Recentemente um conhecido jornalista, que eu até tinha admiração, fez um comentário jocoso sobre o meu trabalho, o qual realizo por 16 anos seguidos já. De acordo com as palavras do “homem das alturas” o São Paulo Antiga é um trabalho de “casa de vó reacionário”. Tamanha ignorância, ou despeito, talvez venha do fato que, diferente dele, eu jamais precisei de patrocínio ou apoio de construtoras e incorporadoras para ficar no ar. Aliás, muito pelo contrário, já recusei uma polpuda verba desse setor.
O que ele não sabe, talvez, é que meu objetivo principal na catalogação de casas, casarões, predinhos e palacetes é documentar para as gerações que virão, como era a São Paulo que eles não viram de perto. Assim como aprecio o trabalho de figuras como Militão Augusto de Azevedo, Aurélio Becherini e tantos outros que influenciam o meu trabalho. Saiba que nem tudo nada vida é dinheiro, ó homem das alturas.
Tome por exemplo esse belo sobrado antigo, erguido em meados do século 20, localizado na rua Milton, na região chamada Vila Isolina Mazzei, na zona norte da capital paulista. Até alguns meses atrás esse sobrado ostentava duas placas de “vende-se” em sua fachada, o que me fez rapidamente tirar as fotografias, com receio de que o pior pudesse vir a acontecer (por pior, leia demolição).
Há anos passo em frente esse sobrado e sempre me imaginei morando nele. É o tipo de imóvel que eu adoraria comprar. Casa antiga, ampla, bem cuidada, portões baixos, jardins, varanda no andar superior. Para ficar perfeito só faltou nela um mural de azulejos em uma das paredes laterais, algo que eu poderia resolver facilmente indo em um dos vários cemitérios de azulejos que existem na capital paulista.
Felizmente o imóvel foi vendido e quem o comprou o adquiriu para moradia e não para demolir. Tão logo as placas de venda foram removidas eu fiquei muito apreensivo, mas felizmente nada de ruim aconteceu. Agora é torcer para que a casa permanece sempre assim, preservada, e desejar que seu novo(a) proprietário(a) seja muito feliz nessa belezinha da rua Milton.
Sobre ser fotógrafo de “casa de vó” como disse o jornalista das alturas, isso não me ofendeu, pelo contrário, me fez crer que sempre estive no caminho certo. Daqui 50, 100 anos meu trabalho será lembrado. Já o dele, não sei dizer.
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