Na história da Cidade de São Paulo nos séculos 20 e 21, não foram apenas casas e casarões que foram demolidos. Alguns grandes edifícios também desapareceram, para dar lugar a outros empreendimentos ou mesmo novas ruas e avenidas. Foi assim com o belo Edifício Columbus, de Rino Levi, e mais recentemente com o São Vito.
Entretanto, outro prédio antigo foi demolido recentemente mas é pouco conhecido da população. Trata-se do Edifício Opus.
Localizado na altura do número 950 da Avenida Duque de Caxias, na Luz, o Edifício Opus foi concluído no final de 1948 e suas unidades residenciais foram disponibilizadas para locação logo no ano seguinte.
Com um total de 11 andares o edifício estava, naquele tempo, em uma localização bastante privilegiada, pelo fato de estar a poucos passos da estação ferroviária Júlio Prestes, além de bastante próximo da Estação da Luz. Alguns anos depois, ficaria ainda melhor com a chegada de um novo vizinho: o terminal rodoviário.
Entretanto com o passar dos anos o local foi se desvalorizando lentamente, até a desativação da rodoviária que serviu para acelerar a degradação da região e também a queda do valor dos imóveis.
No início, o Edifício Opus tinha suas unidades destinadas apenas a locação e pertencia a um único proprietário. Não encontramos nada que indique que posteriormente as unidades (4 por andar) tenham sido colocadas à venda. No térreo do edifício havia uma série de estabelecimentos comerciais, como lanchonete, lojas e até uma farmácia.
O fim do prédio foi decretado com a ideia megalomaníaca elaborada em conjunto entre a Prefeitura e o Governo do Estado de São Paulo, para derrubar não só a antiga rodoviária, mas também os imóveis vizinhos para erguer a “Universidade da Dança“. Optamos por aspas na suposta nova instituição porque ela ainda não existe.
A demolição do Opus e de alguns de seus vizinhos (veja no final do texto) eram totalmente desnecessárias. Tanto este prédio como os demais estavam todos em perfeitas condições de uso e possuiam habitações amplas, limpas e dignas. A demolição e a desapropriação da região foi mais uma das inúmeras ações higienistas da gestão do Prefeito Gilberto Kassab (PSD) e do então Governador José Serra (PSDB).
Famílias retiradas do Opus não foram realocadas em prédios na mesma região, foram levadas para bairros nos extremos da cidade, tornando a já difícil vida destas pessoas ainda mais complicada, com mais horas perdidas para se locomover para o centro e com o aumento exponencial no custo de vida, com gastos adicionais em transporte coletivo.
A demolição deste prédio, iniciada em 2010, só se encerraria por completo no final de 2011, sendo que por vários meses o prédio ficou com a demolição paralisada entre o térreo e o primeiro andar. O motivo ? Uma indenização muito abaixo do mercado para a antiga Drogaria Duque de Caxias.
A triste história desta drogaria, que abordamos aqui em 2011, é um claro exemplo da crueldade imposta aos menos favorecidos quando o assunto é demolição ou construção civil. Com uma indenização muito abaixo do real valor o proprietário foi forçado a brigar na justiça por um valor digno, e enquanto a decisão não era anunciada, a farmácia não poderia ser fechada e nem a demolição concluída. Apenas no final de junho saiu um acordo entre o dono da drogaria e o poder público e o prédio finalmente virou pó.
O Edifício Opus não tinha nenhum detalhe arquitetônico muito relevante, era um prédio bem comum diga-se de passagem. Mas foi um grande exemplo de como políticas públicas equivocadas e mal planejadas tratam os menos favorecidos: muito mal.
O mais curioso é o que um dos maiores entusiastas desta política de demolição higienista para uma “Nova Luz”, Andrea Matarazzo, foi um dos vereadores mais bem votados este ano. Difícil prever dias melhores para São Paulo.
Veja mais fotos do Edifício Opus (clique na miniatura para ampliar):