Orion S/A

A tradição industrial do bairro do Belenzinho vem desde o final do século 19, quando algumas primeiras empresas se instalaram por ali. Fábricas de cristais, laticínios, metalúrgicas, lanifícios e toda uma grande diversidade de companhias fizeram da região, além de Mooca e Brás, uma área altamente fabril e operária.  Uma delas, que viveu por 75 anos no bairro, é a Orion.

A história desta empresa inicia-se em 1898, quando é inaugurada como uma pequena fábrica de pentes e barbatanas feitas de chifre de boi na rua Paula Souza, no bairro da Luz.

O crescimento da empresa logo faz-se necessário a mudança para uma nova sede que pudesse atender a demanda industrial. É em 1905 que a Orion se transfere para suas novas instalações no bairro do Belenzinho (Rua Joaquim Carlos).

A fábrica, na rua Joaquim Carlos, em 1917 (clique para ampliar).

Inicialmente chamada de Fábrica de Pentes e Botões “Orion” de J. Griesbach & Cia, a empresa tinha em 1910 cinco sócios que são os que aparecem na imagem a seguir. Estão na fotografia, da esquerda para a direita: Theobaldo Streger, Francisco Frauendorf, Jorge Griesbach (centro), Otto Frauendorf e Max Frauendorf.

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As instalações da Orion no Belenzinho foram erguidas especialmente para ela, não tendo sido aproveitada de nenhuma empresa anterior. A área total era de 15 mil metros quadrados.

O espaço fabril era tão grande e bem cuidado que mereceu uma nota de uma importante publicação paulista em 1918(*1): “… Afastada da urbs, do borborinho febricitante da cidade, lá está, attestando a operosidade fecunda de um valoroso pugilo de homens de energia, de capacidade e acção, a grande fábrica Orion, orgulo justo dos Srs. J.Griesbach & Cia. É uma pequena cidade, em si, cheia de machinas e borbulhante de operários. Ali, só se respira trabalho, uma atmosphera intensíssima de trabalho…” (mantida a grafia da época).

E operários realmente não faltavam para a Orion. A imagem abaixo mostra os trabalhadores da empresa reunidos para um fotografia oficial em 1917:

Funcionários da Orion em 1917 (clique na foto para ampliar).

Para manter estas grandes instalações em funcionamento era necessário um grande gerador de força motriz. A empresa possuia uma enorme máquina a vapor em um dos cantos da fábrica:

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E a matéria prima dos pentes e barbatanas que eram produzidos pela Orion era bastante peculiar, mas muito comum à época: chifres de boi. E para pentear a cabeça pessoas não havia pente que bastasse, fazendo com que a fábrica serrasse de 3 a 4mil chifres por dia. Todo o processo de higienização e corte dos chifres eram feitos ali mesmo na fábrica.

A foto abaixo, mostra o setor da Orion que era responsável pelo processo de tratamento dos chifres que logo mais virariam não só pentes, mas também botões para roupas. É possível observar o grande número de chifres espalhados pelo setor, tanto sobre as bancadas como no chão e em sacas:

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Sua produção diária era grande, proporcional ao tamanho da fábrica. A produção diária de botões, dos mais variados estilos e formatos, era de 100.000 unidades, enquanto os pentes era de 15 a 18.000 unidades por dia, que eram destinados ao mercado interno do Brasil e até para o exterior.

Outra área que a empresa se destacava na produção era o setor de adubos para a lavoura, como mostra a foto a seguir. Entretanto, não encontramos muito sobre este produto nas referências históricas da companhia.

Setor de adubos (clique na foto para ampliar).
Setor de adubos (clique na foto para ampliar).

A Orion daria um grande salto em sua vanguarda industrial alguns anos mais tarde, em 1920. Foi neste ano que a empresa passa a contar com um setor de ebonite (borracha endurecida). Seria a primeira empresa deste segmento em toda a América Latina.

A entrada da empresa no ramo de ebonite daria um novo fôlego e outro rumo para a companhia. Sua vanguarda no trabalho com ebonite deram logo mais uma posição de destaque para a Orion, até que em 1929 a empresa abandonaria a produção de artefatos de chifre e passava a focar apenas nesta sua nova área de atuação.

Publicidade da Orion em 1933

Com o ramo de borracha e ebonite sendo um segmento de alta demanda, a empresa que começou como pioneira manteve-se em crescimento, tornando-se em poucos anos a maior fábrica de artefatos de borracha e ebonite da América do Sul. No âmbito fabril, o parque ferramenteiro da companhia era, de longe, um dos melhores do país. Aliás, com a pouca disponibilidade de peças e máquinas para suas atividades, a Orion chegou a construir algumas de suas próprias máquinas e ferramentas.

Em 1950 a empresa ofereceu uma grande diversificação de seus produtos, passando produzir pneus e câmaras para bicletas, bolsas de gelo e artefatos para a indústria automotiva. Neste último, aliás, a Orion foi uma das pioneiras a produzir retentores para a Volkswagen e sua bem sucedida linha de veículos refrigerados a ar, onde os mais notáveis eram o Fusca, a Kombi e a Brasília.

A Orion S/A permaneceria na capital até o ano de 1980, quando mudou-se para novas instalações no município de São José dos Campos. Foram, no total, 82 anos na Cidade de São Paulo, sendo 75 deles no bairro do Belenzinho*.

Em 2008 a família Frauendorf comprou todas as ações da empresa no mercado e reassumiu a gestão da empresa. Na ocasião aproveitaram para reformular o logo da empresa:

Orion - Rubber Experts

Fizemos uma seleção de algumas fotos, todas elas inéditas, da antiga fábrica da Orion no Belenzinho. Todas elas foram tiradas nos anos 1917:

Máquinas e esmerilhadeiras de pentes finos
Máquinas e esmerilhadeiras de pentes finos
Setor de matéria prima (clique para ampliar)
Setor de matéria prima (clique para ampliar)
Área de produção de pentes (clique para ampliar)
Área de produção de pentes (clique para ampliar)
Setor de lapidação e aperfeiçoamento de botões (clique para ampliar)
Setor de lapidação e aperfeiçoamento de botões (clique para ampliar)
Depósito para venda e exportação (clique na foto para ampliar).
Depósito para venda e exportação (clique na foto para ampliar).

A antiga fábrica do Belenzinho nos dias atuais:

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A outrora fábrica imponente e movimentada hoje só impressiona pelo tamanho da área e pelo tamanho do abandono. Exatos 32 anos após ser transferida para outro município, o imóvel da antiga Orion hoje é um grande transtorno para seus vizinhos.

Fechada e vazia mostra os sinais dos anos de esquecimento, com infiltrações nas paredes, reboque descascando e caindo e muitos vidros quebrados. Seu fechamento na época contribuiu para um processo de decadência do quarteirão que até hoje não se recuperou totalmente.

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Espalhado pelos cantos da fábrica estão os detalhes que ainda nos lembram da velha empresa que orgulhava o Belenzinho. Logotipos pintados sobre os vários portões, placas de identificação e até um grande letreiro com o nome “ORION” bem na esquina das ruas Joaquim Carlos e Behring.

A área não pertence mais a Orion S/A desde 1989 e a realidade é que a enorme construção vazia, de praticamente um quarteirão inteiro, dá um contorno muito triste a região. Contudo a empresa não tem qualquer relação com o abandono atual que a mesma se encontra.

Além dela, quase todas as grandes empresas deste trecho do bairro se foram. A Móveis de Aço FIEL  mudou, a Pastifício Araci fechou e a única a sobreviver firme e forte é a Fábrica de Produtos Alimentícios Vigor.

Trecho da fábrica na rua Fernão de Magalhães (clique para ampliar).
Trecho da fábrica na rua Fernão de Magalhães (clique para ampliar).

Seja lá quem for o proprietário atual, já basta de anos e anos de abandono. Esta construção imensa não pode ficar assim, vazia e é preciso dar um bom destino para ela. Bem diante desta fábrica foi construído o “Templo de Salomão” o que apesar de toda a polêmica envolvida, está trazendo um novo ritmo ao bairro e uma nova movimentação nos valores imobiliários ao seu redor.

Será que um dia veremos esta antiga fábrica recuperada e funcionando como uma universidade, biblioteca, hospital ou mesmo um centro de compras ? Ou será que logo esta paisagem fabril, hoje silenciosa, dará lugar a empreendimentos imobiliários ? Só o tempo dirá.

Veja mais fotos da antiga fábrica da Orion atualmente (clique na miniatura para ampliar):

(*1) Fonte: Livro “O Estado de S.Paulo” de Monte Domecq & Cia, 1918

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