Quem visita a região da Sé com frequência, já deve ter notado que faz alguns anos que um dos estabelecimentos mais longevos e conhecidos daquela parte da cidade fechou as portas. Trata-se da Homeopatia e Farmácia de Manipulação Dr. Alberto Seabra.
Fundada em 1911 a Homeopatia Dr. Alberto Seabra foi por mais de cem anos o maior nome do segmento homeopata no Brasil, tendo em São Paulo na Praça da Sé 282 a 288 sua sede própria, um edifício construído nos primeiros anos do século 20, que está preservado até os dias de hoje.
No edifício de dois andares funcionava além da farmácia, no piso térreo, o laboratório da empresa. Já o consultório do próprio Dr. Alberto Seabra teve outros endereços no centro da capital. Por vários anos o grupo também teve outros endereços, como os localizados na praça Clóvis e na praça Dr. João Mendes.
Nascido em Tatuí, interior de São Paulo, Alberto Seabra mudou-se para a capital ainda garoto onde concluiu seus estúdios primários e secundários. Posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro onde cursou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde formou-se aos 22 anos. De volta para a capital paulista foi indicado pelo Dr. Franco da Rocha para ser médico do hospital psiquiátrico do Juqueri.
Abraçou a homeopatia após ter seu filho desenganado pela classe médica, sendo aconselhado a procurar ajuda neste segmento. Com a recuperação de seu filho Seabra passa a estudar as obras de Samuel Hahnemann e tornou-se um brilhante homeopata e lamentava que as instituições na época privassem acadêmicos e profissionais médicos nesses ensinamentos. Abriu sua farmácia em 1911 e faleceu em 1936.
Com a morte do Dr. Alberto Seabra a empresa é reorganizada e passa a ser administrada por herdeiros e familiares, sendo em um novo contrato social registrado em 8/5/1936 com os sócios Zulmira Lebre Seabra (viúva), Stella Maria Lebre Seabra da Silva Telles, Zulmira Lebre Seabra Monteiro de Toledo Salles, Rita Lebre Seabra e Paulo Lebre Seabra. No decorrer do século 20 a sociedade vai se alterando, com alguns membros deixando a empresa.
As lojas também vão se alterando, em especial as filiais, com o encerramento de todas elas sendo as duas ainda existentes na praça Dr. João Mendes respectivamente em 2002 e 2009. Permanece portanto a matriz localizada na lateral da Catedral Metropolitana de São Paulo.
Se na epidemia da Gripe Espanhola a empresa do Dr. Alberto Seabra teve papel importante com a distribuição do medicamento homeopático Gripina, a pandemia do século 21 foi fatal para sua operação, que já havia diminuído mas permanecia em atividades. Foi nesse período que a Homeopatia e Farmácia de Manipulação Dr. Alberto Seabra encerrou suas atividades, sendo que pouco antes a loja tinha reduzido seu tamanho, alugando uma parte do espaço para outra empresa.
A empresa nas últimas décadas já não tinha ninguém no quadro societário com o sobrenome Seabra, sendo seus proprietários da família Paulino. As últimas alterações registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo são de outubro de 2014.
Fechada e com o espaço da antiga farmácia de manipulação disponível para locação, chamava a atenção quando ainda estava em funcionamento por ter espalhado pela loja muitas fotografias antigas, contando a história de Alberto Seabra e sua empresa. Quem visitava a farmácia sempre parava para ver estas fotos (eu mesmo muitas vezes).
Já os demais espaços (andares superiores) estão locados e em pleno funcionamento, atualmente funcionando uma escola de beleza e empreendedorismo.
SOBRE O EDIFÍCIO
Construído nos primeiros anos do século 20 o prédio que funcionava a Farmácia de Manipulação do Dr. Alberto Seabra nem sempre é notado pelos transeuntes, já que fica bem recuado em relação aos edifícios vizinhos que são algumas décadas mais recentes.
No térreo, a farmácia há décadas já havia avançado pelo espaço vazio entre o imóvel e a calçada, para ampliar o espaço da loja o que nunca mais foi revisto, dando este visual não muito agradável. Apesar das portas com muita pichação darem um aspecto ruim, o prédio em si está muito bem conservado e preservado, sendo tombado como patrimônio histórico paulistano.
Caberia uma placa do programa Memória Paulistana, da Secretaria Municipal de Cultura, na fachada deste imóvel certificando a história centenária deste espaço, tanto da farmácia como do próprio Dr. Alberto Seabra.
FARMÁCIA FOI PALCO DE CRIME
Corria a década de 1960 quando uma das funcionárias da farmácia foi vítima de uma tentativa de feminicídio pelo seu próprio tio, a qual ela era amante desde os 16 anos. Por pouco a jovem não morreu, bem como duas de suas colegas que foram feridas. Abaixo um recorte do jornal que noticiou o caso:
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