Tombamento dos trólebus já!

Erros sejam eles quais forem jamais deveriam ser repetidos. Entretanto parece que em São Paulo o poder público municipal tem memória muito curta e esquece de decisões equivocadas do passado, cometendo-as novamente. Aqui refiro-me à decisão intempestiva e mal planejada da extinção dos bondes elétricos da capital paulista.

Charge do 1968 do jornal O Estado de S.Paulo sobre o fim aos bondes na cidade

Corria o ano de 1968 quando São Paulo teve a sua última viagem de bonde. Para retirá-los de circulação e entregar suas antigas linhas aos poluentes ônibus movidos à diesel o então prefeito paulistano Faria Lima alegou que bondes eram lentos, ultrapassados e ineficazes. Era uma falácia que envolveu a população paulistana, que com as declarações de Lima acreditaram que realmente o problema era o modal e não a ineficiência municipal.

Mas o problema não eram os bondes, mas a total falta de investimentos públicos nesse meio de transporte coletivo que desde sua transferência da Light & Power, para a administração municipal quase não recebeu nenhum investimento, seja na renovação de frotas, melhorias no serviço ou adoção de novas tecnologias. O vilão não era o bonde, mas a própria prefeitura.

TRÓLEBUS – A NOVA VÍTIMA

clique na foto para ampliar

Eis que quase seis décadas depois da extinção dos bondes temos um prefeito que novamente culpa um modal ao invés de fazer um mea culpa de que o problema não são os trólebus, mas falta de investimentos e melhorias, tanto na frota dos veículos quando no sistema aéreo que os energiza.

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, decretou tal qual Faria Lima com os bondes, que os trólebus não servem mais para a cidade. Segundo suas declarações os trólebus “atrapalham” o trânsito da cidade, são velhos e serão substituídos em suas linhas por veículos, vejam só, movidos à diesel e também por elétricos, porém movidos a bateria.

Acontece que os trólebus são muito mais eficientes que os os veículos elétricos movidos a bateria. São totalmente servidos por energia limpa através da rede elétrica da capital paulista, enquanto os novos com bateria terão que após alguns anos de uso trocar suas baterias, ainda bastante poluentes e que não são exatamente recicláveis. O que acontece em São Paulo são interesses, que visam as gordas e bilionárias licitações que a prefeitura vai realizar para a troca desta frota.

ESTIMA-SE QUE ATÉ 2030 BATERIAS DE VEÍCULOS ELÉTRICOS SE TRANSFORMEM EM 43 MIL TONELADAS DE LIXO PERIGOSO. TRÓLEBUS, POR SUA VEZ, SÃO TOTALMENTE LIMPOS. (fonte)

Curiosamente está no governo de Nunes a ex-prefeita e atual secretária Marta Suplicy, uma conhecida inimiga dos trólebus e que quase o extinguiu por completo durante sua gestão. Desde sua investida contra os ônibus elétricos paulistanos pouco ou quase nada se investiu na manutenção e modernização da rede aérea que alimenta estes veículos.

Trólebus trafegando pela rua Líbero Badaró em 2012 (clique para ampliar)

Não podemos deixar novamente que um erro dessa magnitude ocorra em São Paulo. Sendo assim o Instituto São Paulo Antiga encaminhou um ofício ao vereador paulistano Toninho Vespoli (PSOL) para que entre com um pedido de tombamento dos trólebus paulistanos como patrimônio histórico de nossa cidade. Visando o tombamento das linhas existentes para uso exclusivo desse modal, mas com constante modernização da manutenção do serviço.

Grandes cidades ao redor do mundo ainda adotam os trólebus como um eficiente modal de transporte e com São Paulo não precisa ser diferente. A falta de manutenção e investimento não é motivo para a extinção destes veículos, mas a prova cabal que o problema não está no serviço mas nas mãos daqueles que os administram.

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Respostas de 9

  1. Eu & Esposa moramos há 22 anos na Europa, há 13 anos que nada vou às Américas. Gostaria portanto que o senhor postasse mais fotos atuais dos Trolleybus Brasileiros, ou seja, os de SP, e postasse, mas sem pôr textos nas fotos… Seria para arquivo pessoal já que fui projetista veicular e sou Designer de Transportes… Obrigado. Posso em contra partida via email lhe passar as fotos de Trolleybus que tirei em Belgrade Serbia semana passada, bem como os Trams GSP Tatra das linhas 2 5 7 e Duaweg linha 9 e tb os eletricos Higer Chineses novos na linha EK02. Em Belgrade tem de tudo, mas pecam !

  2. Perfeita tua análise Douglas.
    O mundo todo falando de trocar o transporte coletivo movido a petróleo pelo elétrico, aqui estamos na contramão.
    Na gestão da Marta Suplicy quase acabaram com o Trólebus, e agora mais essa investida contra esse modal que para áreas urbanas adensadas é ótimo pois não é poluente, e muito menos barulhento que os motores a diesel ou gás.
    Falta planejamento e investimento nesse modal, que já funciona, tem tecnologia adequada no Brasil, não emite carbono, e deveria é ser expandido em vias com corredores, por exemplo, de alta densidade para o transporte.
    O Brasil já tem gente que não simpatiza com ferrovia, e agora também tem os que não simpatiza com outros meios que utilizam rede aérea…

    1. Realmente é uma vergonha, podíamos estar bem mais a frente se não fosse essa má administração.
      > “O Brasil já tem gente que não simpatiza com ferrovia, e agora também tem os que não simpatiza com outros meios que utilizam rede aérea…”
      Isso é algo que sempre me deixou irritado, pois parte da população dificulta esse modal voltar. Quem já estudou um pouco da história sabe que no passado o Brasil tinha uma enorme malha ferroviária, especialmente entre SP, MG e RJ. Rapidamente elas foram sendo demolidas e sendo substituídas pelas rodovias, e graças a essa genialidade, hoje sofremos com uma dificuldade de avançar no desenvolvimento urbano, ficamos presos aos trânsitos inacabáveis e ao transporte público insuficiente.

  3. A solução dada pela prefeitura de São visa atender ao interesse econômico já que os veículos elétricos puros custam o dobro de um trolebus e os empresários ganham com isso.

    Já os trolebus tem energia de sobra sendo que não precisam de cabos o percurso todo além de fazerem parte da história da cidade e também do futuro poisnsao utilizados em países como China, México, EUA, Itália, Suíça entre tantos outros.

  4. Sim, plenamente a favor de tombar o MODAL trólebus contra eventuais e hipócritas “cortes de gastos”, como o atual prefeito.

    Mas tombar as ATUAIS LINHAS não é uma boa ideia devido ao dinamismo da cidade (a maioria das linhas de trólebus possuem demanda tão alta) e até dificulta a criação de novas linhas. Compensaria mais criar uma meta de quilometragem para o modal.

    1. Felipe me desculpe mas essa discussão teórica de tombar ou não as linhas se arrasta há mais de 10 anos e o “Respira” passou anos discutindo isso apenas entre seus membros, sem nada prático. Agora até que enfim – e nisso eu parabenizo o Douglas – alguém fez algo prático junto à Câmara Municipal.

  5. Parabéns pela iniciativa Douglas.
    Que o Criador abençoe e ajude essa iniciativa!
    Abraço Luís Fernando Janeiro

  6. Se tiver abaixo-assinado para esse tombamento, pode me chamar que eu dou assino com todo o prazer.

    Só aqui mesmo que isso acontece, o mundo todo convertendo seus transportes para o elétrico e aqui querem converter do elétrico para o combustível fóssil, que é poluente, mais caro, barulhento e ineficiente. Me pergunto o porque disso, algum desses ratos tem empresa de combustível? Uma nova montadora? É para “investir menos que é mais caro”? Impressionante tamanha falta de responsabilidade que temos em SP.

  7. Parabéns meu amigo Douglas, tenho o mesmo pensamento e estou à disposição no que puder para ajudar a preservar os trólebus de SP, inclusive fiz um vídeo documentário sobre os trólebus de SP e entre neste assunto também, meu whatsapp 11-95282-5937
    Meu canal do YouTube – Resgatando a História por Laércio Dart

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