Tem um velho ditado que diz “Diz onde menos se espera, é dali mesmo que não vem…” e é esse o sentimento do paulistano ao passar pela rua Carlos Comenale, na Bela Vista, onde existe uma das atrações turísticas mais interessantes da capital paulista: o Mirante 9 de Julho.

O espaço, que já foi palco de diversas matérias aqui do São Paulo Antiga, está numa situação de abandono e descaso tão grande que faria Getúlio Vargas se orgulhar. Afinal, foi ele que lá atrás sufocou o levante que muitos insistem em chamar de revolução, mas que era uma tentativa golpista da elite paulista que ludibriou milhares de paulistas ao redor de uma causa que, desde o início, nasceu fadada ao fracasso e cuja data mais lembrada é o 9 de julho, que batiza esse mirante.
O mirante não é um símbolo recente de abandono, afinal em toda a sua trajetória o ponto turístico esteve mais tempo fechado que aberto. Entretanto há quase uma década o espaço foi concedido a iniciativa privada e reaberto com um concorrido café, que trouxe vida a uma área até então degradada na região da avenida Paulista. Posteriormente, em uma nova concessão, o local mudou de nome e passou a ser conhecido como Mira, e manteve a qualidade de um espaço que combinava turismo, café, diversão e lazer.

Tudo mudaria em 2021, pouco antes da pandemia, quando a prefeitura de São Paulo não renovou, sem grandes explicações, o termo de cooperação com o restaurante Mira deixando a população sem um atrativo próximo ao Masp e a empresária, responsável pelo ponto, em grande prejuízo financeiro. Abaixo as palavras dela em matéria veiculada no jornal O Globo:
” Foi muito chato o fim. Cheguei à prefeitura numa tarde achando que renovariam a cooperação, mas disseram que o prefeito (Ricardo Nunes) não ia renovar o termo, e nada mais. É um lugar com o qual tenho uma relação pessoal grande. Minha filha deu os primeiros passos ali. O mirante nunca deu lucro, sempre foi pensado como um presente para a cidade, pois nós revitalizamos a área que ficou abandonada por décadas. Tanto eu quanto os outros gestores que vieram antes de mim sempre tivemos outros negócios. Claro, de vez em quando, existia alguma cota relacionada a eventos ou artistas que se apresentavam ali.”
Dulce Santos – gestora do Mira
Veio a pandemia e nada foi feito ou planejado para o lugar, de certo ponto compreensível diante do cenário de incertezas que a COVID-19 trouxe para o Brasil e o mundo. No entanto, passada a crise o espaço seguiu abandonado até que em 21 de dezembro de 2023 é feito um anúncio de que o local voltaria a abrir, desta vez como um museu dedicado a Revolução de 1932.

Anunciado com galhardia em dezembro de 2023 em reunião com o então subprefeito da Sé, Álvaro Camilo, o vereador paulistano Coronel Salles (atualmente ele mesmo é o subprefeito) e membros da Sociedade Veteranos de 32 MMDC o novo museu que abriria as portas até dezembro de 2024.
CADÊ A CONCORRÊNCIA?
A notícia da concessão do espaço sem qualquer licitação ou concorrência pública chocou outros interessados em investir no espaço, uma vez que em um decisão arbitrária e sem transparência o espaço foi concedido para uma entidade que, inclusive, já tem um museu que está localizado no Obelisco do Ibirapuera.
Faltou transparência por parte da prefeitura e especialmente do então vereador Coronel Salles este, no caso, que visava a cessão do espaço como uma ação eleitoreira. No entanto, impopular e de fraca atuação na Câmara Municipal, Salles não se reelegeu e teve votação inexpressiva. O prejuízo para a cidade, no entanto, já estava consumado.
ABANDONADO E VAZIO

Se a entidade não é capaz de cuidar bem sequer de um museu, imagine de dois. Passado 19 meses da notícia da concessão do espaço para a abertura do suposto novo museu, nada aconteceu até o momento. O espaço segue vazio, abandonado e negligenciado, sendo que os atuais responsáveis pelo espaço, a Sociedade Veteranos 32 – MMDC, sequer removeu os luminosos da antiga ocupante do espaço (veja na galeria abaixo).
Um dos vigias que trabalha no espaço, sob a condição de anonimato, confidenciou que há muito tempo ninguém da Sociedade Veteranos 32 aparece no espaço. As escadarias do Mirante 9 de Julho, que foram muito concorridas durante os jogos da Copa de 2018, voltaram a ser ponto de consumo e venda de drogas, como essa reportagem pode constatar ao visitar o local semana passada.
Abaixo mais fotos do local fechado, vazio e esquecido (clique na miniatura para ampliar):



PROVIDÊNCIAS
O vereador paulistano Toninho Vespoli (PSOL) esteve em visita ao local após tomar conhecimento do caso em matéria veiculada no jornal SP2 da Rede Globo (assista no final desta matéria) e já está tomando providências junto ao Tribunal de Contas do Município (TCM) e com a prefeitura de São Paulo, para que o espaço seja novamente submetido a concorrência pública para a concessão do espaço.
O São Paulo Antiga continuará acompanhando de perto a situação do mirante. Abaixo, assista à reportagem exibida pelo jornal SP2, da Rede Globo de Televisão.
Uma resposta
Chega de museus, o barzinho era mais util e interessante, que coisa mais tacanha, museu sem interesse