Jardim Anhanguera

Morar em uma casa é possivelmente uma experiência muito mais agradável do que em apartamentos. Apesar de edifícios ganharem mais pontos nos quesitos de lazer e segurança, a casa ainda traz uma sensação de propriedade melhor que a vida nos prédios. E se a sua for em uma vila, a coisa fica ainda melhor.

Hoje, inclusive, este conceito de vilas residenciais tem voltado com alguma regularidade, através de pequenos condomínios de casas espalhados pelos bairros paulistanos. São casas minúsculas, é verdade, mas ainda assim são casas.

E na Pompeia encontramos um conjunto de casas dispostas em formato de vila, bem interessantes: o Jardim Anhanguera.

Crédito: Divulgação

Construídas e projetadas entre os anos de 1943 e 1944 por Artacho Jurado, e entregue aos compradores em 1945, o Jardim Anhanguera é um conjunto de casas, em estilo similar ao de vila, erguidas nas ruas Venâncio Aires e Raul Pompeia, na zona oeste de São Paulo.

Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

São vinte e cinco residências bastante interessantes e que foram erguidas pela Construtora Anhanguera Ltda, que também construiu outras casas na mesma rua, do outro lado, e também em diversos outros logradouros da região. O conjunto de residências, que homenageia no nome a própria construtora, foi uma das primeiras obras de Artacho Jurado em São Paulo, quando ele ainda não tinha ainda se tornado um dos principais nomes da arquitetura e engenharia de São Paulo.

O conjunto pouco tempo depois de inaugurado (foto: Acervo Diva Jurado)
O conjunto pouco tempo depois de inaugurado (foto: Acervo Diva Jurado)

Os imóveis são dispostos em uma pequena vila residencial, atualmente isolada por um portão, além de outros imóveis voltados para a rua. Do total, 8 são na rua Venâncio Aires, 6 na rua Raul Pompeia e as demais na parte interna da vila. Vila aliás que é um pouco diferente do que é mostrado na ilustração que inicia o artigo.

Casario da rua Raul Pompeia (clique na foto para ampliar).
Casario da rua Raul Pompeia (clique na foto para ampliar).

Quase 70 anos depois de sua inauguração, poucas casas do Jardim Anhanguera sobrevivem com sua arquitetura 100% original. Muitas delas já sofreram intervenções leves, que trouxeram alguma descaracterização, e outras foram totalmente modificadas, sendo que algumas delas atualmente nem parecem ser do mesmo empreendimento.

A característica de vila se perdeu com o tempo (clique na foto para ampliar).
A característica de vila se perdeu com o tempo (clique na foto para ampliar).

A diversificação de cores, portões, janelas e outros itens tornaram a “sensação de vila” um tanto imperceptível. Apenas ao observar o brasão “Jardim Anhanguera” que ainda sobrevive em algumas das casas (veja foto 2 acima e foto 11 da galeria no final do texto) é que nos faz lembrar que todas estas casas foi projetado para ser um conjunto no estilo de vila.

clique na foto para ampliar
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No detalhe das poucas casas totalmente preservadas, como a amarela da foto acima, é possível notar o capricho da construção. São inúmeros detalhes na moldura das janelas, na textura das paredes, no gradil frontal da casa e até nos suportes para vasos sob a janela de um dos quartos. Elas mostram um tipo de arquitetura cada vez mais raro em São Paulo.

Detalhe de duas residências na rua Raul Pompeia (clique para ampliar).
Detalhe de duas residências na rua Raul Pompeia (clique para ampliar).

Vilas como esta, pouco conhecidas do paulistano, são verdadeiras jóias urbanas e precisam ser preservadas. Retratam um tipo de construção e arquitetura cada vez mais raros em nossa cidade. Que sejam preservadas por muitos e muitos anos.

Veja mais fotos do Jardim Anhanguera (clique na miniatura para ampliar):
Nota: As fotos 1 e 2 da galeria abaixo foram extraídas da Revista Acrópole ano 8, número 88 de agosto de 1945. As demais são do nosso acervo.

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Respostas de 11

  1. Adorei a matéria, sou arquiteta e passo pela frente da vila todos os dias e qdo pequena morava na Rua Venancio Ayres.

  2. Olá! Adorei saber sobre esta vila, no Brooklin tb existe algumas casas do Artacho Jurado, mas somente uma preserva suas características originais, e está abandonada… Deixo minha sugestão para colocar sempre que possível o mapa do google para que a localização fique mais rápida 🙂 Abraços!

    1. Ele comecou construindo exatamente no Brooklin. Que e a razao pela qual o bairro ( o Baixo Brooklin proximo a Avenida das Nacoes Unidas ), atualmente,, chama-se, tenicamente Cidade Moncoes. Derivado de Moncoes Construtora e Incorporadora.
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      Ele alugava holofotes para eventos ( daqueles que vc vem em Galas Carpete Vermelho em Hollywood ).
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      O pai dele era um Anarquista Espanhol, e dai talvez tenha herdado seu espirito indomavel que refletiu em suas obras. Ele era da Zona Leste, reduto de Imigrantes Espanhois e Portugueses ).

  3. Precisamos urgentemente tombar os bairros de São Paulo, para os que ainda possuem características residenciais continuem assim, dando um freio na especulação imobiliária, que deveria cuidar de ocupar-se de áreas degradadas e vazias, como o centro velho, a cracolândia e os outrora bairros industriais como o Belenzinho, Brás, Mooca e outros, com seus galpões desocupados.

    1. Uma verificada nos enderecos mostra que as casas nao estao sob tombamento, segundo a Prefeitura Municipal de Sao Paulo

  4. adoro artacho jurado,arquiteto auto didata que marcou são paulo om seus projetos audaciosos e modernos,descriminado pela classe de engenheiros e arquitetos de sua época,criou vários ícones na cidade,não sabia da existência da vila anhaguera,muito legal,pena a descaracterização dela,enfim a cidade e um ser vivo em eterna mutação.

  5. Moro no bairro do bairro do Ipiranga e esse bairro tem o cheiro de história no ar, fico deslumbrada com alguns casarões que resistindo a incapacidade do povo brasileiro de preservar a sua memória, ainda resistem aos interesses comerciais das grandes construtoras. Sugiro que visite os belos casarões do Ipiranga.

    1. Ele ja o fez. E so procurar no blog. O Baixo Ipiranga, proximo ao Sacoma, tem varias destes sobrados conjugados de operarios.

  6. Douglas, parabéns pela pesquisa e registros. Precisamos de mais “Douglas” para recuperarmos as referências arquitetônicas de nossos bairros. Preservar a memoria que o cupim da especulação imobiliária devora de forma avassaladora.

  7. Douglas,
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    As fotos originais, em preto e branco, mostram as casas expostas a um dia ensolarado. Para se obter o mesmo efeito desejado pelo Atarcho Jurado, vc precisa agendar as tuas tomadas de foto para fazer juz ao resultado desejado em dias ensolarados, preferivelmente pela manha.

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