Mecânica Alfredo Lippi

A região da Liberdade conhecida como Baixada do Glicério é uma área repleta de construções antigas interessantes, muitas em mau estado é verdade, que mostram uma região central que há muito praticamente deixou de existir, com casas térreas geminadas, pequenos prédios e alguns galpões industriais do início do século 20. Inexiste no centro paulistano região mais negligenciada pelo poder público do que essa, tendo em vista que até mesmo Campos Elíseos, onde há degradação e acúmulo de tráfico e consumo de drogas possui mas atenção.

Isso posto trago a vocês a história daquele que considero o principal bem histórico dessa parte da Liberdade e que vocês precisam conhecer:

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Localizado nos números 451 e 469 da rua dos Estudantes (antigo 87), esse galpão antigo é uma verdadeira cápsula do tempo para o passado industrial paulistano, quando as fábricas ainda eram localizadas em áreas mais centrais.

Construído no início do século 20, possivelmente no começo da década de 1920 este galpão fabril foi erguido pelo imigrante italiano Alfredo Lippi para abrigar a sua empresa, inicialmente chamada de “Officina Mechanica Fundição e Serralheira de Alfredo Lippi” e, mais tarde, como Mecânica Alfredo Lippi S.A. Sua empresa no final do século 19 tinha dois endereços na cidade, na rua Benjamin Constant e Conde de Sarzedas e posteriormente se transferiu para a rua dos Estudantes, provavelmente juntando todas as atividades em um endereço só.

trecho da listagem de estabelecimentos comerciais de São Paulo para o ano de 1897

Ao fazer a pesquisa desta empresa, localizei o ano de construção do imóvel como 1939. No entanto essa data está errada pois o imóvel já existia ao menos desde 1926 que é o IPTU mais antigo válido que encontrei desta propriedade. No entanto, 1939 é o ano em que a empresa registrou seu contrato na Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP), passando a ser oficialmente conhecida como Alfredo Lippi & Filhos. A título de curiosidade, abaixo, trecho das listas telefônicas, respectivamente de 1937 e 1961, com os números de telefone da empresa nesses dois períodos.

Infelizmente não encontrei dados na JUCESP referente ao encerramento das atividades da empresa de Alfredo Lippi, uma vez que a pesquisa retornou como “dados não encontrados”. No entanto é fato de que a empresa manteve atividade no mínimo até o início da década de 1970, período que ainda se encontra notícias e declarações em jornais paulistanos.

Alfredo Lippi parece ter sido uma pessoa deveras interessante. Além de ser um imigrante que conseguiu construir uma empresa relevante, ele tem uma patente registrada em seu nome, no já distante ano de 1923. O invento chamava-se “óculos leavel” mas infelizmente não encontrei maiores informações sobre o que viria a ser isso. Lippi faleceu em 9 de agosto de 1962. Abaixo nota de seu falecimento e convite para missa de sétimo dia.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO:

Voltando ao galpão, após o fim da empresa de seu primeiro dono o espaço teve diversas outras atividades, como depósito e transportadora. O imóvel foi vendido para outra pessoa que mantém a posse até os dias atuais.

O galpão é tombado como patrimônio histórico paulistano desde 2018, através da Resolução 37/2018, que aplicou o tombamento para diversos imóveis tanto da rua dos Estudantes como outras vias próximas, como Mituto Mizumoto, Anita Ferraz, Conde de Sarzedas entre outras.

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A imagem acima é a prova cabal de que as leis paulistanas de tombamento precisam ser revistas o mais breve possível. Tombar nos moldes atuais (leis das década de 1970 com poucas mudanças posteriores) não apresenta nada de bom a seus proprietários, pelo contrário, trás uma série de ônus que dificultam a própria preservação do bem em si.

Observem que apesar de o galpão ter toda sua arquitetura original preservada, o imóvel está em péssimo estado de conservação, sujo, pixado e com a pintura há anos vencida. Há também vidros quebrados em todas as vidraças e já falta uma parte de uma lança de ferro fundido do lado direito do frontão.

Por outro lado urge a necessidade da prefeitura, já que existe a lei, punir o proprietário que deixa o imóvel com a fachada nesta situação, o que contribui com a deterioração de todo o seu entorno, já bem degradado. Mas seria de bom tom alguma contrapartida, como uma isenção de IPTU. Por fim, seguem mais imagens do galpão.

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