São Paulo é uma cidade repleta de curiosidades e muitas delas passam despercebidas das pessoas mesmo estando bem diante de seus olhos, ou melhor, nesse caso, bem aos seus pés. Como o caso desta placa de ferro em pleno calçadão do centro histórico. Mas que placa misteriosa seria essa ?
Localizada na Praça Ouvidor Pacheco e Silva, mais precisamente bem no encontro das Ruas São Bento e José Bonifácio, repousa desde 1976 essa placa de ferro já bastante desgastada por mais de quatro décadas de pessoas pisando sobre ela.
Trata-se da placa de inauguração das “Ruas de Pedestres”, projeto ousado para a capital paulista desenvolvido e executado durante a gestão do então prefeito Olavo Setúbal (1975 a 1979) que fechou diversas ruas do centro ao trânsito de veículos e destinando-as exclusivamente para os pedestres, através da instalação de calçadões.
Ruas como Direita, José Bonifácio, São Bento, Quintino Bocaiúva, Barão de Paranapiacaba e diversas outras receberam o calçamento com mosaico português intercalados com placas de granito. Outras como a Praça Ramos de Azevedo e Barão de Itapetininga seriam fechadas ao público no primeiro semestre do ano seguinte. A novidade foi acompanhada da instalação de diversos outros objetos de mobiliário urbano, como bancos de praça, vasos, postes de iluminação e orelhões telefônicos.
De acordo com o depoimento do então presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) Ernest Mange ao jornal O Estado de S.Paulo*¹ essa mudança nas ruas do centro representava “um freio e uma inversão no processo de deterioração física , sujeira, agressão e insegurança, com a consequente mudança de comportamento da população em relação ao seu meio ambiente”.
A medida seria rapidamente estendida a outras regiões, inicialmente instalando calçadões no centro de bairros bastante movimentados como Santo Amaro e São Miguel Paulista.
UMA BOA OU MÁ ESCOLHA PARA O CENTRO ?
Até hoje o fechamento para veículos de um grande número de ruas da região central de São Paulo divide a opinião pública. Apesar da maioria ter achado que a iniciativa melhorou a situação para os pedestres, especialmente no quesito de acidentes, como atropelamentos, além de uma sensível redução da poluição, muitos acham que a iniciativa foi responsável por acelerar a deterioração do centro paulistano, especialmente a região do triângulo histórico e república, causando fuga de negócios e escritórios.
Para estas pessoas contrárias ao fechamento das ruas, muitos clientes de lojas do centro migraram para outros destinos que eram mais receptíveis aos automóveis, como os novos shopping centers que surgiam em São Paulo e donos de escritórios também migraram para outras regiões, como a Paulista e Faria Lima.
Agora, 45 anos depois desta iniciativa, uma nova oportunidade de mudança do centro histórico surge com o Programa Requalifica Centro, que promete renovar os ares da região.
Recentemente a Rua 24 de Maio foi reaberta ao trânsito de veículos. Fica uma pergunta ao leitor: as ruas de pedestres do centro de São Paulo foram uma boa ou má ideia ? Opine.
Nota:
*1 – Entrevista publicada no jornal O Estado de S. Paulo, edição de 10/12/1976 pp 42
Respostas de 25
Olá Douglas.
Existe uma placa destas também no cruzamento das ruas Barão de Itapetininga e D. José de Barros.
Trabalhei no Centro por mais de 40 anos. O fechamento de ruas para o trânsito acabou com o centro histórico de nossa Capital. Já dizia um velho ditado inglês: No park, no business” Se não há carros, não há estacionamentos, se não há estacionamentos não há comércio, se não há comércio, não há pessoas e sem pessoas há a deterioração da região, como de fato houve. O que teriam que fazer seria abrir as ruas,incentivar a abertura de estacionamentos com impostos mais atrativos e facilitar a vida de quem prefere ir de carro para suas compras. Deixar o cidadão decidir o que ele prefere: ir de carro ou de transporte público ao Centro. Da maneira que está, só há uma única opção, ir de transporte público que ainda não está digno de uma cidade como São Paulo.Participei da ONG chamada Viva o Centro patrocinada pelo Banco de Boston sob o comando de Hentique Meirelles. Estive nesta ONG por mais de 10 anos e fui presidente de uma Ação Local. Muitas ações foram tentadas, mas sem gente e sem comércio o projeto fracassou.
Caro colega,,acredito que a deterioração do centro e a fuga das grandes empresas foi o excesso de ambulantes bancado por uma prefeita populista no final dos anos 80 e início dos anos 90. As ruas ficaram intransitáveis para os pedestres e a competição dos comerciantes pagadores de impostos com os ilegais era desigual.
Concordo plenamente! O negócio era razoável (mas já não era bom) com Jânio, e com Erundina foi o fim….acabou com tudo! Trombadinha e camelo juntos acabaram com o centro! Sou morador vivi o antes e o depois. Melhorou um pouco com Marta e Kassab mas pouca coisa! Piorou de novo com Haddad
Eu discordo, a degradação do centro vem desde os anos 50 e a cada ano piora mais, o esvaziamento da região central é muito mais antigo que se imagina.
Discordo de vc, pois trabalhei no centro de São Paulo na década de 60 até princípios da década de 70 e as ruas naquela região eram bem movimentadas, havia alí poucos camelots, a rua Direita era na época muito mais movimentada, que a rua 25 de março, foi exatamente o crescimento descontrolado dos vendedores ambulantes que tornaram o centro da cidade um lugar difícil de se visitar hj, devido ao alto í
ndice de roubos, onde ladrões se confundem com camelots e trausoentes
Soma-se a isso, uma preocupação/ OBRIGAÇÃO do chamado PODER PÚBLICO paulistano em gerar empregos para um contingente cada vez maior de pessoas desempregadas e, como tal, desesperadas(eu compreendo). Então, o comércio dito INFORMAL cresceu, apareceu e agravou o problema. Sujeira, bagunça, roubos, etc. Caos.
Concordo com o Almir…
Dizer que não tem gente no centro??? Parece q vc nunca foi lá… As ruas são intrafegaveis… Inclusive a pé… Se tivessem carros nas ruas, o tráfego de veículos seria impossível… Assim como acontece na Santa efigenia… Q pode passar carro, mas é impossível andar por lá de carro.
Em Curitiba foi feito o mesmo projeto na mesma década: a rua mais comercial do centro, chamada XV de Novembro, foi fechada para os carros e lá foram instalados vasos de flores, chafarizes, muitos bancos de praça e postes.
Resultado: em pleno 2021, a rua é supermovimentada (com movimento inclusive à noite), bonita, bem cuidada. O comércio é diversificado, os pedestres andam com tranquilidade entrando de loja em loja e usam os bancos, há muitas flores e poucas portas para alugar. Ah, e os prédios são bem preservados. É um centro vivo. E não tem nem metrô.
Ou seja, não é só carro e estacionamento que definem o sucesso de uma área central/ comercial. É política pública adequada.
Perfeito!
Nem tudo o que funciona bem em uma cidade funciona bem para outra. Quando os “shoppings” se desenvolveram nos bairros, o Centro morreu.
Se você não pensar na população que se locomove de carro – e que não conseguiria estacionar perto das lojas do centro – ele vai continuar assim. Morto. Estagnado.
O centro não morreu por causa dos shoppings, sua deterioração é bem anterior a eles, digamos apenas que foi a pá de cal que faltava para sepultá-lo.
Curitiba é outro nível.
Em Curitiba não há a quantidade de MORADORES DE RUA que há em São Paulo. Nem em Porto Alegre e nem em Florianópolis; nem em Vitória e nem em Belo Horizonte. E etc, etc, etc. Ponto.
Não adianta permitir a entrada dos carros nas ruas do centro se essas estão sempre congestionadas e eles
acabam ficando parados na maior parte do tempo…
Acho que algumas ruas com certeza devem permanecer fechadas, mas algumas deveriam ser abertas possibilitando ligações para desafogar a ligação do Anhangabaú, por exemplo o Viaduto Santa Efigênia, que já teve tráfego de veículos é um exemplo como aproveitar e fazer a contra rotola, utilizando a Maria Paula, Senador Queiroz, Av Ipiranga e Av São Luiz
Fechar as ruas foi uma excelente ideia. Um pouco desconfortável sim mas pra quem tem preguiça de andar. Associar o progresso aos carros e aos estacionamentos é um erro comum quando os carros são considerados mais importantes que as pessoas. O que é preciso é ter iniciativas da prefeitura e de agentes privados que sejam baseadas nas pessoas e na sua qualidade de vida. Escapamentos e fumaça tem pouco a ver com isso.
FUI OFFICE BOY NOS ANOS 40-50 E AS RUAS SAO BENTO E DIREITA,JA NÃO TINHAM
VEICULOS E UM GRANDE MOVIMENTO DE PUBLICO, LOJAS AMERICANAS E OUTRAS.
CLARO QUE NÃO SE PODIA PERMITIR VEICULOS POIS ESTES FICARIAM ESTACIONADOS
E IMPEDIRIAM OS TRANSEUNTES. VEICULOS SÓ NA pça. da Sé,Largo S.Francisco,
Largo s.Bento, libero badaro e viaduto do chá,
Toda mudança por melhor e bem intencionada que seja. sempre traz os prós e os contra.
Prof. Luiz Salgado Klaes
Aqui em Florianópolis, já se vão algumas décadas oi centro da cidade foi fechado para veículos automotores, e o comércio continuou pujante sem que as lojas e escritórios tenham se mudado de local
O Mesmo também ocorreu nas cidades de Joinville, Blumenau, Lages, Tubarão, etc.
Já tive a oportunidade de viajar para vários quadrantes em nível mundial, Londres, Berlim, Milão, etc tem parte de seus centros fechados para veículos automotores.
Creio de que o falta é deixar o comodismo de ter de ir de carro até a porta do prédio que desejo, ou entupir o centro das cidades de garagens.
O mundo mudou, vamos nos preocupar com a poluição dos veículos automotores. Necessitamos de ar mais puro.
Sempre o culpado são “as pessoas”, né? Se o deslocamento for desconfortável, e não atender às necessidades do indivíduo, ele não vai lá. Simples assim.
Trabalho no centro há 20 anos e se tem uma coisa que NÃO se pode dizer dele é que não há vida, não há comércio, não há serviços, não há pessoas. Tudo isso tem de monte. Antes de trabalhar, cheguei a frequentar o centro numa época em que os ônibus ainda podiam trafegar pela Praça Patriarca, e o trânsito já era bem ruim, era bem embaçado sair embarcada do local. Agora, quando a gente circula a pé, a gente realmente conhece o comércio da vizinhança, na escala 1:1, coisa que não acontece se a gente está dentro de um carro indo de ponto a ponto. Que nem o comércio perto de casa, que a gente tende a conhecer melhor por frequentar mais a pé. Então, em termos de cidadania, sou super a favor do calçadão. O que acho que falta no centro é uma zeladoria melhor, e uma política pública para diversificação do uso. Participei muito das Caminhadas Noturnas no centro às quintas-feiras e vê-se que de noite o centro é bem subutilizado, faltam moradias.
O centro precisa ser repovoado e dotado de mais espaços públicos como bibliotecas e parques.
Trabalhei no Centro (entre Rua São Bento x Av. São João) nos anos 1964/1991. Era muito seguro e nunca tive qualquer tipo de problema. Nos dias de hoje creio faltar um policiamento mais ostensivo que garanta a tranquilidade dos que frequentam aquela região.
O centro de SP é degradado por falta de política pública e revitalização. Mas não somente do centro! A aparência das lojas e manutenção dos espaços públicos deveriam estar mais do que em dia.
Um exemplo de um local que sobreviveu até hoje e que fica muito próximo de áreas como Cracolândia e bairro da Luz. Mas que em tempo, os comerciantes se uniram e mudaram a fachada de suas lojas chama se Bom Retiro. Deveriam ter feito algo similar no Centro.