As vilas particulares são parte importante do cenário urbano paulistano, sendo presentes em todas regiões de São Paulo. Suas origens são as mais variadas e podem ser desde vilas operárias, com a Maria Zélia ou outros tipos como de renda ou familiar. Esta última é o caso que contarei a história aqui.
Corria a segunda metade da década de 1930 quando o imigrante polonês Salvador Markowicz*¹ comprou um lote de terreno no bairro paulistano da Barra Funda com o objetivo de erguer uma vila para sua família. Para isso contratou o engenheiro Arnaldo Maia Lello, proprietário da Sociedade Anônima Construtora Arnaldo Maia Lello e autor de prédios icônicos em São Paulo como o Edifício Santa Elisa, no Largo do Arouche.
O projeto arquitetônico e o nome da vila, Parque Residencial Savóia, são homenagens às vilas italianas, sendo muito similar ao que se encontra em cidades daquele país, como Florença, na região da Toscana, e a esposa de Markowicz, Petronilla Castrale, italiana que ele conheceu em Buenos Aires e onde se casou antes de chegar ao Brasil. O nome Savóia é referência à casa real italiana.
Veja fotos feitas em 1940*², pouco após a construção da vila (clique para ampliar):
Projetada em estilo eclético e com traços que remontam ao florentino, a vila foi concluída em 1939 e passou a ser o lar de Markowicz, esposa e seus quatro filhos. Ao todo são 14 residências, sendo cinco delas acessíveis diretamente pela rua e as demais após se adentrar pelo pórtico que dá acesso à vila interna.
As casas são feitas com tijolos aparentes e possui diversos ornamentos como brasões, grifos, colunas gregas, chafariz, painel de azulejos e quatro inscrições em latim. Na parte do paisagismo é possível observar a existência de palmeiras, figueira e algumas roseiras. Parte das residências eram locadas para complemento de renda, sendo ocupadas por famílias de classe média.
O imóvel deixou de ser residencial em meados da década de 1990 quando os herdeiros decidiram transformar o espaço em área comercial, como escritórios e consultórios, para que pudesse manter a conservação do imóvel de maneira mais adequada. Em 2000 o imóvel foi restaurado e desde 2009 a vila é tombada como patrimônio histórico de São Paulo.
Entre as particularidades adotadas pelo proprietário da vila após o restauro está o fato de não mais ser permitido entrar veículos no pátio e a seleção dos inquilinos feita pessoalmente, de modo acolher ocupantes que compreendam a filosofia e o valor histórico da propriedade*³.
DADOS:
Parque Residencial Savóia
Ano de construção: 1939
Arquiteto: Arnaldo Maia Lello
Estilo: Eclético florentino
Primeiro proprietário: Salvador Markowicz
Quantidade de residências: 14
Tombamento: 2009
Uso atual: Comercial
Localização: Rua Vitorino Carmilo, 453 – Barra Funda
NOTAS:
*1 – Salvador Marcowicz foi proprietário e fundador da Retífica de Motores Modelo, veio a falecer em 15 de dezembro de 1946.
*2 – Revista Acrópole – Ano 2, número 23 – Edição de março de 1940 pp 14, 15, 16, 17
*3 – Depoimento do proprietário, Salvatore Lungano, ao portal Refúgios Urbanos. Link visitado em 24/10/2024.
Veja fotos do Parque Residencial Savóia (clique para ampliar):
Respostas de 4
Gostei demais dessa vila de casas. Dá vontade de ir morar lá.
Gostaria de fazer uma pergunta, como está a Vila dos Ingleses na Rua Mauá? Eu a visitei algumas vezes, mas há muitos anos não volto lá. Eu até sonhei com aquela vila construída para os trabalhadores ingleses da Estação da Luz.
O mirante dá um charme todo especial a este conjunto muito bem conservado. Excelente achado.
Oi, boa noite! Nossa, eu ia te pedir exatamente isso. Fiz um rápido percurso saindo do metrô Marechal, peguei a Albuquerque Lins, a Vitorino Carmilo e Al. Eduardo Prado para visitar uma antiga amiga e nesse trecho me surpreendi como tem casas maravilhosas e como está bem conservado o entorno com bons mercados, hortifrutis. Até fiquei com vontade de me mudar da Sé, rsrs. Moro num ap num prédio tombado.
Que bonita vila! Só hoje tive tempo p/ ler a matéria… Parabéns pelo brilhante trabalho, Douglas