente nos anos 1970 quando passou a produzir comerciais para exibir na televisão.

Em meados da década de 1950 a marca demoliu o velho galpão que ocupava desde 1934 e construiu este que existe até os dias atuais. A edificação, atualmente com a fachada um tanto mal conservada, foi pensada para ser a sede do grupo e não foram poupados esforços para que fosse uma construção admirável. Trata-se de um galpão de dois andares, originalmente com ampla loja e estoque funcionando no piso térreo e almoxarifado, refeitório e escritórios no andar de cima, onde além de uma área envidraçada existe uma sacada originalmente ajardinada.
O grande destaque da fachada da Zacharias é o belo mural artístico feito em pastilhas de cerâmica, de autoria do artista plástico e decorador português Álvaro de Landerset Simões, que tem hoje poucas obras encontradas no Brasil, mas que em São Paulo foi um dos fundadores do Instituto de Artes e Decoração (IADÊ). Abaixo você confere as duas partes do painel, sendo um voltado para rua e outro para a sacada.


HISTÓRIA TRÁGICA E FIM MELANCÓLICO
As coisas começam a tomar um rumo diferente em 1999 com a morte de dois filhos de Assad Zacharias, filho do fundador Adhmar, em um acidente.

No ano seguinte foi a vez do próprio Assad morrer e com isso a empresa ficou nas mãos da viúva, Anna Maria Zacharias, na época uma dona de casa pouco acostumada com a rotina dos negócios. A empresa, que chegou a ter 92 filiais na década de 1980, começou a acumular dívidas que não foram pagas, levando o grupo a entrar em recuperação judicial e encerrar definitivamente as atividades em 2010.
Desde então o belo galpão da alameda Barão de Limeira ficou fechado por longos anos e depois vendido para o Grupo Folha, que usa o espaço como estacionamento de veículos. Apesar do fim da empresa, o nome Zacharias ainda é forte no mercado — e lembrado com carinho por entusiastas automotivos.


