São Paulo é uma cidade que despreza e devora seu patrimônio histórico como, talvez, nenhuma outra capital do mundo. Do nada, residências relevantes e históricas desaparecem para dar lugar a prédios ou outras edificações de gosto e arquitetura duvidosa. Isso acontece o tempo todo e hoje vamos mostrar um caso triste ocorrido em 2017 que até hoje me deixa incomodado:
Construída em 1938 e localizada no número 351 da rua Frei Caneca, no bairro da Bela Vista, este belíssimo palacete da fotografia acima foi encomendado e serviu de residência para o industrial paulistano Nicolau Filizola, filho do imigrante italiano Vicente Filizola, fundador da famosa fábrica de balanças Filizola.
Em estilo monções e projetada pelo arquiteto Alfredo Ernesto Becker, autor de diversas residências de alto padrão paulistano entre as décadas de 1930 a 1950, o palacete em estilo missões era uma das preciosidades da região, com seus cômodos amplos e ricamente decorados e com sua fachada farta em detalhes. Entre os detalhes externos, destaco o peculiar “poço florentino” que ficava na lateral da propriedade.
Abaixo, uma curiosidade: O telefone original da residência, de acordo com a lista de assinantes telefônicos para o ano de 1961:
A família Filizola residiu por longo período de tempo na rua Frei Caneca, inicialmente na residência do patriarca, localizada mais acima na rua no número 1071, que existe até os dias atuais e que há décadas é ocupado pelo Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro.
Infelizmente a residência em questão aqui neste artigo, não teve a mesma sorte do palacete em estilo florentino que era a residência do patriarca. O imóvel não resistiu à especulação imobiliária e foi vendido no ano de 2016, sendo colocado abaixo no ano seguinte. Em seu lugar foi construído o edifício da fotografia abaixo, com o sugestivo e irônico nome de “BemViver”. Como se alguém vivesse bem, de fato, em apartamentos que mais parecem cubículos.
Ao menos tivemos a felicidade de ver o trabalho do arquiteto ser imortalizado através das fotografias de Leo Liberman, para a revista Acrópole. Confira as imagens adicionais a seguir:
Respostas de 8
Douglas, boa noite. Confesso a vc que senti uma enorme tristeza ao ver as fotos do palacete e imaginar quanta coisa aconteceu por ali nesses anos todos e que nada mais existe. Cara, não é fácil, e vc sabe disso bem. Mas o que fazer num mundo complicado como esse que nós ajudamos a “construir”?? Uelma coisa que me ocorreu é que deveria haver um dispositivo legal que permitiria a demolição de um imóvel histórico como esse, mas obrigaria o adquirente a, num prazo x, reconstruir uma réplica do imóvel em um terreno de propriedade do Estado, usando o material retirado do imóvel original, isto em parceria com o Estado, que poderia angariar fundos para esse investimento (eu contribuiria). Pode parecer loucura para alguns, mas, sinceramente, não é possível aceitar isso passivamente. Há vários imóveis que conheci em SPaulo e que tiveram o mesmo e triste destino.
Um abraço, obrigado.
PS.: vc podia publicar seu Pix por aqui.
A matéria está indo muito bem, até chegar na parte de quem é feliz Vivendo em um cubículo?? Muitas famílias que batalharam muito para conquistar o seu lar. O autor da matéria não deveria falar com desprezo de algo que ainda continua sendo o sonho da maioria dos brasileiros. Infelizmente nem todos são abastardos igual o autor, mas com certeza são felizes sim, mesmo que seja em um cubículo.
Sua resposta confirma o quanto o brasileiro é alienado a ponto de achar que viver em um cubículo de 40m² é viver bem. É viver mal, muito mal… e pagar muito caro por isso.
Em um pais com grande dimensão territorial e abundância de lotes como o nosso aceitar pagar pequenas fortunas em pombais como esse é burrice. Veja bem que não estou me referindo a moradia popular, não é o caso desse condomínio.
Concordo com vc. Agora chamam esses cubículos de STUDIO e pagam horrores pelo metro quadrado. Burrice e especulação imobiliária.
É a ganância desses escrotos,não vêem o passado histórico dos fundadores se São Paulo. Ainda existe as balanças Filizola que estão se tornando raras. Deveriam guardar esses momentos bons.
Muito “triste e lamentável”, saber que em nosso país, não há cultura para “preservarmos” a “cultura”!
Trabalhei na Filizolla. Uma empresa centenária que se perdeu com a administração catastrófica dos playboyzinhos descendentes dos fundadores. A maior preocupação deles era com a temperatura do ar condicionado em suas salas.
A preservação do patrimônio histórico do país, seja privado ou público, deveria ser amparado por lei, na minha opinião.