S. A. Fiação para Malharia “Indiana”

Ao chegarmos para fazer compras ou simplesmente para nos divertir pelos amplos e climatizados corredores do Shopping Ibirapuera, nem imaginamos que naquele lugar existiu uma fábrica, parte de um importante grupo do ramo têxtil, que marcou época em São Paulo.

O próprio bairro de Indianópolis, bem como o Ibirapuera, eram muito diferentes do que temos hoje, sendo, em grande parte, formados por áreas industriais, até então afastadas do centro da cidade, permanecendo, assim, até meados da década de 1950, quando se iniciou a transformação viária e a verticalização que dão o aspecto atual à região.

A S.A. Fiação para Malharia “Indiana” foi criada em 1925 e se instalou na Av. Rodrigues Alves, no bairro de Indianópolis. Posteriormente, ocupou o quarteirão onde hoje está instalado o Shopping Ibirapuera.  A empresa foi formada por um grupo de empresários, em que o principal acionista era a Malharia N. S. da Conceição de Jacareí, José de Sampaio Moreira (1866-1943)  que é lembrado por ter sido o proprietário do icônico Edifício Sampaio Moreira no centro de São Paulo e, o terceiro maior acionista, Ernesto Diederichsen.  

Foto 1 – Ernesto Diederichsen

Direta e indiretamente, por ter participação na Malharia N. S. da Conceição, o maior acionista de fato da “Indiana” era o empreendedor Ernesto Diederichsen.

Este iniciou sua carreira na seção têxtil da importante empresa Theodor Wille & Cia. Para, depois, em companhia de outros empresários, criar um dos mais importantes grupos têxteis do Brasil, composto pela Argos Industrial, na cidade de Jundiaí, o Cotonifício Adelina, o Lanifício Argos e a Fiação “Indiana”.

Foto 2 – Malharia Indiana e arredores (clique para ampliar)

Ernesto Diederichsen não construía simplesmente fábricas, mas as dotava de creches, escolas, serviços médicos e muito mais. Este espírito foi passado aos seus descendentes, que criaram serviços sociais relevantes em São Paulo e em Campos do Jordão – onde é lembrado também por ter construído o Hotel Toriba em sociedade com seu genro Luiz Dumont Villares. Hoje a existência da Fundação Stickel é continuidade dos bons princípios e exemplos deixados pelo industrial.

Depois de sua morte, em 1949, as empresas passaram a ter administração de seus descendentes,  sendo que a “Indiana” passou a ser comandada por um de seus genros, Erico João Siriuba Stickel, um indivíduo muito ligado às artes que deixou um legado de filantropia e cultura apreciáveis.

Anúncio veiculado em lista telefônica do ano de 1961

As instalações da “Indiana” contemplavam parque fabril, depósitos, uma vila operária, escola primária, além de outras construções que abrigavam as atividades de apoio aos funcionários que, tradicionalmente recebiam estes benefícios das indústrias de Diederichsen. Infelizmente existem pouquíssimos registros fotográficos do prédio.

Foto 3 – A fábrica em destaque (clique na foto para ver a imagem completa)

No início da década de 1970, com uma forte crise no setor de fiação e dificuldades crescentes, os administradores, não vendo perspectivas para a continuidade da empresa, vão diminuindo de forma significativa as atividades fabris e acabam fazendo um acerto para a venda do controle acionário.

Foto 4 – Rara imagem interna da antiga fábrica

O interesse dos compradores não estava nem na empresa nem na continuidade fabril, mas, sim, no terreno onde estava instalada a “Indiana”.  Logo depois da venda o terreno acabou sendo negociado com a incorporadora  Veplan – Residência, que lançou o Shopping  Ibirapuera em 1973 e o inaugurou em 1976.

A partir de agora, sua ida ao shopping terá um sabor diferente, pois nesse lugar há muito mais histórias para serem aprendidas do que coisas para serem compradas. Bom passeio!

Foto 5 – Shopping Center Ibirapuera em construção no início de 1975 (clique para ampliar)

Agradecimentos:
Fernando Stickel
Arnaldo Diederichsen

Curiosidades:

Logotipos da Argos Industrial S.A. e da Fiação para Malharia indiana S.A. projetos dos anos 60-70 do designer gráfico Alexandre Wollner (1928-2018), considerado o pai do design moderno no Brasil.

Wollner participou da fundação da primeira escola de design do país em 1962, a Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro – ESDI.

NOTA*1 – MOEMA OU INDIANÓPOLIS ?

Embora seus moradores e os paulistanos em geral conhecem o bairro como Moema, até meados da década de 1980 o bairro era conhecido pelo nome de Indianópolis.

A mudança veio apenas em 1987 quando o então prefeito Jânio Quadros atendeu a reivindicação dos moradores e comerciantes da região, acatando a denominação de Moema, através do decreto 24.764 de 15/10/1987.

Bibliografia:

– Os precursores do Progresso do Brasil In Memoriam. Soc. Bras. de Expansão Comercial Ltda. São Paulo, 1959. Col. José Vignoli
– site da empresa Fábrica de fios Setta Ltda – Link visitado em 06/07/2020
– Blog de Jacareí – Link visitado em 06/07/2020
– Folheto de lançamento do Shopping Ibirapuera

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Respostas de 26

  1. Amei a história, como tudo que relata sobre o passado desta cidade que eu tanto amo.
    Parabéns e continue nos trazendo mais e mais.
    Abraços.

  2. Algo me diz que tudo era elaborado com mais dedicação ; a vida das empresas quanto mais “idosas” mais confiáveis , mais apreciadas ! Hoje mudam de nome, mudam de proprietário e até desaparecem sem que tenhamos tempo de memorizar e recordar : frio, impessoal, como o material usado nas construções. C’est la vie!

    1. Mais ou menos, muitas empresas do passado faliram por tomarem decisões equivocadas, crises societárias ou de sucessão.

  3. Minha familia, tanto por parte de pai vomo de mãe, eram opersrios na Fiação Indiana e moravam nas casas destiinasas aos operarios, Tambem estudei na Escola Primaria Fiacao Indiana. Mantida pela empresa, nao esquecendo da parte social e esportiva. Local com campo de futebol quadra salao de festas e churrasqueira. Tempo bom que nao da para esquecer.

    1. Dino você deve ser meu parente. Meu avô Olimpio Borba e avó Cretalia Borba, trabalharam na fiação e moraram nas casas da vila Indiana. Posteriormente, meus pais também…

  4. Meu pai trabalhou durante 35 anos na Fiação Indiana.
    Minhas três irmãs também trabalharam lá.
    Eu estudei na Escola Primária Fiação Indiana e tirei o diploma do primário em 1961.
    A diretora era a dona Célia Verônica Mariano.
    Tempos maravilhosos.

  5. Obrigada pelas informações! O nome do bairro Indianópolis então resultou da Malharia “Indiana”?

  6. O passado é realmente fascinante. Gostaria de saber se o sr. Ernesto Diederichsen é (era) parente de Antônio Diederichsen, de Ribeirão Preto, responsável pelo primeiro prédio multi-funcional do interior de São Paulo?

  7. Sim, era uma época em que a moda era outra, e por consequência a necessidade de tecidos também! m Santo Amaro, próximo à antiga Calfat e do cemitério de Sto Amaro, bem como da Horasa, havia a Fábrica de Veludo, de imigrantes italianos. Depois o terreno abrigou o shoping Center Sul, e atualmente o Shopping Boa Vista. Parece-me que a antiga fábrica ainda existe, mas em outro local. Minha mãe trabalhava com, e era amiga da filha do dono na empresa, e entre outras conversas, uma interessante, é que ela dizia-lhe que na Itália só se tomava café em comemorações, e por pessoas com posses, pois era muito caro, o que era completamente diferente do que vivia aqui!

  8. Quando adolescente, lá pelos anos 1950, joguei futebol num campo que tinha dentro da s instalações dessa fábrica. Não me lembrava mais onde era o lugar e só agora vendo essa publicação encontrei o lugar.

  9. Parabéns ! Adorei essa matéria ! Bom demais, saber sobre a história e curiosidade desta malharia e o atual local do Shopping Ibirapuera.

  10. Eu e meu irmão estudas na Escola Primária Fiação Indiana, fizemos todo o primário lá, e minha mãe e duas tias minhas trabalharam na fábrica e moramos muito tempo na Rua Mucajai, que na época era chamada de Vila Indiana, pois as casa eram para os funcionários da fábrica. Bons tempos. Criei uma página no Facebook Escola Primaria Fiação Indiana para deixar viva a historia da escola…

    1. Vc morou na mucajai ?
      Vc conhecia o Fernando , irmão caçula do Luciano?
      Eu sou o Pedro que morava na nhambiquaras,
      Abs,

      1. Bom dia,
        Sim morei na Mucajai e conheci o Fernando, o Aranldo e a Silvana irmãos do Luciano. Eu morava em frente a casa do Mário, lembro de você na época eu era conhecido por toninho e você defe ser o Pedrinho?

  11. que bacana essa reportagem da Indiana, Cotonifício Adelina, Argos, etc., tenho saudade do tempo que trabalhei como office boy na ADELINA, na década de 60, meu primeiro emprego registrado, diretor Dr. Erico e Sr. Arthur Stickel depois pelo Dr. Francisco Sampaio Moreira, Grande saudade dessa grande empresa, pena não tenho fotos dessa época, não existiam câmeras como hoje. Abraços a todos os ex-dirigentes e seus familiares.

  12. Olá José, muito bacana o artigo. Gostaria de saber se você tem mais informações sobre o cotonificio Adelina. Fotos, logotipo, fundação ou algo do tipo, e sobre a aquisição da vila Taíde pelos mesmos. Muito obrigado

  13. Minha e minha Tia trabalharam n Fia ção Indiana, eu meu irmão e primo estudamos no periodo de 1965 a 1970 ano do encerramento das atividades da escola. Morei muito tempo na vila das casa na Rua Mucajai criei uma página no facebook comk o nome da escola para resgatar as lembranças. Parabens pela postagem e site.

  14. Meu Pai Sebastião Agapito, se aposentou nessa empresa, morou na Vila Indiana..
    Se orgulhava muito de ter trabalhado na Indiana.
    Contava muitas histórias para nós

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