Pouca gente conhece ou tem o privilégio de ver de perto esta belo monumento paulistano, localizado bem ao centro do Largo Coração de Jesus. No meio de quadras esportivas e de uma base da Polícia Militar está a homenagem ao bispo de São Paulo, Dom José de Camargo Barros.
O porque deste monumento existir é o que vamos explicar a você agora. Mas para entender, vamos voltar no tempo para a tarde de 4 agosto de 1906.
Se o naufrágio do Titanic abalou o mundo em 1912, um outro naufrágio trouxe similar consternação ao mundo e a São Paulo seis anos antes. Trata-se da tragédia do navio italiano Sírio, em agosto de 1906.
Foi um terrível acontecimento, partindo da Itália e com destino final a América do Sul, em sua costumeira rota por Brasil, Uruguai e Argentina, o navio Sírio era uma confiável embarcação a vapor operando desde 1883 e que comportava 1418 passageiros.
Partindo de Gênova no dia 2 de agosto de 1906, esta sua viagem ao nosso continente teria sido apenas mais uma de tantas, se o capitão não tivesse feito uma manobra não recomendada apenas para ganhar tempo. Por volta das quatro horas da tarde de 4 de agosto de 1906, a embarcação estava em uma velocidade muito mais alta do que a recomendada, na costa da Espanha, quando acabou por colidir e encalhar na região conhecida como Cabo de Palos. Era o início do naufrágio.
Nesta embarcação, havia centenas de gregos, turcos e italianos que estavam emigrando para o Brasil. Além disso, estavam a bordo também alguns integrantes da igreja católica do Brasil que retornavam de viagem a Roma, entre eles o Bispo do Pará, que sobreviveu, e o Bispo de São Paulo, Dom José de Camargo Barros, que não teve a mesma sorte.
Ele até teria sobrevivido, se não fosse pelo egoísmo de um outro passageiro (vide nota abaixo). Dom José já estava com seu salva-vidas e tinha acabado de dar absolvição a outros náufragos que estavam afogados, quando um argentino tirou-o de suas mãos, deixando-o desamparado. Foi questão de minutos para o bispo também morrer nas frias águas espanholas.
A notícia da morte de Dom José chegou ao Brasil no dia seguinte e logo causou grande choque. De início, o que chegava era desencontrado, com algumas fontes comunicando o afogamento e outras dizendo que havia sido resgatado e estava bem. No dia 8 veio a confirmação de que não era Dom José que havia sido resgatado e que ele tinha mesmo morrido.
Nos dias seguintes a tragédia houve resgates de corpos de algumas vítimas, mas o cadáver de Dom José de Camargo Barros jamais foi encontrado. A tripulação italiana fugiu para a Itália sem prestar auxílio algum, o que ficou a cargo das autoridades espanholas.
O Monumento a Dom José de Camargo Barros:
A obra que imortalizaria a figura do bispo não sairia logo depois da tragédia. Ela foi uma homenagem póstuma por ocasião do décimo aniversário da morte de Dom José. Grande benfeitor do catolicismo e de São Paulo, ele ganhou uma honraria digna no Largo Coração de Jesus, na época um dos locais mais nobres da Cidade de São Paulo.
O monumento, feito em bronze e granito, foi encomendado ao escultor Julio Starace pela arquidiocese de São Paulo. Nele, além do busto de Dom José, estão esculpidas quatro imagens que ilustram a vida do bispo, seus feitos e a tragédia que o vitimou. Vamos conhecê-las e também desvendar um erro histórico na obra.
Na porção dianteira, sob a base do busto, estão duas placas. A primeira, que identifica o homenageado como um bispo católico e a segunda que apresenta seu nome e também seu escultor.
Na porção traseira, outro símbolo católico, com uma mesa litúrgica e um cálice.É uma lembrança por Dom José ter fundado a Confederação Católica.
Na direita do monumento está esculpido o antigo Seminário Episcopal, na Luz. Dom José foi o realizador da grande reforma do seminário no início do século 20, e esta obra foi importante para fazer de sua figura ainda mais conhecida e popular.
Por fim, do lado esquerdo, a escultura que ilustra a tragédia que vitimou Dom José: o naufrágio do Sírio. E é ai que pude observar um erro na escultura, que inclusive é repetido na planilha de monumentos da Prefeitura de São Paulo. A data do naufrágio está esculpida errada, onde está 1905 o correto é 1906.
A data de instalação do monumento na referida planilha está também errada, como 1915, quando o correto é 1916. Será que em quase cem anos apenas eu notei este erro ?
Apesar de seu corpo jamais ter sido encontrado, a igreja católica dedicou-lhe um cenotáfio na cripta da Catedral Metropolitana de São Paulo. Por outro lado, para todo o sempre, a figura esculpida de Dom José, estará sempre observando o tempo passar diante da igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Respostas de 9
Cada vez eu aprendo mais.
obrigada por nos trazer tantas informações.graças a vc muitas historias estão chegando a nós.parabens!!!
Muito bom ver que o monumento está bem conservado, apesar de estar em uma área bastante degradada.
Mais um pouco de nossa história, contada por Douglas Nascimento.
Parabéns!
Obrigado!
parabéns Douglas ótimo trabalho!
Não querendo ser preconceituoso mas, odeio argentinos cada vez mais.
E a tripulação italiana, que, de acordo com o texto, fugiu para a Itália sem prestar auxílio algum? Por que só os argentinos despertam ódio aos brasileiros?
Foi o primeiro bispo de Curitiba, e o Foi quem fez a Primeira Coroação de Nossa Senhora de Aparecida,com a corôa doada pela Princesa Isabel.
Julio Starace era meu tio bisavô, nasceu na Itália e temos diversos obras dele na Pinacoteca de SP, no cemitério da Consolação (aonde esta enumado), em BH e na Itália. Era Cunhado de Nicota Bayeux, minha tia bisavó famosa pintura com obras espalhadas por São Paulo.