São Paulo é, sem sombra de dúvidas, um estado industrializado, porém grande parte de sua atual potência vem da agricultura e da pouco conhecida indústria agrícola. Ao passo que grandes estados vizinhos produzem e exportam soja, aqui temos a cana-de-açúcar, matéria prima para a produção do álcool, da cachaça e do açúcar refinado.
Com o declínio do café, que começa a perder importância econômica a partir dos anos 1950, outras culturas vieram para substituir estas atividades. E a cana, velha conhecida brasileira foi quem se sobressaiu por aqui.
Desde o século 19 já existiam alguns engenhos e usinas operando pelo estado mas o grande aumento de produção surge anos mais tarde, quando inúmeras usinas e pequenos engenhos brotam pelo interior afora.
Naquele tempo, tudo ainda era tocado a vapor, herança da revolução industrial, com grandes caldeiras que geravam energia para que os imponentes motores sustentassem as atividades das usinas. Isso se modernizou bastante com o advento da eletricidade, e o uso dos mecanismos elétricos e de modernas turbinas aposentaram os já cansados motores a vapor.
Entretanto, os engenhos menores, com menos recursos financeiros que as grandes usinas mantinham esta tecnologia do século 19 em funcionamento, até que não aguentassem mais a pressão da economia cada vez mais agressiva e competitiva, e faliam. Tudo era vendido como sucata. A parcela de terra que sobrasse para os falidos donos de engenho era arrendada para seus poderosos concorrentes.
Muito se perdeu em pouco tempo, com sucateiros sedentos pelas toneladas de aços ingleses e alemães, de boa qualidade, para comprar a baixos preços e lucrar com a venda para a siderurgia. Mais uma vez, parcela importante de nossa história esvaiu-se por entre nossos dedos, sem que nos déssemos conta.
Contudo, gratas surpresas acontecem. Imaginem encontrar em pleno ano de 2014 um engenho de cana ativo, ainda funcionando a vapor? É possível! Em Lençóis Paulista, uma pequena cidade do oeste paulista, encontramos o Engenho Marimbondo.
Localizado no meio de uma colina, nos arrabaldes da cidade, foi uma sensação surpreendente ver sua enorme chaminé de tijolos fumegando e, ao se aproximar, o belo motor a vapor, inglês de 1899, funcionando, tocando o engenho.
Fundado em 1947, por Plácido Moreto,este local persiste mantendo o vapor como força motriz, com seus atuais donos sem pretensão alguma de troca-lo. Este engenho é considerado pequeno, perto daqueles que existiram, mas mesmo assim tem uma produção de aproximadamente 1 milhão de litros por safra.
Ali, não se fabrica açúcar, apenas o álcool e a cachaça. E é possível comprar a bebida diretamente no local, que conserva uma parte da produção em grandes tonéis de carvalho.
A produção é feita ainda nos moldes das antigas usinas, com lavra da cana em parte do ano, colheita e o beneficiamento para o produto final no engenho. Sua caldeira queima o bagaço da cana moída, e faz vapor não somente para o motor, mas para três belos apitos instalados no alto do engenho (veja na galeria abaixo), que silvam todos os dias, como uma homenagem aos tempos de glória dos engenhos a vapor. Não é incrível ?
Veja abaixo mais algumas fotografias (clique para ampliar):
Abaixo, um vídeo da usina a vapor em pleno funcionamento: