As Corridas Automobilísticas Infantis

O Brasil é um país de grandes tradições em competições automobilísticas. E praticamente desde que o carro chegou por estas bandas o brasileiro está competindo com eles de alguma maneira.

Aqui mesmo no São Paulo Antiga já falamos de algumas competições bem interessantes, como o Primeiro Raid São Paulo – Ribeirão Preto, ocorrido em 1916, e também o primeiro Grande Prêmio Cidade de São Paulo, ocorrido 20 anos depois.

Tanta paixão pela velocidade não demoraria a chegar na criançada. Eis que em 1935 a Rádio Record trouxe uma ideia bem legal pra nossa cidade: a Corrida Automobilística Infantil.

Foi em um domingo, dia 8 de dezembro de 1935, que ocorreu a primeira corrida infantil da cidade de São Paulo. A Avenida Paulista teve um trecho fechado para receber a corrida e também outras atividades para as crianças.

Uma grande multidão compareceu para conhecer, apoiar e torcer os pilotos mirins, que competiram em modalidades separadas por faixa etária. Naquele primeiro ano alguns problemas de organização colocavam em dúvida a realização do evento no próximo ano.

NO ANO SEGUINTE DUAS NOVAS CORRIDAS:

Crianças prontas para a largada em dezembro de 1936 (clique na foto para ampliar)

Os percalços da primeira edição não foram motivos para o fim das corridas. Em 1936 duas competições automobilísticas infantis agitaram o cenário paulistano, ambos organizados por emissoras radiofônicas.

Marcada para ocorrer em 28 de junho, ainda durante as festividades juninas (ou Joaninas como se dizia naquela época), a Rádio Cosmos preparou um grande evento para a criançada que iria competir.

Para se ter uma ideia da grandiosidade do evento, a emissora trouxe do Rio de Janeiro nada menos que Ary Barroso, famoso compositor brasileiro e um dos grandes nomes do rádio na Cidade Maravilhosa, então capital federal. Infelizmente, apesar da veiculação sobre a corrida nos jornais, nas edições seguintes ao evento também não ocorreu a divulgação do nome dos ganhadores.

Estas falhas da imprensa seriam reparadas na cobertura da II Corrida Automobilística Infantil da Rádio Record que ocorreria em 15 de dezembro do mesmo ano. Esta competição foi dividida em quatro classes:

  • A – 4 e 5 anos
    B – 6 e 7 anos
    C – 8, 9 e 10 anos
    Livre – 11 anos em diante

Entre os vencedores desta edição o destaque ficou por conta de Fulvio del Picchia, filho do escritor Menotti del Picchia. Ele foi o grande campeão na Classe C.

EM 1937 E 1938 AS CORRIDAS MIRINS TOMAM GRANDES PROPORÇÕES:

Os dois anos seguintes foram o grande ápice das corridas automobilísticas infantis. Patrocinadas pelo empresário Sabaddo D’Angelo, o mesmo que proporcionou a realização do primeiro GP profissional da cidade, as competições mirins se transformaram em um dos grandes eventos esportivos da cidade, atraindo verdadeiras multidões para assistir as corridas.

Na foto, alguns dos competidores mirins do GP de 1937

Irradiado pela Rádio Record, a pioneira nessa atividade esportiva, a competição ocorreu pelas ruas do Jardim Paulista, que recebeu uma grande multidão para acompanhar o evento.  Foram ao todo 25 voltas na Avenida Brasil em carros com motores de um cilindro.

A grande vencedora do primeiro GP infantil foi uma menina. Olga Scaglione, a Olguinha como era mais conhecida, venceu os meninos favoritos da competição mesmo tendo largado com 4 minutos de atraso em relação aos garotos.

Competindo com seu carro chamado de estilo “Von Stuck” ela também foi a protagonista do recorde da pista, atigindo a velocidade de 40 km/h.

Cenas da corrida de 1937

Já a competição de 1938 foi bastante aguardada por competidores, imprensa e a população. Todos aguardavam a revanche dos vencidos para cima de Olguinha. Novamente no Jardim Paulista e igualmente patrocinada por Sabbado D’Angelo, o segundo GP teve cobertura ampla da imprensa escrita e falada.

O trajeto de 1380 metros da Avenida Brasil ia da esquina da rua Maestro Chiafarelli até a Praça América e foi disputada metro a metro pelos principais favoritos Olga Scaglione, Fúlvio del Picchia (lembra dele ?), Lygia Drummond e Paulo Nascimento.

Na foto, Olguinha

A corrida foi bastante competitiva e de início a multidão apostava em um duelo feminino, o que realmente ocorreu no início da corrida, até Lygia abandonar a prova após uma falha mecânica. Após a saída da jovem carioca a disputa ficou basicamente entre Olga e Paulo Nascimento, tendo este último liderado a prova até os últimos 400 metros, quando foi superado pela garota Olga que venceu a corrida e sagrou-se bicampeã.

Ao todo foram 24 voltas disputadas em uma prova que teve a duração de 1:06´13´´.

O pódio ficou desta forma:

1° – Olga Scaglione
2° – Paulo Nascimento
3° – Fúlvio del Picchia

Infelizmente depois destes dos anos de competição, o Grande Prêmio Infantil Fábrica Sudan (nome oficial) acabou desaparecendo. De 1939 em diante rarearam as matérias sobre competições infantis até que desapareceram por completo.

CURIOSIDADE: CORRIDA INFANTIL NOS ANOS 80

No início da década de 1980 a Avenida Paulista voltou a ser palco de uma corrida infantil, porém bem diferente daquelas que marcaram os anos 30:

Bibliografia consultada:
Correio Paulistano – Edições 24433, 24454 (1935) – 24623, 24626 (1936) – 25055, 25056 (1937) e 25097 (1938)

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Respostas de 8

    1. Inclusive esses dias, frequentemente tem um garoto que está andando de Mobilete aqui na minha rua e por mais que eu fique irritado com o barulho do garoto indo e vindo com a mesma, por outro lado isso demonstra que o pai dele não é esses frescos dos tempos de hoje que ficam com medinho de o garoto se ralar todo com a mobilete, pois na minha época de moleque era esse ou mini bugues o presente que os pais ricos davam para os moleques quando eu era uma criança e olha que isso nem faz tanto tempo assim.

  1. Conheci esse Fulvio del Picchia; ele veio a ser titular do 20º Tabelionato de Notas. Engraçado que ele não me parecia tão velho. Ser for vivo deve estar com uns noventa anos ou mais.

  2. Querido Douglas, saudações!
    Não me canso de parabenizá´-lo pela sua brilhante e benquista iniciativa de resgatar a história da nossa monstruosa e amada megalópole, que apesar de tudo, é a soma de coisas também delicadas, humanas e graciosas. A sua narrativa de Jornalista e Historiador nos transporta numa breve, porém, fascinante, viagem no Tempo e no Espaço. Você deveria receber alguma condecoração da Prefeitura ou da Câmara de Vereadores, não sei se existe alguma coisa assim tipo uma medalha Anchieta ou algo parecido. Parabéns, figura. E não esqueça a minha sugestão de compilar todo seu material num livro e publicá-lo. Abração. Shalom Aleihem! Paz Profunda!

    L. Lafam.

  3. Que bom seria, que fossem reeditadas estas competições, assim poderiam despertar novos futuros pilotos automobilísticos de categorias diversas, seria um estímulo para a garotada!

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