Houve um tempo em São Paulo, já distante, que o abastecimento de água se dava quase que exclusivamente pelos chafarizes e fontes da cidade. Quem não quisesse se valer destes para ter água para seu consumo tinha então que se aventurar até um dos rios como Anhangabaú, Tamanduateí ou Tietê.
Os chafarizes da cidade inicialmente ficavam restritos aos locais mais movimentados da então pacata capital paulista, sendo um dos mais conhecidos o chafariz do Largo da Misericórdia, de autoria de Tebas. A ilustração abaixo, desenhada por Miguel Benício Dutra mostra como ele era.
No final do século 19 estima-se que existiam mais de uma dezena de chafarizes espalhados em São Paulo, muitos deles instalados estrategicamente em vias de entrada e saída da cidade de modo a facilitar a vida de viajantes com seus cavalos. Um exemplo é o do Largo do Piques.
Com o tempo a adoção do sistema de água encanada foi transformando o abastecimento na capital. Já não era mais necessário ir até os chafarizes para pegar água para o consumo. Entretanto a água entregue nas residências era cobrada (como hoje em dia) o que levou muitos paulistanos a resistir à adoção da água encanada.
Isso forçou o governo na década de 1890 a desativar diversos chafarizes e bicas espalhados pela cidade, de modo a forçar a população a ligar seus prédios a distribuição de água do sistema da Cantareira. Isso levou a aposentadoria dos grandes tanques de água que abasteciam os chafarizes da capital, como os tanques municipal e Santa Tereza.
Apesar disso alguns chafarizes permaneceram ativos pela cidade, seja para servir de fonte de água para cavalos ou mesmo para consumo de pessoas que estavam nas ruas. A transformação dos transportes de tração animal para veículos trouxe uma nova redução dos chafarizes e eles praticamente sumiram da cidade e do noticiário.
Entretanto sabe-se que mesmo assim um ou outro sobreviveu pela região central de São Paulo, servindo mais como bebedouro e monumento público. Dados e imagens deles são quase inexistentes de modo que a fotografia abaixo é uma rara demonstração de um deles ainda em pleno funcionamento em meados da década de 1950.
Esse chafariz confeccionado em ferro ficava localizado no encontro de duas importantes ruas do centro de São Paulo: Triunfo e General Couto de Magalhães. Ao fundo onde há uma construção que funciona o Hotel Itajubá e uma padaria podemos ver à esquerda o início da rua Washington Luís.
Nota-se pela foto que é um chafariz para uso como bebedouro para pessoas e animais, porém nesta época provavelmente o uso animal já deveria ser bem raro.
Não foi possível encontrar qualquer informação sobre quando esse chafariz foi removido dali. A imagem é certamente dos primeiros anos da década de 1950 pois apesar dos dois carros em mais destaquem serem respectivamente da década de 1940 e 1930 ao fundo é possível observar a traseira de um Ford dos anos 50.
O LOCAL DO CHAFARIZ ATUALMENTE:
Fomos até o lugar exato da fotografia antiga para conferir se o local ainda está como na foto ou se sofreu alterações. A nossa grata surpresa foi encontrar a área muito parecida como era no passado.
Podemos observar que o imóvel em destaque na primeira fotografia felizmente encontra-se lá até hoje e preservado. A padaria que desde 1953 ocupa o térreo é a Cascatinha, já o andar superior ainda funciona o Hotel Itajubá.
Ao fundo da fotografia antiga há um prédio em construção e hoje já o vemos concluído. Já o sobrado que aparece no canto esquerdo da imagem dos anos 1950 foi demolido e em seu lugar foi erguido um edifício residencial de 10 andares com comércio no térreo.
Por fim o local exato onde estava o chafariz hoje é um pequeno jardim de chuva:
Infelizmente nenhum desses chafarizes de ferro sobreviveu até os dias de hoje. Possivelmente foram todos vendidos como sucata e reciclados como outros objetos de ferro. Uma pena!
Respostas de 17
ola Gostei das Fotos e a demonstraçao
Excelente matéria sobre os chafarizes de São Paulo. Lembro, quando criança de ter visto alguns, mas não consigo me recordar exatamente quais.
O único que me lembro bem é o da Ladeira da Memória.
Triste
Muito bom o registro! Em tempo, o nome da padaria é Cascatinha 😉
“Desde 1953”.
O antigo Centrão dos paralelepípedos!
Como a agua saía desse chafariz? Já era agua encanada ?
Existe fonte e chafariz, quando é fonte é água geralmente vindo de um lençol ou fonte de água próxima. Quando é chafariz normalmente é encanado.
Mais um marco da história da cidade desaparecido!
Tenho evitado acessar esta magnífica página, porque me entristece demais ver a pseudoevolução das cidades, em que as belezas são destruídas. O mesmo ocorreu em Santo André – SP, na Rua Cel. Oliveira Lima, em que bonitas fontes (creio que fossem chafarizes, com água encanada, não sei ao certo) foram eliminadas, assim como são impiedosamente destruídas lindas construções antigas, que cedem lugar a modernos prédios sem graça, ou pior, a boxes comerciais (como fizeram com uma linda casa na antiga vila residencial da Rua Savino Degni).
Parabéns Douglas Nascimento por seu trabalho tão precioso em preservar a memória de São Paulo.
A Prefeitura de São Paulo, tem um estoque de itens retirados de locais públicos que são guardados.
Podiam abrir isso para o público.
Dizer o que tem lá, e nos deixar escolher onde colocar hoje.
Se tem, estão guardando por que?
acredito que não, em SP tudo o que é desativado vai pra um tal de DEMEC e de lá vai a leilão de sucatas
Havia chafariz no Trianon, ainda no começo dos anos 70, alguém se lembra?
Sim, eu me lembro bem.
Douglas, bom dia
“A padaria que não dá para identificar o nome na imagem antiga hoje em dia chama-se Cascatuba,”
O nome da padaria é Cascatinha, pois no seu interior há um pequeno tanque com peixes e uma cascata. vou conversar com os proprietários para verificar se há mais informações acerca do chafariz
Excelente matéria, Douglas. Esse chafariz e bebedouro, que poderia estar em algum museu, perdeu-se nos descaminhos do tempo na cidade com Alzheimer.
Parabéns pela belíssima matéria!
Amei a foto, as crianças da época e o chafariz.
É uma viagem no tempo…
Muito legal mesmo!