Light – Prédio e Estação de Bondes

A Avenida Celso Garcia já foi a mais importante, e por muito tempo única, via de ligação do centro de São Paulo com os bairros mais distantes, como Penha e São Miguel Paulista. Hoje um tanto quanto decadente e esquecida pelo poder público, a via já teve todo tipo de comércio e estabelecimentos comerciais, inclusive uma saudosa garagem de bondes e um edifício da Light que, mesmo deteriorados, permanecem de por lá.

clique na foto para ampliar

Neste prédio da foto acima e também na área ao lado (próxima foto) estão presentes a memória da energia e dos transportes coletivos da capital paulista. Nestes prédios, respectivamente funcionaram uma filial da The São Paulo Tramway, Light e Power Co., Ltd, que aqui trataremos apenas como “Light” e a garagem dos bondes da empresa.

Em 1900 passaram a circular em São Paulo os bondes eletrificados, que substituíram os ultrapassados bondes movidos a tração animal que operaram na cidade pela Viação Paulista.

Os dois prédios aqui abordados foram construídos pela Light entre 1900 e 1906. Da antiga “cocheira do Brás” que era o nome do local onde ficavam os bondes movidos a burro que operaram até a virada do século 19 para o século 20 nada mais existe. Entretanto o antigo complexo da Light sobrevive até os dias atuais.

E a palavra “sobrevive” é a mais apropriada, principalmente para o edifício. Sem uso há alguns anos, enfrenta uma grave deterioração, apresentando-se bastante mal cuidado e precisando de restauro urgente.

Na foto a entrada da antiga garagem de bondes e trólebus (clique para ampliar).
Na foto a entrada da antiga garagem de bondes e trólebus (clique para ampliar).

Enquanto a antiga garagem de bondes continua funcional até os dias atuais, tendo servido com garagem de bondes até 1968 e após este período alternando como garagens de ônibus elétricos (CMTC e Transbraçal) e diesel, o velho prédio da Light sofre com o descaso de anos e anos de abandono.

Tombado como patrimônio histórico desde janeiro de 2013 pelo Condephaat, o imóvel está numa situação muito ruim. Embora com as estruturas preservadas, o local está repleto de pichações, sujeira, vidros quebrados e até janelas faltando. Até pouco tempo atrás, funcionava como Departamento de Distribuição do Sistema de Corrente Contínua da Eletropaulo, porém já tem alguns anos que a placa da empresa foi removida da fachada.

No passado mais remoto o prédio também servia como local para pagamento de contas de consumo de energia elétrica. As duas imagens abaixo, são frente e verso do canhoto da conta de luz da extinta Light do ano de 1935. No verso é possível ver os endereços de pagamento, um deles o da Avenida Celso Garcia.

Clique na miniatura para ampliar:

A arquitetura do prédio remete ao padrão típico adotado pela Light no Brasil em quase a totalidade de seus imóveis, com tijolos aparentes e forte inspiração na arquitetura canadense e inglesa. Estilo este que pode ser conferido em outras dependências da empresa instaladas em outros bairros paulistanos, como a Vila Mariana.

Esperamos que o imóvel seja brevemente restaurado, contribuindo para uma reurbanização desta área do Brás, há anos deteriorada e esquecida pelas autoridades municipais.

Na foto, vista parcial do interior do imóvel (clique para ampliar).

Por fim, chamou a atenção também a demora do processo de tombamento do imóvel. Entre a entrada do pedido para o estudo de tombamento (1991) e a concretização do processo (2013) levaram 22 anos. É inaceitável que se leve tanto tempo para se aprovar (ou negar) o tombamento de uma edificação histórica. A lentidão do processo torna evidente a excessiva burocratização do Condephaat e a necessidade urgente de remodelarmos os processos vigentes de tombamento.

Veja mais fotos do local (clique na foto para ampliar):

ATUALIZAÇÃO – 10/02/2022:
Informamos que desde novembro de 2013, data inicial da publicação deste artigo e até o presente momento nada mudou na situação deste edifício.

Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Calçada da Fama continua em risco

Árvore que ficava junto a Calçada da Fama, na Praça Charles Miller e ao lado do Museu do Futebol, é removida deixando o monumento abandonado ainda mais exposto. Saiba mais sobre a situação.

Leia mais »

Respostas de 19

  1. Eu passava direto em frente a este prédio (morava na ZN e algumas linhas de ônibus vindas do centro faziam a Celso Garcia), acho ele lindo. Lembro de uma época que vendiam passagem de ônibus ali ao lado. Na região tem um monte de coisa bonita caindo aos pedaços, uma pena, mas essa parte menos glamourosa do centro velho e a ZN parece que nunca despertaram interesse de ninguém para preservação. Triste.

  2. Interessante ver que no canhoto, aparece também o endereço da Light na ladeira Coronel Rodovalho, na Penha. Ali também havia uma garagem de bondes, em estrutura toda de madeira, e que serviu como abrigo para os veículos da Eletropaulo que servem aos funcionários da sede que fica anexa até há poucos anos atrás, quando foi demolida para a construção de um segundo prédio para abrigar um posto de atendimento deles. De lembrança, ficaram só alguns pedaços de trilhos, visíveis graças a algumas falhas no asfalto, e o calçamento do pátio interno, todo em paralelepípedos. É pena…

  3. Eu nasci e cresci aí perto e conheci a garagem quando ainda eram os bondes que até conviveram com os troleibus. As portas da Rua José de Alencar ainda abriam e as ruas ainda eram de paralelepípedo. Até o prédio da Celso Garcia tinha um movimento e não tinha pichação. Outros tempos. Belo post

  4. Bem, para consolo de vocês, esse prédio tem uma pequena chance de voltar aos dias de gloria…

    Eu como entusiasta do sistema trolébus, acabo seguindo e acompanhando alguns processos em torno dele…

    http://puu.sh/5nKCm.pdf
    Isso aqui é um dos anexos do edital da licitação para cuidar de toda a rede aérea do sistema trolébus de São Paulo… Que seria o “Sistema de Corrente Continua” que antes disso estava nas mãos da Eletropaulo, como citado no texto… Continua pois o trolébus usa 600V CC enquanto o resto da rede usa CA.

    No anexo 3.6 “Áreas de Apoio e Outros Recursos” estava escrito isso:

    “Para o CCO e Serviços de Apoio: O Centro de Controle Operacional e Serviços de Apoio devem ser instalados, obrigatoriamente, no Prédio situado na Av. Celso Garcia, 158 – (Este prédio é tombado pelo CONDEPHAAT).”

    Estamos no Brasil, na teoria tudo é lindo… Uma tal de Façon venceu essa licitação, não sei se chegaram a fazer alguma reforma na rede mas o negócio é que eles pediram falência e segundo o ViaTrolébus ( http://viatrolebus.com.br/2012/10/consorcio-via-aerea-deve-assumir-manutencao-da-rede-eletrica-dos-trolebus-em-sp/ ) entrou o segundo colocado, uma tal de “Via Aérea”…

    Vamos ver.

  5. Curiosamente, todas as agências da light, que não o escriptório central, eram garagens de bondes. Vila Mariana, Al. Glette, Bras e Penha.

  6. Em algumas cidades americanas, o troleibus esta sendo implantado, enquanto aqui tudo vai se deteriorando. Como sempre infelizmente.

  7. “Por fim, chamou a atenção também a demora do processo de tombamento do imóvel. Entre a entrada do pedido para o estudo de tombamento (1991) e a concretização do processo (2013) levaram 12 anos.”

    Colega, tem um erro de matemática ai, pois de 1991 para 2013 são 22 anos e não 12…

    Mas enfim, me lembro que no início da década de 1990 ainda funcionava a garagem de trólebus ai e também era aonde eu ia comprar passe para poder tomar ônibus para ir a escola, para as gerações mais novas que não sabem o que é um passe (não é aquele de centro espírita) façam uma consulta com o “Pai Google das internets” que ele vai falar para vocês.

  8. O predio remonta a construcoes em Chicago, New York, Toronto ou ate mesmo Londres. Me parece um Italianato ou “Italianate”, pode se deduzir pelos ornamentos na cumeeira. O tijolo exposto e um detalhe que denota influencia Britanica, aonde curiosamente o Italianato floresceu no Seculo XIX.

  9. Outro detalhe interessante. Haviam Bondes em Los Angeles, tal como em San Francisco. E trolebus ou Trams. Isto no pos guerra. E que bem serviam a populacao, a qual usava do servico com regularidade.

    Pois a General Motors comprou as linhas de onibus eletricos na epoca, sob a desculpa de melhorar os servicos, e bla,bla, bla……. e depois mandou destruir todos os onibus eletricos. Isto so para prevalecer o seu tipo de economia, a economia do automovel.

    A implementacao do servico de ferrovias e trolebus nos USA e anemico se compararmos ao que a China construiu nos ultimos 30 anos, a qual nao deixa sequer regioes remotas sem acesso a ferrovias. Ganhe ou perca dinheiro nas rotas. Integracao do pais e levada a seria pelos Chineses.

    Enquanto isto…. Na maioria das regioes metropolitantas, excecao a NY, Boston, Chicago, San Francisco depende-se quase que exclusivamente do automovel.

    O Processo de se melhorar o transporte publico nos USA esbarra em um problema….. Falta dinheiro para custear obras ( Orcamento militar recebe prioridade ), e o marasmo politico burocrata deles e igual ao nosso. Ou seja, nada sai do papel. E quando o conseguem, sao malhas que nao transportam ninguem ( o que e o caso de Detroit ).

    Enquanto isto, o motor economico de cidades como Atlanta, Houston, Los Angeles, Dallas, Austin, San Diego entre outras fica comprometido com a escalada de custo de moradia em areas centrais, e o estado precario de transporte publico por la. Um gargalo e tal.

  10. Esperei muito ônibus no ponto que existia em frente a este prédio. Ficávamos conversando até passar um Penha-Lapa em que coubéssemos dentro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *