Hoje um tanto esquecida pelos paulistanos, por conta da violência e abandono do centro da cidade, a avenida São João já foi uma das mais cobiçadas vias de São Paulo para se morar e trabalhar. Antes da transformação da avenida Paulista, de endereço de residências de alto padrão para coração financeiro da capital, era ali que negócios, diversão e moradia eram cobiçados.
E foi nessa esteira de desenvolvimento que muitos edifícios surgiram na São João nas primeiras décadas do século 20, redesenhando aquela avenida no que muitos chamaram no passado de “A Broadway Paulistana”. Um exagero, é verdade, mas mesmo assim fazia jus aquela avenida cada vez mais edificada com arranha-céus e salas de cinema.
E foi assim que surgiu um projeto de um novo edifício na avenida São João: O Prédio Lívia Maria.

Desenvolvido pelo escritório de engenharia H.S. Caiuby o prédio Lívia Maria foi projetado pelos engenheiros Francisco J. D. Caiuby, Nestor Dale Caiuby, Walter Saraiva Kneese atendendo a encomenda da proprietária do terreno, Livia Maria Menni Maggi*¹, de erguer um edifício moderno para renda na então mais movimentada avenida paulistana.
Localizado no número 755 da avenida São João, esquina com rua dos Timbiras, o prédio começou a ser construído no ano de 1938, sendo concluído no ano seguinte. A edificação é dotada de 9 andares, com 5 apartamentos por andar, 2 elevadores e 3 pontos comerciais no térreo. Abaixo você confere a planta baixa de um dos andares e das lojas.

Apesar de ter sido encomendado por Lívia Maria Maggi para ser um edifício para rendas, tal qual outros prédios que sua família ergueu na região central (leia nota no final deste artigo), o prédio acabou tendo suas unidades colocadas à venda. Por longos e longos anos morar neste prédio foi considerado um símbolo de status, já que seu projeto arquitetônico moderno e apartamentos amplos o deixaram bastante cobiçado.
Falando sobre os materiais utilizados na construção deste prédio, temos o hall de entrada com ótimo acabamento, apresentando piso em mármore rosa e madeiramento em imbuia. As esquadrias de ferro que acompanha as escadas entre os andares são basculantes, permitindo ampla ventilação dos corredores em caso de necessidade. Nos corredores dos andares existiam as portinholas basculantes para descarte de lixo, algo que posteriormente teve seu uso proibido através de lei municipal.
Já no interior dos apartamentos as unidades eram dotadas de gás encanado individualizado, piso de tacos em peroba nas salas e dormitórios, banheiras de fabricação nacional e demais louças de cerâmica importadas nos banheiros, fogões alemães na cozinha e lustres da fabricante Nadir Figueiredo. As unidades são todas construídas com a chamada face norte, de modo a evitar o “vento sul” que na época acreditava-se que podia trazer doenças respiratórias para as pessoas.
Abaixo você confere uma galeria com as imagens do prédio na época de sua inauguração, em 1939:






O PRÉDIO LÍVIA MARIA NOS TEMPOS ATUAIS:
Como quase que todos os edifícios da avenida São João, com raríssimas excessões diga-se, o prédio Lívia Maria também enfrentou momentos em que o edifício não se apresentava em suas melhores condições, contribuindo com o visual por vezes decadente que esta via paulistana costuma ter. A fotografia abaixo é do ano de 2013.

O edifício começou a receber uma ampla reforma no ano de 2014. Antes apresentava-se com o visual da foto acima, com muitos problemas aparecendo, manchas de umidade e pichação no topo do edifício. A cor da época, um bege, não valorizava a bela fachada. Era apenas mais um “prédio velho” da avenida São João entre tantos outros.
A recuperação da fachada trouxe nova vida ao prédio e logo o transformou em destaque deste trecho um tanto quanto degradado do centro. Saiu a cor única para a entrada de um cinza vivo com os destaques da fachada em cor branca.

É realmente gratificante ver o Prédio Lívia Maria tão bem cuidado e contribuindo para um centro melhor. Seus apartamentos, amplos e confortáveis, são uma ótima opção para quem procura moradia de qualidade nesta região da cidade. Paredes robustas que inibem os ruídos dos apartamentos vizinhos são um luxo que os prédios novos que estão sendo construídos no centro não tem.
O prédio não possui garagem, algo ainda não tão necessário na época de sua construção. No entanto a avenida São João e seus arredores é tão bem servida de transporte público, como ônibus e metrô, que dispensa a real necessidade de se ter um veículo. E, caso realmente ter um carro seja de sua necessidade, a região tem diversos estacionamentos.
DADOS TÉCNICOS:
Prédio Lívia Maria
Ano de construção: 1939
Autores: Francisco J. D. Caiuby, Nestor Dale Caiuby, Walter Saraiva Kneese
Proprietário inicial: Lívia Maria Menni Maggi
Endereço: Avenida São João, 755
Pavimentos: 9
Elevadores: 2
Apartamentos por andar: 5
NOTA:
*1 – Dona do terreno e depois proprietária do prédio por um período, Livia Maria Menni Maggi é membro da família Maggi, composta por industriais estabelecidos em São Paulo ainda no século 19. Pertencia a eles as Indústrias P.Maggi que produzia artigos como barbantes, fios e linhas diversas. Eles costumeiramente investiam em construção de propriedades em São Paulo para locação.
Lívia Maria foi casada por um tempo com o arquiteto Giancarlo Palanti, autor de diversas construções na capital paulista.
VEJA MAIS FOTOS ATUAIS DO EDIFÍCIO:



Respostas de 5
Lindo
Notei que na maquete ou projeto, o predio tem 10 andares mas foi construido com 9
Qual seria a razao dessa mudança?
Quanto ao número de andares, era o que iria comentar…
Outra coisa: quando ouço o nome Maggi, imediatamente associo aos caldos de carne, de galinha e de legumes…alguma ligação?
Mais recentemente, conheci através da imprensa uma atleta, a Maurren Maggi. Parentes?
Lindo demais! Pena que esteja tão perigoso morar no Centro. Minha mãe contava muitas histórias que passou na av São João nas décadas de 1950/60, tempode sua juventude. Eu adorava ouvir
Belíssimo projeto, de uma época em que as empresas assinavam seus produtos com alta qualidade.