A Igreja Católica, através da Mitra Arquidiocesana de São Paulo é uma das grandes proprietárias de imóveis da capital paulista. Possivelmente se não for, excluindo a própria prefeitura municipal, a maior de todas.
Isso se reflete por todo o tipo de propriedades pertencentes ao clero, como igrejas, prédios doados, terrenos, hospitais, casas e também alguns casos de edifícios em estado de total abandono,como este que tratamos aqui, bem na Praça Clóvis Bevilacqua de esquina com a Rua Roberto Simonsen.
Esta magnífica construção erguida no início do século 20 parece não sensibilizar nem a Mitra e nem as autoridades públicas. Desde que o prédio foi desativado ele está se deteriorando cada vez mais, em uma situação que até chega parecer algo proposital.
No quarteirão em questão, há alguns edifícios pertencentes aos mesmos proprietários e que estão também em uma situação não de total penúria, mas de péssimo estado de conservação, como o imóvel da fotografia abaixo que é chamado de Palacete do Carmo.
A Igreja Católica não é, infelizmente, muito amiga do patrimônio histórico. Uma rápida pesquisa em acervos de jornais antigos é possível encontrar uma série de embates entre a entidade e as autoridades municipais, sempre pelo fato de que os religiosos parece imaginar-se acima da lei quando o quesito é conservar seus edifícios.
A influência política dos mesmos parece também dificultar o tombamento de uma série de construções pertencentes à cúria. Nos anos 1980, a mesma entidade fez o possível para demolir a histórica igreja de Nossa Senhora da Penha e quase conseguiu.
Felizmente a mobilização de populares evitou que este dano irreparável a história de São Paulo fosse cometido. Recentemente, em 2010, a Penha voltou ao debate patrimonial em virtude da tentativa de venda, para demolição, do magnífico Seminário da Penha.
Mas a degradação deste edifício da Praça da Sé e seus vizinhos podem também estar relacionados com um projeto arquitetônico de 1975 que nunca saiu do papel, o edifício da nova sede da Mitra Arquidiocesana de São Paulo, conforme a maquete abaixo.
O edifício acima é um projeto do escritório Rino Levi Arquitetos Associados e previa no local onde está a construção que tratamos aqui, deste novo prédio dotado de 25 andares, com estrutura em grelha e dois níveis de garagem em subsolo.
O projeto ousado e de gosto discutível para uma região repleta de construções históricas, previa a demolição do pequeno prédio de dois andares. Já os demais edifícios vizinhos e o Palacete do Carmo aparentemente seriam poupados. A imagem abaixo, mostra com melhor clareza como iria ficar a nova sede da Mitra no terreno.
E abaixo a planta da futura construção na região compreendida entre Praça da Sé (Praça Clovis Belivacqua), e as ruas Irmã Simpliciana, Roberto Simonsen e Venceslau Brás:
Por alguma motivo, possivelmente relacionado ao tombamento dos edifícios, o projeto do edifício da nova sede da Mitra Arquidiocesana de São Paulo não foi adiante. E, seja de propósito ou não, o edifício antigo de dois andares foi completamente abandonado pelos seus proprietários.
A situação não é nada boa, basta observar a construção de perto para notar que o imóvel corre sérios riscos de desabamento. Janelas e esquadrias de madeira apodrecidas, infiltração por toda a construção, telhado que desabou em algumas partes do andar superior, são as questões graves visíveis.
Há alguns anos, para evitar acidentes com pedestres foi colocada uma tela por toda a fachada e um anteparo de madeira entre o primeiro andar e o térreo, para evitar que um pedaço da construção caia sobre algum transeunte. Mas é muito pouco feito por um imóvel que faz parte da história de São Paulo.
Enquanto isso, a cada dia que passa a situação vai ficando ainda mais grave. E não será surpresa se qualquer dia nos depararmos nos jornais, rádio ou televisão com alguma notícia trágica envolvendo o desabamento desta construção. O silêncio de seus proprietários deixa uma dúvida no ar: Será que estão esperando o desabamento desta construção histórica para enfim erguerem o espigão da Mitra Arquidiocesana de São Paulo ?
Veja mais fotografias deste edifício (clique na miniatura para ampliar):
Atualização – 05/12/2018:
Corrido pouco mais de seis anos desta reportagem ter sido escrita, o local segue nas mesmas condições precárias e de abandono.
Atualização – 01/06/2022:
Passado uma década a situação só piorou, confira a fotografia abaixo.
Dados técnicos do edifício da Mitra Arquidiocesana de São Paulo (a ser ou não construído):
Projeto: Rino Levi Arquitetos Associados
Equipe técnica: Roberto Cerqueira César, Luiz Roberto Carvalho Franco e Paula Bruna
Arquiteto do projeto: Antônio Carlos Sant’Anna
Data do projeto: 1975/1987
Área do terreno: 3840 m²
Área construída: 16.304 m²
Bibliografia consultada:
Revista Projeto – Ed. 111/junho 1988 – páginas 77 e 78
Jornal O Estado de São Paulo – 21/02/1984 – página 12
Respostas de 38
Pois é, Douglas.
Em todo o Brasil e aqui no Rio também é assim: a Mitra daqui é dona de várias propriedades pela cidade; e, infelizmente, só se manifesta sobre a manutenção quando alguém injeta $$, como a Prefeitura já o fez várias e várias vezes, numa escancarada violação à laicidade do Estado brasileiro.
A igreja nunca liga para nada… diz que nunca tem dinheiro, pede grana para os fieis… vergonha o que fazem com os seus imóveis. Por que não os vende, então? Por que a Prefeitura não os tomba e manda a igreja reformar para vender? Derrubar ou deixar cair um prédio desses numa cidade feiosinha como esta é crime.
É a religião ferrando com a História, sempre.
Por favor, Luiz Rossi, não misture alhos com bugalhos. Aí não se trata de religião, mas sim de interesses de um grupo de pessoas, no caso a Cúria.
Ora Rodrigo, é claro que se trata de religião. As religiões são apenas “grupos de interesses” de pessoas, como você mesmo disse. Religiões são instituições políticas destinadas a manter o domínio das massas populares a serviço do poder dominante (seja qual for ele). O que não se deveria misturar é colocar Deus no meio dessa podridão. Deus não está nas igrejas, mas sim DENTRO das pessoas. O problema é que as pessoas confundem Deus com religião.
Quanta conversa fiada! Conversa de comunista senil.
Ah, Rodrigo… criatura inocente…
Como você é inculto amigo, pelo que se vê na bíblia, Jesus era socialista, leia e analise.
Muitas de pessoas passam por ali todos os dias, e o risco de desabamento é muito grande, não é preciso ser entendido do assunto para perceber que estão esperando o prédio cair mesmo. É uma dó pois a edificação é muito bonita. E está situado bem pertinho da prefeitura, mas parece que o prefeito nunca o viu, pois só anda de helicóptero….
Aliás eu adoraria saber a real utilidade da igreja nos dias de hoje. Ao meu ver não tem nenhuma. aqueles desocupados servem apenas pra pedir dinheiro aos fiéis e rezar missas decoradas.a igreja ao longo da hitória já fez bastante estrago e continua fazendo.
A utilidade dela é a mesma que sua opinião: para alguns tem serventia, para outros não.
Exatamente Sr. Rodrigo! Mesmo com seus erros próprios de uma instituição feita por homens e não anjos ela tbm. colaborou e muito na vida de uma multidão de pessoas através de seus asilos, hospitais, universidades (inventadas por ela), orfanatos, leprosários, albergues, dispensários, escolas secundárias, creches, inúmeras pastorais sociais, e principalmente no crescimento espiritual de seus fiéis.
assim como sua opinião, não tem utilidade alguma pois nada tem a ver com a questão que é, a preservação da história de sp e não a igreja.
Quem fugiu da questão não fui eu. Estamos falando de preservação, não estamos achincalhando a crença de milhões de pessoas, estamos criticando a postura de responsáveis pela manutenção e preservação do patrimônio, não aquilo que acreditam. No entanto, existem imbecis que adoram pegar carona mesmo que na direção oposta, só para darem uma pitada de sua ignorância.
Apoiado !
Se houvesse uma lei que tomasse os imóveis abandonados dos proprietários, como a mitra, acredito que haveria interesse na preservação. O que acontece na verdade é que como não pagam impostos de nada se sentem no direito da fazer o que querem. Se os fiéis deixassem de dar dinheiro de graça e eles se vissem obrigados a negociar seus bens com certeza não deixariam seus imóveis neste estado. Não fazem nada porque tudo veio de graça. Deveriam ser responsabilizados cível e criminalmente pelo abandono, principalmente se ocasionar algum acidente com vítima. Se o prédio desabar que seja proibido qualquer construção em seu terreno. Pode ser que o prefeito não veja porque anda de helicóptero, mas quem vota passa a pé, pensem nisso!
Lamentável tudo isso, a região da sé ainda conserva aqueles ares de SP antiga, realmente é muito triste vermos estes edifícios maravilhosos neste estado degradante, como pode, a cidade mais rica do Brasil tratar dessa forma seu patrimônio histórico, é um completo absurdo, esses edifícios estão parecendo mais um favelão, a igreja ou seja lá quem for, propíetários o responsáveis pela manutenção dos prédios em questão, tinham que responder por crime de lesa-pátria!
Mas afinal, este prédio abandonado é tombado? Se ele não é tombado não faz sentido o argumento de esperar o seu desabamento para a construção da nova mitra. Realmente a Arquidiocese de São Paulo não tem dinheiro para construir um prédio com 25 andares (a própria Cúria atual precisa de reformas urgentes), além de não existir a necessidade de um prédio desse tamanho para uma Mitra. Em 1975 faria sentido pq seria possível alugar vários destes andares para escritórios, mas hoje em uma região decadente como o centro, com vários prédios vazios por falta de inquilinos, isso seria improvável – o que realmente acontece é que para reformar este prédio seria gasto muito dinheiro, não compensaria financeiramente. No lugar deles, eu venderia.
João, é tombado sim. Como também é tombado o Palacete do Carmo.
gente acho que é uma pena pois nao constroi nem destroi mais o maior perigo é desabar em cima de alguem !!!!!!!AI QUERO VER O QUE SERA FEITO !!!!!!!
E AINDA O PIOR ALGUEM MORRER POR CAUSA DO PREDIO É COMPLICADO HEIN !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
SE A IGREJA NOA PODE DEVE VENDE-LO UÉ !!!!!!!!!!OU MELHORE RESTAURA-LO !!!!!!!!!
A Mitra Arquidiocesana está aguardando o desabamento do imóvel para poder lucrar com a venda do terreno e, se matar alguém, é só colocar a culpa na prefeitura, simples assim…
Será uma certa incúria… da Cúria?
Eu não moro na cidade de São Paulo, mas acho uma pena que prédios tão lindos estejam abandonados e que os interesses de um grupo restrito de pessoas seja maior do que a preservação desse patrimônio para as gerações futuras.
Essas construções retratam um determinado período,seus costumes, a sociedade daquela época. Pode-se aprender muito observando essas edificações. Afinal, sem a existência dessas edificações antigas, não haveria a arquitetura moderna.
é horrivel mesmo o que está acontecendo com a história de são paulo contadas através da arquitetura.por isso vou deixar um conselho para os mais velhinhos:procurem quem realmente quer ou precisa e um lugar para morar, zelar e conservar sem fins lucrativos, não façam doaçóes para igrejas, governos e empresários dono de imobiliárias. saibam preservar a história de vocês.
Eu sempre passei por ali imaginando pq alguém deixaria algo tão belo se deteriorando daquela forma, se não quer cuidar doa para quem possa conservar a história da nossa cidade.
O centro todo precisa de apoio para conservar nosso patrimônio.
Realmente muito triste!
Pelo visto “azigreja” só está interessada em “Fazer o bem sem olhar a quem” quando o dinheiro não sai do bolso dela e essa não é a primeira história de sovinice “dazigreja” aliás, os seus sacerdotes falam palavras bonitas em missas, mas na prática eles não as seguem.
Igreja…a empresa mais rica do mundo
Matéria show a respeito desses tesouros abandonados mas particularmente por curiosidade e admiração gostaria de saber se os edifícios tem nome, que tipo de comércios se prevaleceram nesses locais, se foram utilizados como moradia, e se existem fotos dos mesmos em pleno funcionamento? seria espetacular pois já procurei bastante a respeito e nunca achei. Abraços.
todas as igrejas só sabem buscar,não contribuem com nada.
Sei que tem um sobrado na Praça da Sé que me causou surpresa pelo péssimo estado de conservação: o Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Fiquei sabendo, quando fiz o curso de Transcrição e Restauração de Partituras em Curitiba com o Professor Paulo Castagna (docente da Unesp), que no local há um caderno com 350 folhas (700 páginas manuscritas) de música colonial brasileira, do qual o próprio Paulo chegou a restaurar uma das obras, que corresponde a apenas 1/70 do todo.
você saberia me informar, se os bens localizados nesta quadra, estão tombados por algum órgão publico hoje?
Alguns estão tombados pelo Conpresp
Chegou a ser invadido há uns dois anos, puseram o pessoal para fora e está novamente fechado e caindo.
As chuvas deste ano derrubaram parte do muro do antigo quartel da polícia militar, na Avenida do Estado.
Em um pormenor da fachada na R. Santa Tereza, deu para ver que funcionava ali uma drogaria. Comentei-o com um transeunte mais velho que passava pelo local, e ele me disse que realmente havia ali uma drogaria há muitos anos!
Eu soube, outrossim, que a centenária Padaria Santa Tereza, na Praça Dr. João Mendes, já funcionou em um desses edifícios.
Neste imponente sobrado localizado na esquina da Praça da Sé com a Rua Roberto Simonsen, na Capital São Paulo, funcionou na década de 1930, o HOTEL SANTA TERESA, do meu bisavô, o imigrante italiano CARLO CAVATERRA. A edificação arrendada por ele quando chegou no Brasil, hospedou muitos imigrantes, intelectuais e artistas entre eles Galileu Emendabili… Meus avós paternos se conheceram ali. Meu falecido pai contava muitas histórias deste prédio do qual, para nós, restou apenas algumas memórias, um bule e um açucareiro que ficavam sobre uma das muitas mesas do salão de chá no térreo do hotel… há três dias estive lá… uma tristeza…
Olá, gostaria de saber mais um pouco sobre a história desse sobrado.
Sempre visito sua página. E hoje por curiosidade fui olhar esse prédio pelo Google maps (por mais que passo às vezes por ai, nunca olhamos detidamente), e quase dez anos de sua publicação, o prédio ganhou plantas que o cobrem quase em sua totalidade. O final? vai cair . Nós, brasileiros, não conservamos nossa história. Fato!
Aquele Casarão abandonado na Praça Clóvis Beviláqua, com esquina da Rua Roberto Simonsen, teve seu muro provisório vandalizado, e o imóvel está ocupado por usuários, estão destruindo o pouco que resta dos escombros!