Um dos mais elegantes endereços da São Paulo antiga foi a rua Florêncio de Abreu, que podemos considerar como o primeiro endereço da elite paulistana. Posteriormente, com a expansão da cidade, outras regiões receberam os fidalgos, como Campos Elíseos, Higienópolis, avenida Paulista etc. Muitos dos casarões e palacetes da época de ouro desta rua já se foram, contudo alguns poucos sobreviveram até o século 21 e você irá conhecer um deles neste artigo.

Construído entre 1891 e 1893 pelo extinto Banco União e projetada por Ramos de Azevedo, esse palacete foi adquirido pela família Paula Souza, servindo de residência para Maria Rafaela de Paula Souza¹. O palacete fica localizado exatamente na esquina das ruas Florêncio de Abreu e Paula Souza.
O belo palacete destacava-se pelo seu grande torreão posicionado na quina da construção, cujo telhado pontudo era inspirado em residências tipicamente europeias. Sua entrada se dava por um belo portão em ferro fundido, do qual se tinha acesso a um pequeno jardim antes de adentrar a residência.

Na fotografia acima é possível observar o palacete por outro ângulo, ele é o segundo do lado esquerdo, em uma fotografia do início do século 20. O outro casarão que aparece em primeiro plano pertenceu a Antônio Francisco de Paula Souza, engenheiro e um dos fundadores da Escola Politécnica, cujo sobrenome batiza a rua Paula Souza. Foi por um tempo residência de Washington Luís. Ambas sobreviveram até os dias atuais.
TOMBADA E SOBREVIVENTE

Levando-se em consideração como é tratado com desprezo o patrimônio histórico na cidade de São Paulo, ver o palacete de pé em pleno século 21 – apesar de bastante modificado – é algo para se respirar com certo alívio. Basta ver que quase nada sobreviveu até os dias atuais do casario imponente que um dia existiu nesta rua.
O palacete perdeu sua entrada original (atual número 680) onde um ponto comercial foi construído para entrar um dinheiro a mais de aluguel. Já as janelas do térreo (eram 10 voltadas para a rua) foram todas destruídas para que em seu lugar fossem abertas portas comerciais, onde funciona uma lanchonete. O andar superior está bem preservado, justificando o tombamento, apesar de que o marcante telhado pontudo que existia tenha sido demolido há muitos anos. O porão da residência também foi suprimido.

Sei que é um sonho difícil de se realizar mas seria muito interessante ver este imóvel ser restaurado por completo em sua porção exterior, aos moldes de como era em sua concepção original. A dificuldade se dá mais pelo interesse dos proprietários e do custo envolvido numa operação como essa, por isso defendo que propriedades tombadas não só tenham isenção de IPTU como uma verba para restauro, desde que o bem seja destinado para atividades públicas. Para isso seria necessário mexer nas leis municipais que regem o patrimônio histórico, estas, por sua vez, estão paradas no tempo e atualmente acabam por dificultar a preservação.
NOTA:
1 – Pesquisadores irão encontrar duas mulheres com o nome de Maria Rafaela Paula Souza no século 19. Trata-se neste caso de mãe e filha. Quem residiu no palacete foi a filha, sendo que a mãe faleceu em 1895.
DADOS DO PALACETE:
Construção: 1893 a 1895
Projeto: Ramos de Azevedo
Proprietário atual: Orestes Gerodetti (de acordo com os dados públicos do IPTU da cidade de São Paulo)
Endereço: Rua Florêncio de Abreu 680-688
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
Dicionário de Ruas de São Paulo – Link visitado em 15/05/2024
Informativo do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo – Link visitado em 15/05/2024
IPTU do Município de São Paulo – Anos 2020, 2022
Auctoridade – edição de 10/05/1896 pp 1
Correio Paulistano – edição de 22/10/1879 pp 3
Respostas de 2
E nesse exato momento metade dele já foi ao chão, ( compraram a esquina inteira pra derrubar e subir mais um predio ).Pelo andar da carruagem até o final dessa semana nada mais estará de pé).
Triste ver um predio tão bonito e com tanta historia ir pro chão assim).
Apesar de tão desfigurado, triste sim ver que ja foi quase tudo pro chão. De repente vale denunciar a demolição para a prefeitura. Um embargo da obra serviria ao menos de alguma punição.