Quem passa hoje pela frenética Avenida São João, pensa que ela é de ponta a ponta uma via contínua de prédios e imóveis comerciais menores, de dois ou três andares. Entretanto, poucos percebem que nesta mesma avenida resiste uma bela sobrevivente do início do século 20, e que hoje pode ser chamada de: a última casa da Avenida São João*¹.
Localizada no número 1767 da São João, esta bela residência dos primeiros anos do século 20 foi lar até poucos anos atrás da Família Ferrara. Imigrantes italianos, os Ferrara viveram por gerações neste imóvel até que por algum motivo, que desconhecemos, a casa foi desocupada cerca de dois anos atrás.
Mais que uma simples residência, este imóvel é o símbolo único de um período áureo da Avenida São João que hoje não existe mais. De um total de 10 casas que existiam neste trecho desta via entre a rua Helvétia e a Alameda Glete apenas esta, a última delas, sobreviveu.
A fotografia a seguir, de 1952, mostra a casa (última na ponta direita) junto de suas demais vizinhas que viraram pó entre meados dos anos 50 e 60, quando foram abaixo para dar lugar ao Teatro das Nações (também já demolido) e ao prédio vizinho a casa.
Por incrível que pareça esta casa, e a Família Ferrara, são heroicos sobreviventes. Sobreviveram ao “boom” imobiliário dos anos 50 e 60 quando todas as demais casas foram abaixo, sobreviveram ao Elevado Costa e Silva, inaugurado em 1971, e por fim sobreviveram aos anos seguintes que levaram a esta região de Santa Cecília a uma profunda deterioração.
Voltando no tempo, nos anos 50, esta região era completamente diferente. As ruas eram animadas e ocupadas por famílias, jovens e crianças. Tanto este trecho da Avenida São João como a rua das Palmeiras ficavam cheias de pessoas que visitavam as inúmeras lojas da área, como a antiga Loja Clipper (hoje uma agência do banco Bradesco) ou a elegante Confeitaria Elite. Hoje nada disso existe mais.
Contudo, a Família Ferrara que por tantas e tantas décadas deu vida ao local não está mais lá. Os mais antigos moradores deste trecho da Avenida São João mudaram-se cerca de dois anos atrás. Infelizmente não conseguimos apurar o motivo. Esperamos que estejam todos bem, felizes e com muita saúde. A casa ficou para trás, como tantas outras casas cujas famílias se mudam em busca de outro lugar para viver. Isto é algo absolutamente normal, evidentemente.
Esta casa, entretanto, não é apenas uma residência. Para mim, e possivelmente para muitos de vocês que estão lendo este artigo, esta casa é um símbolo vivo de uma São Paulo encantadora que ficou para trás. Símbolo também de uma Avenida São João ao mesmo tempo elegante e residencial que foi esfacelada pelo famigerado Minhocão que separou os dois lados da Avenida São João quase como um muro de Berlim suspenso por colunas.
Neste local hoje funciona uma hospedaria. Apesar de não ser mais uma residência, o imóvel está muito bem conservado na sua fachada e de maneira regular em seu interior. Abaixo uma fotografia do imóvel quando ainda era residência da Família Ferrara*².
Notas:
*1 – Existe também próximo dali outra casa, que é o famoso Castelinho que pertenceu a Família Reis. Porém apesar de ficar de esquina com esta avenida, ele fica na Rua Apa, por isso esta casa que abordamos neste artigo é, de fato, a última da Avenida São João.
*2 – Em 1961 este imóvel estava em nome do Sr. Oswaldo Ferrara. A título de curiosidade, o número de telefone da casa naquela época era: 51-3571.
Respostas de 37
Legal. 😀
Excelente matéria, Douglas! A casa é a mesma que aparece na Veja edição 2 de Junho de 1993, que tem inclusive uma foto do Sr. Oswaldo Ferrara.
É mesmo ? Não tenho esta Veja… gostaria muito de ver.
Veja aqui! http://veja.abril.com.br/acervo/home.aspx
Muito legal o post! Aliás, o site inteiro é excelente, parabéns!
Só de ficar lendo, dá uma saudade dessa época em que SP era tão diferente!
Baseado na dica acima, eu procurei no arquivo digital da Veja e vi essa matéria! Infelizmente, não dá pra enviar o link!
Já tive a revista (capa dos dinossauros), mas agora só no acervo digital mesmo.
Muito importante esse remanescente
é de uma inponencia,impar mas uma bela apresentação do glorioso Douglas..parabens por mas esta, belissima.mostra que resiste…
Douglas, quando puder dá uma olhada no acervo digital da Veja.
http://veja.abril.com.br/acervo/home.aspx
abs.
Seguindo a recomendação do colega acima, fui atrás da informação. Basta procurar a edição nº 1.290, de 2 de junho de 1993, p. 103. Lá aparece o Sr, Oswaldo Ferrara na janela, tentando entender o que aconteceu com a “moderna” arquitetura de Sampa.
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx
Esta foi uma São Paulo maravilhosa! Não volta mais!
A avenida São João era muito linda. Com esses bondes da foto, até parecia uma paisagem da Europa!
Hoje a Avenida São João, principalmente próximo do Elevado que já deveriam ter implodido virou um verdadeiro lixão!
veja.abril.com.br/acervodigital/
Mais um artigo simpático desta página. Às vezes em meu percurso me deparo com casinhas antigas e fico imaginando qual seriam suas histórias. Este site sem dúvida alguma me ajuda a conhecer as verdadeiras sagas dessas casinhas tão simpáticas. Obrigada pelo trabalho.
No documentário Elevado 3.5, sobre o minhocão e seus moradores, alguns membros da família Ferrara são entrevistados. O filme ainda inclui imagens antigas feitas em super 8 da casa e da região realizadas pelos Ferrara.
É verdade Diego! Eu tenho este doc e acho-o sensacional!
Tem um documentário do elevado costa e silva que conta a história da família é bem interessante, vale a pena assistir so não me recordo do nome.
Sou a última Ferrara. Tenho toda história da casa. Por favor, me passe o seu contato. Linda matéria.
Olá Silvia, como vai ?
Sensacional ver seu comentário aqui. Vou te escrever em particular.
O que foi que ela te disse? fiquei curioso
Silvia, olá! Estou fazendo um trabalho sobre essa casa para a faculdade, será que você poderia me contar um pouco sobre ela, se não incomodar?
Silvia, poderia entrar em contato comigo?
Estou fazendo um trabalho para faculdade sobre a casa
Oswaldo Ferrara é meu tataravô.
quantas histórias, minha bisavó morava na av São João, e meu avô era proprietário da Confeitaria Elite, saudades!!!!
Olá Eliana, como vai ? Sou o editor aqui do São Paulo Antiga.
Queria saber mais sobre a confeitaria, podemos conversar ? Vou te escrever em privado neste email que você se cadastrou. Abraços.
a maior vontade é de conhecer o interior da casa,que tambem deve ser lindo.sempre que ando pela são joão não consigo tirar os olhos dessa reliquia.
Douglas, acho que você já deve ter visto, mas em todo caso, no Curta “elevado 3.5” fizeram uma entrevista com a família ferrara, mostraram vídeos do acervo particular da família, mostrando um almoço de final de semana no quinta da casa e as crianças brincando na calçada em frente ao imóvel. é nostálgico….
Que alegria nos preenche o coração lermos isto.
Adoro este site,vejo toda semana e cada vez mais me encanto…moro no interior de São Paulo- São José do Rio Preto,onde também sofremos como demolições de antigos casarões. Quando passo em frente a algum me vem na mente o site e penso,um dia quero fazer um site similar,porém me falta tempo,mais parabéns… seu site é único,maravilhoso adorooooooooooooo.
Morei na V São João antes do minhocao como é chamado este elefante horroroso, lá na época desfilava escola de samba ,era muito divertido, hoje só abriga mendigo e usuário de droga ,está casa e uma exceção do que foi Santa Cecília, ainda resiste ao tempo adorei a matéria me trouxe ótimas recordações.
Olá Douglas, procurei algum meio de falar diretamente com voce. Mas não consegui um e-mail especifico, bem estou interessada em fazer jornalismo e gostaria de saber opinião de alguém formado para saber sobre a carreira e faculdade que indicaria em SP. Se puder me ajudar ,agradeceria muito.
Olá Anna, como vai ? Use o formulário de contato na parte superior do site que chega diretamente em meu email. abraços
Douglas, mais uma reportagem maravilhosa hein, e por incrivel que pareça eu já havia passado pelo local, e não sabia dessa informação detalhada, mais uma vez; muito obrigado!!!!
Confesso que fiquei emocionado ao ver essa reportagem. Quando criança (hoje com 58), acompanhava meu pai pois era a casa da familia de minha avó paterna. Muito obrigado pela oportunidade, adorava o porão dessa casa.
Curto bastante a São Paulo antiga, e acho louvável a preservação !!!!
admiro muito seu trabalho. Meu nome é Mauricio e sou de Guarulhos
Sensacional,sempre notei esta cada.obrigado
Douglas, gostei da matéria. Poderia nos atualizar sobre informações dessa casa, obtidas dos contatos com os familiares da família Ferrara? Obrigado
. no GM continua hospedaria, fato raro hoje em dia. e há sinal de degradação no reboco próximo ao portão: https://abre.ai/i5ip