Uma cidade grande e antiga como São Paulo, possui um sem número de histórias curiosas e interessantes que, por muitas vezes, jamais chegam ao conhecimento das pessoas. São fatos pequenos, aparentemente corriqueiros, que quando redescobertos mostram a complexidade de uma grande metrópole.
E aqui contaremos a breve história de um leão e o filho de um Presidente da República:
O fortão da foto acima é José Floriano Peixoto, ou Zeca Floriano como era mais conhecido, filho do segundo presidente brasileiro, Marechal Floriano Peixoto.
Com um físico bem diferente e até considerado extravagante para sua época de auge – a primeira década do século 20 – Zeca Floriano foi um dos primeiros atletas e fisiculturistas brasileiros, em uma época que estes desportistas se quer tinham um nome em português e eram chamados de “sportsmen“.
O caçula dos filhos homens de Floriano Peixoto não tinha interesse pela carreira militar, a mesma que fez de seu pai um dos artífices da Proclamação da República em 1889, e presidente que governou o país com mão de ferro, em uma época que o regime republicano brasileiro estava em seus primeiros passos.
Nascido em 1885, aos 15 anos resolveu abandonar a Academia Militar para acompanhar um circo. Uma vez membro da trupe circense, foi aperfeiçoando os treinamentos que recebia no período da academia e passou a ser um grande atleta, vencedor e ídolo em mais de uma dezena de categorias, como boxe, luta romana, remo, jiu-jitsu, atletismo e ginástica olímpica.
Com sua vida focada na então capital brasileira, a cidade do Rio de Janeiro, por lá abriu o veio a ser a primeira academia mista do país.
Sua fama como esportista ganhou também respeito e admiração pelos brasileiros, quando no início do século 20 resgatou inúmeras pessoas de um navio que sofreu um naufrágio em Salvador.
Mais focado na vida do Rio de Janeiro, junto de seu circo, o chamado “Circo Floriano”, que fazia exibições e espetáculos tanto na capital federal como no interior do Estado do Rio.
Entre 1908 e 1909, Zeca esteve um período por São Paulo, ocasião que fez parte do campeonato de luta romana do Polytheama, onde foi grande vencedor. Para despedir-se da capital paulista, fez um grande espetáculo que atraiu multidões até a rua Boa Vista. E é ai que entra o tal Leão.
Lendo a notícia acima, publicada em abril de 1909 no jornal Correio Paulistano, temos um convite para os paulistanos irem assistir o espetáculo entre o atleta Zeca Floriano, convidado a entrar na jaula de um leão chamado Marrusko.
Ele é chamado pelo jornal de “famoso leão” pois era um animal bem conhecido pelo Brasil, especialmente nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Marrusko, descrito como “um dos maiores leões vistos em São Paulo” era realmente um animal de aparência feroz e temível. Porém, em uma época que animais eram as grandes atrações de circos e os direitos dos animais sequer eram levados em consideração, Marrusko sofria um bocado.
Embora fosse realmente um grande atleta, Zeca Floriano não precisou de grandes esforços para dominar a fera. Isso se deve ao foto de que Marrusko, ao contrário do que divulgavam em suas exibições, não era um assim tão temível.
Tratava-se de um pobre animal de circo que, pela idade, tinha as forças esvaídas e, além disso era surdo e quase cego. Deixava, por isso, quem quer que fosse penetrar em sua jaula. E tinha a paciência própria dos velhos, talvez ignorando, o desrespeito ser exibido ao público daquela maneira, apenas por dinheiro a seus donos.
A plateia vibrava e pedia por mais como se o animal não tivesse direito algum à dignidade.O rugido que ele urrou na humilhante posição de rei agarrado pelo rabo por Zeca Floriano, não era um ato de ferocidade, mas possivelmente um pedido de socorro.
Pedido este que jamais foi atendido. Depois da apresentação de Marrusko com Zeca Floriano, o pobre leão seguiu escravo de seu dono em inúmeras apresentações pelo país, até que no final deste mesmo ano de 1909 a fraude do “feroz” rei da selva foi descoberta. Esquecido e sem utilidade para seus donos após serem desmascarados, Marrusko morreu em São Paulo em 1910 de causas até hoje desconhecidas.
Marrusko, o pobre leão escravo de seus donos, bem que merecia uma estátua.
Respostas de 6
Bastante interessante a história. Naquela época jamais se cogitaria falar em direitos dos animais. Aspecto bem diferente dos dias de hoje. Parabéns pela interessante pesquisa. Te desejo sucesso. Joaquim Jorge.
Como sempre, excelente e super interessante. Parabens.
Pobre Marrusko…. Ainda velho e combalido servia para atender a ganância e a estupidez humana….
Concordo, Pedro Pacheco.
Não faz mais sentido algum permitirmos animais em circos e mesmo em zoológicos. Qual o significado de mantermos um indefeso animal num ‘habitat’ frequentemente perverso?
Antonio, discordo completamente quanto aos zoológicos, já que os melhores do mundo são importantíssimos para a pesquisa e a consequente conservação de várias espécies ameaçadas. Uma pequena busca por artigos científicos feitos dentro ou em parceria com esses empreendimentos pode ajudar a elucidar melhor a questão.
Não é a situação ideal, claro, mas uma alternativa viável hoje para muitas espécies ameaçadas.
Ainda bem que hoje temos gente que protege os animais.