Duque de Caxias – Uma farmácia que adoece

O projeto de revitalização do bairro da Luz é, há anos, um assunto constante na vida dos paulistanos e principalmente para a população que mora nas redondezas. Foram demolidas diversas quadras que possuíam imóveis, casas e palacetes antigos

Edifício Opus – O pouco que ainda está de pé

Contudo, a região ganhou características de um novo pólo cultural da cidade tendo em seu entorno a Estação Júlio Prestes, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e o Memorial da Resistência, antiga sede do DOPS. Também está para ser concretizada a Universidade da Dança no antigo local que abrigou a rodoviária e que até pouco tempo era um centro de compras.

Nadando contra o fluxo deste progresso cultural, a região passa por um grande e crônico problema social. O local também é conhecido como Cracolândia, lugar onde se reúnem centenas de pessoas para vender e consumir diversas drogas, em especial o crack.

Usuários de drogas na região da futura “Nova Luz”, a Cracolândia resiste.

Este projeto de revitalização urbana é conhecido como Nova Luz. A prefeitura tem um projeto que propõe que 60% do bairro seja desapropriado com um custo estimado de R$1,1 bilhão, mas será que é preciso toda esta demolição para revitalizar?

Em frente à Secretaria Estadual de Cultura, precisamente na Avenida Duque de Caxias com a Alameda Dino Bueno, deparamos com a demolição inacabada de um prédio. Neste local, estava acontecendo à demolição do Edifício Opus, vizinho a antiga rodoviária. O prédio estava sendo demolido na marreta, parecido com o que está acontecendo no Edifício São Vito.

O Edifício Opus foi um prédio residencial de 15 andares (hoje restam apenas 3) com cerca de 70 apartamentos e sua construção finalizou-se no final da década de 50. Sua desapropriação foi efetivada junto com a da rodoviária, mas só agora se tornou realidade.

A equipe do São Paulo Antiga esteve no local diversas vezes acompanhado o processo de demolição. Constantemente despencavam do alto do prédio pedras, tijolos, azulejos e outros materiais na calçada, causando perigo para os pedestres.

O comércio que existia no térreo foi desapropriado junto com o prédio, mas por incrível que pareça um ainda resiste, é a Drogaria Duque de Caxias. Esta drogaria está no local há 18 anos e sobrevive em meio ao caos e da poeira, além de constantes furtos por usuários de drogas.

Lizete e a farmácia vazia: Tristeza e prejuízos

Correndo o risco de a estrutura ser abalada a qualquer momento, Lizete, responsável pelo estabelecimento, contou que a Drogaria chegou a faturar, no passado,em torno de R$2.000,00 a R$3.000,00 diários, hoje não chega a faturar R$60,00.

“Quem vai querer comprar medicamentos em uma Drogaria onde o que impera é o pó?” Constata Lizete com um olhar melancólico. Ela ainda continua permanecendo no local, pois o dono adoeceu devido à iminente demolição do estabelecimento, sua única fonte de renda.

Lizete ressalta que o dinheiro da desapropriação ainda não saiu e portanto persiste em ficar no local. O telefone não funciona mais, a máquina para passar cartões de credito foi desabilitada há muito tempo e o estabelecimento constantemente sofre com a oscilação de energia elétrica.

Trabalhando corajosamente em um local que parece mais um território sob constante bombardeio, suas companhias são uma televisão de 14 polegadas e o Sr. João, amigo e segurança da farmácia.

Na farmácia: Prateleiras vazias, ausência de clientes e pequenos furtos

Lizete ainda vai abrir as portas da Drogaria por um tempo a mais. O projeto Nova Luz foi suspenso em caráter de liminar e a consequência foi a paralisação da demolição do Edifício Opus.

Os andaimes já foram retirados e a Farmácia Duque de Caxias continua a sobreviver. Como sobrevive, como símbolo de vida e da resistência, uma pomba solitária que montou seu ninho dentro do letreiro da drogaria. Até no mais desolador cenário de destruição a vida floresce.

A pomba não é branca, mas está ali em busca de paz

Duque de Caxias além de ser o patrono do exército brasileiro, ficou conhecido como “O Pacificador”, sinônimo de apaziguar, conciliar, voltar à paz. É o que falta para a região da Luz e suas adjacências.

Confira outras fotos do local (clique na miniatura para ampliar):

Atualização 12/07/2011:
Realmente a sede de destruição urbana do prefeito paulistano, Gilberto Kassab, parece realmente insaciável. No final de junho o pouco que restava do velho edifício Opus, que era a farmácia Duque de Caxias terminou de ser demolido e, em um passe de mágica, deixou de existir.

Veja a foto:

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Respostas de 11

  1. De que adianta querer revitalizar o local se para isso é preciso prejudicar comerciantes? Muitas pessoas confiam no comércio como fonte de renda e ver que podem perder a loja é muito triste. Seria melhor tirar os usuários de drogas da região. É claro que não são todos que querem deixar de ser viciados, mas um projeto de preservação e recuperação dos edifícios antigos e reforço na segurança não fariam mal.

  2. Uma pena se derrubar um prédio desses. Além de afetar os comerciantes, foram expulsos sos moradores, que não conseguirão apartamentos em outros prédios, até por hoje emdia não serem mais feitos prédios assim.

    É uma coisa meio controversa: se querem trazer mais moradores para o centro, porquê retirar os que já habitam na região? Lamentável essa falta de idéias do governo.

    Agora o projeto nova luz está paralisado, e corre o risco de ser cancelado. Ou seja, todo o tempo que foi usado, todo o trabalho que foi feito, o dinheiro (público, de nossos impostos) que foi investido até agora pode ter sido em vão!

    É lastimável!

  3. Se as “otoridades” acham que demolições são importantes para revitalizar a Luz, deveriam colocar a ROTA para demolir esses nóias de crack. Não há enfeite que sobreviva a essa degradação moral provocada pelos drogados.

  4. O que vemos nas fotos e lemos nesta reportagem é o completo descaso do Governo. A intervenção do Estado na propriedade privada deve ser antecedida de indenização, isso é Lei, entretanto, neste caso ainda não há o pagamento, sendo este o motivo da permanência do Comércio no local. Cabe ao Estado a devida reparação do prejuízo causado por sua intervenção, não pode sob um pretexto de beneficiar o coletivo causar danos ao particular, isso é no mínimo imoral. Projetos são necessários para aquela região, entretanto, cabe ao Estado arcar com os custos necessários a revitalização não ao particular que ja honrou com seus impostos. É ditatorial doto e qualquer Estado que ignora as regras básicas do direito e da democracia, causou dano, deve reparar.

  5. O problema do Nova Luz é essa maldade que estão fazendo com os moradores e comerciantes da região. Entendo que muitas demolições são inevitaveis, muitas construções não tinham relevância alguma, eram feias, além de serem verdadeiros antros de criminalidade, porém há que separarmos o joio do trigo como é o caso desse prédio que parecia ser um prédio modernista interessante, com apartamentos amplos como hoje é raro de se construir. Fico com pena dessas pessoas que construiram suas vidas nestes lugares honestamente, suportaram a destruição da região na esperança de um dia ver tudo melhorar para que um dia, no fim da vida, sejam expulsos. Neste aspecto a Martaxa Suplichyque era melhor, era bem mais humana.
    Somente a critério de atualização, a liminar que suspendia o Nova Luz foi derrubada em 2 de maio, portando o projeto desde então voltou a ser conduzido.

  6. Na região havia até alguns anos, num terreno de esquina de formato triangular, uma pequena igreja protestante. Vocês tem alguma documentação a respeito?

  7. Realmente não me conformo com esse projeto Nova Luz, que insiste em prejudicar os comerciantes e os moradores do bairro, como sempre com toda a criminalidade ali e os drogados degradando as ruas da cidade, ao inves de tirarem os drogados dali, restaurarem os antigos predios e casarões, preferem gastar um dinheiro absurdo em revitalização! Eles querem construir uma cidade dentro da outra, demolir casas e comércio de gente que trabalha honestamente!
    Realmente um absurdo

  8. saudosa farmácia,mamãe ja me comprou muito remédio alí,mas não era pequena,era maior,lembro que ficava a alguns passos antes dessa.

  9. Estamos em 2017 e o que foi feito? Absolutamente nada. Depois de muita truculência do estado, muito dinheiro público gasto, muita incompetência administrativa, histórias e imóveis particulares reduzidos a pó por marretadas, e o resultado? A Cracolândia continua ali, firme e forte, e a “Nova Luz” como tudo que o estado coloca a mão, se transforma sempre em algo prejudicial à sociedade. Resultado de gestões incompetentes e corruptas, perversas e burras. A história dessa farmácia ilustra muito bem o que o estado faz ao cidadão de bem nesse país da falcatrua e da impunidade. Sustentamos um sistema cruel, que só serve para nos subjugar.

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