Localizado em uma de nossas mais importantes vias, a Avenida 9 de Julho, o antigo edifício do INSS é um dos maiores exemplares de art decó da Cidade de São Paulo e também representa um dos maiores símbolos do descaso do governo federal para com a capital paulista.
O Governo Federal especialmente pelas autarquias da Caixa Econômica e do INSS, é um grande proprietário de imóveis em todo o Brasil e também na capital paulista. Nas mãos federais apodrecem sem destinação alguns dos patrimônios históricos paulistanos, como este edifício em questão, outro dos anos 1940 na rua Martim Fontes além do célebre Edifício Wilton Paes de Almeida, entre tantos outros.
O fato destes bens estarem nas mãos de um órgão federal ao invés de um órgão mais próximo do caso, ligado as esferas estaduais e municipais, complica ainda mais a possibilidade de dar um destino justo ao bem. Nas mãos do INSS ficam milhares de imóveis em todo o Brasil que, mergulhados na burocracia e na incompetência, não conseguem resolver o que fazer com estas construções, que ficam abandonadas por décadas e cada vez mais deterioradas.
ÍCONE ARQUITETÔNICO DA AVENIDA 9 DE JULHO:
Com sua construção iniciada em 1939 e inaugurado em 1943, o o edifício erguido para ser sede da delegacia de São Paulo do IAPETC*¹ é um dos ícones da arquitetura paulistana durante a Era Vargas e foi projetado Jayme Fonseca Rodrigues*². Formado pela Escola de Engenharia do Mackenzie, Fonseca Rodrigues foi autor de obras marcantes tanto em São Paulo como em outras cidades brasileiras.
Com um total de 14 andares, este edifício foi um dos primeiros a serem erguidos neste trecho da Avenida 9 Julho, hoje tão movimentada e repleta de prédios. A fotografia abaixo, dos anos 1940, ilustra muito bem a região naquele período do século 20:
Desde o princípio, o prédio chamou a atenção dos paulistanos pela sua imponência, especialmente devido a sua arquitetura sóbria e também por suas dimensões, destoante da maioria das construções ao seu redor.
SEDE DE AUTARQUIAS FEDERAIS:
Criado em 1938, o IAPETC era um dos órgãos federais de previdência, em um período que este benefício era descentralizado. Décadas mais tarde, em 1966, totalmente unificado, se transformaria no INPS e posteriormente, em 1990, no INSS, como é conhecido nos dias de hoje.
Estas diversas mudanças nas autarquias também foram afetando o edifício ao longo de sua trajetória, até que que finalmente foi desocupado ficando em qualquer destinação, seja ela pública ou social.
Vazio chegou a ser palco de incêndio e por mais de uma vez foi ocupado por grupo de famílias sem teto. Atualmente encontra-se vazio, com sua fachada totalmente tomada por pichações, muitos vidros quebrados e, de acordo com vizinhos, sofrendo constantes ataques para roubos de fios de cobre e instrumentos.
QUAL O FUTURO RESERVADO A ESTE EDIFÍCIO ?
Desde 2006, tramita no Ministério da Previdência Social um projeto para transformar o imóvel em moradia, pelo Programa de Arrendamento Residencial. Passado mais de uma década, sabe-se lá se este programa ainda está em vias de ser aplicado ou se foi engavetado.
Projetado para uso comercial, destinar o célebre edifício do INSS para fins de moradia pode ser um erro. Há inúmeros edifícios em São Paulo que já são de caráter residencial e que podem ser destinados facilmente ao programa de arrendamento residencial. Este, por sua vez, deveria ser destinado a tornar-se uma universidade, edifício público, biblioteca ou algo do gênero.
Adaptá-lo para moradia é uma decisão impensada e demagógica, uma vez que um prédio como este que é um patrimônio histórico demanda um alto custo de manutenção, inclusive para preservá-lo em suas características originais o que torna oneroso para pessoas de baixa renda, que dificilmente terão como lidar com valores de restauro, que geralmente são elevados. Será que nenhum técnico do governo federal pensou nisso ?
Enquanto nada é resolvido, um ícone da arquitetura paulistana continua agonizando.
Galeria de fotos antigas deste edifício (clique para ampliar)*³:
Veja mais fotos deste edifício (clique para ampliar):
NOTAS:
*1 – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas
*2 – Jaime Campello Fonseca Rodrigues (Nascimento: 1905 – Falecimento: 1946)
*3 – Crédito das fotografias antigas: Revista Acrópole – Número 66 – Ano 6 (1943)
Respostas de 34
Boa noite. E parece que quando é em São Paulo abandonam com “gosto”, parece que odeiam o que foi feito por paulistas.
Obrigado.
Ugo, essa é a idéia da federação como um todo. Ajudada pelos Petistas.
São Paulo é um entrave para o desenvolvimento dos outros estados.
Mas esse é um pensamento de inveja e só dos outros estados, pois o que nós esperamos e torcemos é para que eles se desenvolvam e se tornem também fortes.
Mas não através de alteração de valores de impostos cobrados, ou dar incentivos fiscais para atrair industrias que já estavam aqui anteriormente.
Na minha opinião devemos nos juntar com o movimento do sul e formarmos um país descente.
Pois hoje nós somos apenas escravizados e desmoralizados aos poucos.
Eu tenho orgulho de ser Paulista porém vergonha de ser Brasileiro.
Eu sou nascido aqui, mas toda a minha família é de MT. Já morei em Cuiabá e em Brasília e posso dizer que as pessoas no centro oeste valorizam, e muito, os paulistas e sua forma de desenvolvimento. Se essa inveja existe, deve ser muito localizada por alguns pequenos grupos. São Paulo – hoje menos – gera dinheiro para todo o Brasil.
É, afinal a Prefeitura e o Governo do estado de SP são um exemplo na gestão de preservação do patrimônio histórico… aliás não só do patrimônio histórico como da cultura em geral, saúde, educação, segurança. Que beleza que é São Paulo, a própria Suíça na América do Sul!
São Paulo só não é melhor porque a elite sindicalista, no poder central, atrapalha.
Diferente de outros Estados – os do Sul em particular – São Paulo vem sofrendo desde os anos 1960 com a sua descaracterização, impulsionando, com isso, as mazelas que todo mundo presencia.
Na minha concepção, é quase impossível uma cidade crescer desordenada e espantosamente, com fluxos e mais fluxos de pessoas chegando em busca de melhores condições de vida(em relação a seus estados,cidades e países de origem) conseguir dar conta de seu partrimônio histórico, cultura, saúde, educação, segurança…Haja visto a nossa periferia, em todas as regiões; ela nunca foi tão…”bagunçada”(para ser delicado)como é atualmente.
São Paulo pode nunca ter sido a Suíça da América do Sul, mas já foi bem melhor, mais coesa pelo menos, do que é hoje.
Também tenho essa impressão.
assino embaixo, Ugo.
Faltou dizer quem foi o arquiteto deste edifício e, se não me engano, foi o Jayme Fonseca Rodrigues, o mesmo de um famoso condomínio em Guarujá, no final da praia das Pitangueiras, chamado “Sobre as Ondas”, também patrimônio histórico. Só que lá o prédio está conservado e utilizado.
comentários críticos à concepção elitista de cidade dos autores não são aceitos? É óbvio para qualquer um que uma cidade mais justa destinaria para fins de moradia social seu patrimônio ocioso… Apenas as elites não conseguem perceber isto.
Gabriel, não entendemos. Seu comentário foi aprovado.
A moderação trabalha e estuda e não fica o dia todo disponível. Só encontramos esse comentário e foi aprovado.
havia outros comentários, talvez tenham caído na pasta de spam. De qualquer forma, desculpem pela grosseria e obrigado pelo atenção: este sítio é excelente e reúne matérias singulares, só apresenta por vezes opiniões um tanto quanto elitistas demais…
prezado gabriel,
quais são as opiniões um tanto quanto elitistas a que você se refere?
morei neste prédio durante 19 anos, de 1956 a 1975, sendo despejado pelo então INSS. As familias que ali moravam, do 5º andar para cima, eram de funcionarios de diversos setores dos ex IAPETEC, muitos dos quais trabalhavam no prédio, como a minha mãe. O predio foi projetado para ser residencial do 5ª andar para cima, tanto que tinha grandes sacadas em vários apartamentos, em diferentes andares. No apto que morei, havia um jardim de inverno, com jardineira e plantas. No térreo estava a tesouraria, com um grande cofre, tipo daqueles de banco. Havia um play ground no terreno de trás, com saída pelo 3º andar, e um bercário, no 4º andar, para os filhos das funcionárias. Foi uma pena que perdemos a ação na justiça, pois foi um dos únicos (senão o único) predio de apartamentos do INSS que não foi vendido aos seus inquilinos. Não estaria no estado lastimável que hoje se encontra, sendo que não servirá para mais nada, devido ao elevadíssimo custo para qualquer tipo de reforma. Pela deterioração do revestimento externo, todas as estruturas estão com infiltração de água, sem contar os inúmeros incendios que já sofreu, provocados pela invasores. Até uma arvore nasceu no andar que eu morava.
Esse prédio é maravilhoso, de tirar o fôlego.
A crítica feita ao abandono do edifício do INSS na Av. 9 de Julho está muito bem feita no que se refere a incopetência do Governo Federal. No entanto existe um grande equívoco na hitória deste prédio. Ele, assim como tantos outros pelo Brasil, foi construído para moradia de funcionários da instituição ao qual pertencia, neste caso IAPTEC. Eu nascí neste edifício em 1955 e somente saí de lá aos 17 anos. Ele era utilizado como escritório apenas até o quarto andar e do quinto até o décimo terceiro são apartamentos. O mais grave da história foi que todos pagavam aluguel para morar lá e, quando o governo solicitou o imóvel, vários moradores propuseram comprar os apartamentos e aqueles que não tinham condições sugeriram um aumento no aluguel. Mesmo com a Prefeitura fazendo um laudo, no qual contraindicava o uso comercial, o Governo continuou pressionando até que o último morador saísse. Após isso, eles usaram poucos apartamentos e alguns anos depois abandonaram tudo, até porque praticamente em frente existe outro edifício, o qual era do IAPI, e que já era totalmente utilizado como escritório. Um absurdo de desleixo com a sociedade.
É ISSO AÍ, FRAN. TODOS NÓS SENTIMOS TER QUE SAIR DO PREDIO NO QUAL CRESCEMOS ( E TODOS ESTUDAMOS NA CAETANO DE CAMPOS, DEVIDO A PROXIMIDADE E PELO EXCELENTE ENSINO ), E FOIN NESTE PRÉDIO QUE APRENDEMOS A IMPORTANCIA DAS AMIZADES E DE VALORIZAR O QUE SE CONSEGUE COM SACRIFÍCIO E SUOR, COMO FIZERAM OS NOSSOS PAIS.
Ervin e Fran…..que saudade da nossa infancia e de vcs meus amigos queridos!!! Nossa eu revivi aqui aqueles belos anos que vivemos la. Me enviem os seus emails.Precisamos nos encontrar.bjo grande.
Lucia: como podemos encontrá-la? Somente hoje li o seu comentario. Meu telefone é 9213-8166. Saudades do nosso tempo neste predio que nos viu crescer. Beijos. Ervin
Olá,
Não acho que a crítica feita pelo site São Paulo Antiga seja elitista, como disse o amigo Gabriel.
Acredito que transformar um prédio desse porte em residências não é viavél pois demanda um custo muito alto de manutenção e se a idéia é colocar pessoas carentes para morar nele, concordam que a manutenção pode deixar de ser realizada?
Como disse em outro comentário, várias repartições públicas estão em locais alugados, esse prédio poderia ser retaurado e transformado em um local de trabalho.
Abraços
custo alto? vai visitar a ocupação e veja com seus olhos o que é feito com muito pouco ou quase nada. precisamos de moradia popular e não mais equipamentos culturais.
Ah, e bela história dos antigos moradores.
Uma pena que vocês tenham que er saído, com certeza hoje o prédio ainda estaria lindão!
Havia sugerido uma matéria sobre esse prédio e só agora é que vi que já havia sido documentado. O edifício é fantástico! Belas fotos e belos depoimentos dos antigos moradores. E ponto para a foto antiga do edifício e para o leitor que resgatou o nome do arquiteto que o projetou. Ótimas contribuições.
Queridos amigos Ervim ,Francisco e Lucia, que saudade, tivemos uma ótima infancia nesse edificio e me lembro que eramos quase 50 crianças a deixar o Sr Zerbini de cabelos em pé, lembro da Heloisa, da Alina,da Betina,do Elmo, dos gemeos do 10 andar,lembro também que ganhamos a causa sim,pra continuar a pagar aluguel no predio,mas ja todos tinham ido embora pela pressão do governo da época,inclusive nós, lembro do meu pai revoltado com uma decisão justa tão tardia,pois todos ja haviam partido, uma pena pois era adoravel viver ali com o nosso 3 andar…..quanta brincadeira e que privilégio tivemos em ter esse espaço em pleno centro da cidade….gostaria que se fizesse um espaço sadio para as crianças ali, fizessem um grande parque no 3 andar e um tipo de edificio de assistencia social…uma escola modelo como era o Caetano, ficaria muito feliz,mas,infelizmente, só vejo competencia ao abandono dos governantes, não desejo outra cracolandia ali.Beijos amigos tenho saudades 1232075682.
Silvinha: estamos todos nas memórias de cada um. Beijos mil. 11 9213-8166
O centro da cidade é repleto de imóveis como este abandonados. Ora, no exato momento em que a cidade pensa mais um Plano de Diretor, que prevê o adensamento populacional das regiões mais centralizadas, por que então não reformar este e outros prédios desocupados, e transformá-los em edifícios residenciais? Não precisam ser necessariamente habitações populares, há imóveis que podem ser reformados e adaptados para todos os gostos e bolsos e esta iniciativa deveria ser tocada exclusivamente pelo poder público, já que esta região não é palatável para especulação imobiliária, pois se assim o fosse as grandes empreiteiras já teriam tomado conta e imensos e suntuosos lançamentos teriam sido feitos há muito tempo. Há regiões dentro do centro em franco declínio e praticamente abandonadas, como o Moinho e a cracolândia, além de toda a orla das avenidas Rudge e Rio Branco, que poderiam ser repovoadas, bastando apenas vontade política de se fazê-lo.
Olá Douglas!
Sou estudante de Arquitetura e estou fazendo para trabalho final, uma pesquisa de edificios vazios.
Já peguei dados do IPTU progressivo, pesquisas da FAU USP, e muitos outros artigos.
Escolhi este prédio para trabalhar em projeto de Retrofit para habitação (não só social, mas diversas tipologias).
Você saberia/poderia me dizer onde encontro desenhos, detalhes e informações de projeto (plantas, cortes, elevaçoes, conceitos projetuais, nivel de tombamento, etc)?
Muito Obrigada,
Michelle.
Moro em frente desse prédio há mais de 26 anos e sempre esse abandono. Já foi ocupado várias vezes, muitos incêndios. Teve dias de pegar fogo mais de 3 vezes num único dia, os bombeiros saiam e já voltavam, uma pena, pois esse prédio é tão bonito. O legal é que agora já reformaram muitos apartamentos e a aparência já melhorou, estão trabalhando na reforma dia e noite, não sei quem está fazendo, mas fico feliz e tomara que seja para pessoas sem condições, carentes mesmo. Espero vê-lo totalmente reformado e na velocidade que vejo o trabalho não vai demorar muito.
Fico impressionado o ar de Nova Iorque que a cidade tinha nessa época. E triste com o ar de Mumbai que tem hoje…
Douglas, seu julgamento sobre virar ou não moradia é bem tendencioso. Convido você a visitar a Ocupação 9 de Julho e entender como além de ser possível, é viável e totalmente necessário que este prédio vire moradia. Afinal, já temos em quantidade suficiente imóveis comerciais na região central e muito poucos de moradia social.
André, eu também poderia achar o seu julgamento tendencioso. Não creio ser uma questão disso, mas de pontos de vista divergentes.
Não é porque o prédio está vazio é que precisa ser ocupado para fins de moradia. Há outros usos que podem ser feitos também e que não precisam ser necessariamente comerciais.
O centro é carente de instrumentos de ensino populares, de bibliotecas e até mesmo de centros de pesquisa. A reocupação do centro não passa apenas por moradias, mas por uma reocupação equilibrada.
Gostei da reportagem e parabenizo pela pesquisa e informações compartilhadas. Em contrapartida não vejo problema nenhum destiná-lo a moradia, afinal de contas seu uso original era residencial. É incabível não voltar os olhos ao déficit habitacional de SP, e prover locais que absorvam parte desta demanda na área central. A restauração deste edifício de fato é onerosa, porém os futuros moradores podem ser educados para serem os responsáveis pela manutenção do bem arquitetônico. Cabe a administração do condomínio, e até mesmo a prefeitura, criar programas de zeladoria em conjunto com os moradores, isso fará com que a sensação de pertencimento e bem-feitoria ao imóvel só cresçam.
Sem mais, Fernanda Almeida
Olá Douglas, meu nome é Déborah, sabe me dizer o que aconteceu com o Hospital Brigdeiro, na av. Brigadeiro Luiz Antonio? se era também o IAPETEC ? preciso desta informação, e se for verdade, onde será que foi parar o acervo do hospital na data de 1959? poderia me ajudar
Hoje em dia ele foi reformado??