Desde que o São Paulo Antiga foi criado, em 2009, estamos alertando para a dilapidação do patrimônio histórico presente dentro das necrópoles paulistanas. E ontem, 10 de dezembro de 2019, estivemos mais uma vez no Cemitério da Consolação para realizar uma pesquisa de campo. O local é importante centro de estudos para a história paulistana, tendo em vista as muitas personalidades que jazem ali.
Qual não foi nossa surpresa ao constatar a triste situação de descaso e abandono que se encontra um dos cemitérios de maior relevância história da América do Sul.
O roubo de peças de bronze atingiu níveis tão alarmantes que parte da história de São Paulo – e do Brasil – que dali desapareceu, que talvez seja boa parte para sempre irrecuperável, levando em conta a possível falta de referência para a reposição de esculturas e adereços roubados.
Teoricamente deveria haver um patrulhamento por ali, entretanto, ao contrário do que a Prefeitura de São Paulo informa, não há policiamento ostensivo da Guarda Civil. Durante as 4:30 horas que ficamos no cemitério não observamos nenhum oficial. Apenas quando deixávamos o local, às 16:45 minutos que um grupo de guardas civis adentraram à necrópole. É muito pouco tempo dedicado para proteger um cemitério que fica aberto o dia todo.
O furto descontrolado removeu por completo a história do Presidente da República Washington Luís, que teve suas placas e até a homenagem por sua passagem na presidência furtada, além de outras personalidades como Celso Garcia, Ramos de Azevedo, Monteiro Lobato e parte de obra da escultura Nicolina Vaz, a primeira mulher a ter seu trabalho em um cemitério brasileiro.
O mausoléu de Iria Alves Ferreira, conhecida como “Rainha do Café”, teve uma escultura de bronze enorme furtada. Tendo em vista o tamanho e peso da peça (veja foto a seguir) imagina-se que não foi fácil retirar do local. Atrás dela um Sagrado Coração de Jesus de cerca de 1 metro de altura também foi levado.
DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO TAMBÉM TEM RESPONSABILIDADE
No oceano de burocracia e morosidade do poder público paulistano não é justo culpar apenas o Serviço Funerário Municipal. A culpa e a responsabilidade precisa ser estendida também ao Secretário Municipal de Cultura, Alê Youssef e ao Departamento do Patrimônio Histórico de São Paulo, chefiado pela arquiteta e urbanista Raquel Schenkman.
Aos olhos mais preocupados com a cultura de São Paulo vemos um secretário preocupado apenas com carnaval, festas e “lacração”. Alê Youssef não é um mau secretário, mas precisa enxergar que a cultura paulistana é muito mais que mero entretenimento. Por enquanto passa a impressão de ser o chefe de uma “Secretaria da Balada” e não de cultura.
Já Raquel Schenkman precisa romper as barreiras da máquina burocrática e ineficiente que vem sendo o DPH ao longo dos anos e forçar um entendimento e uma ação comum em prol da arte a céu aberto presente não só no Cemitério da Consolação como nas demais necrópoles paulistanas. Urge que o Serviço Funerário Municipal, Secretaria de Cultura e Departamento do Patrimônio Histórico tomem um ação conjunta.
Veja mais dois importantes mausoléus vítimas de furto no Cemitério da Consolação:
Respostas de 32
O caso do descaso!
NÃO PRESTA ROUBAR MORTOS E CEMITERIOS CHEIOS DE ENERGIAS DE DOR E MORTES….
Oi, Douglas! Todos os cemitérios municipais estão em estado de abandono, porque o objetivo da prefeitura é privatizá-los. Dê uma olhadinha no Cemitério do Brás/Quarta Parada, por exemplo. Estado lamentável! E pensar que o IPTU caríssimo que pagamos na cidade e os outros impostos para nada servem, porque educaçao, saúde e segurança já privatizamos há muito tempo.
Olá Andrea,
Realmente você tem toda a razão. Ao menos os cemitérios que costumo frequentar: Araçá, São Paulo, Santo Amaro e Quarta Parada sei que a coisa está terrível.
Vamos visitar outros cemitérios nas próximas semanas e denunciar os casos que encontrarmos aqui.
Minha família tem três jazigos lá no Quarta Parada.
Sim, Andrea. O que não é uma vantagem para pessoas comuns. Haja vista o que ocorre em cemitérios particulares, como o Jaraguá. É uma burocracia absurda tentar visitar uma sepultura de ente querido ou amigo em cemitérios assim, caso você não tenha nenhum jazigo próprio lá. Pedem que a gente informe CPF e RG do titular da sepultura para que deixem entrar. Não pude visitar os restos mortais de um amigo para rezar lá porque eu teria de ter em mãos os números dos documentos do titular da sepultura, que é uma pessoa que desconheço, nunca vi na vida. As instituições deste falso Brasil laico que forjaram nos últimos anos mostram seu lado sombrio, irracional e arbitrário em exemplos como esse.
Realmente, fui em alguns e é desconsolador, o cemitério da Quarta Parada então está em calamidade. Muito triste, pois daqui a pouco tudo será destruído pelo descaso. Se tem quem rouba é pq tem quem compra, e é tão fácil descobrir! Isto é… se as autoridades quiserem.
As famílias deixaram de frequentar cemitérios.Aqui da Lapa(antigo Goiabeira) está largado com túmulos saqueados constantemente..A Prefeitura pouco ou quase na se importa.Lamentável.
Já fiz um trabalho sobre o Cemitério, inclusive penso em um trabalho de conclusão sobre ele. Infelizmente muita coisa só dá certo quando vai pra imprensa. Um mausoléu iria pra venda, só depois disso o tombamento que tinha iniciado há mais de 30 anos foi pra frente…
É uma vergonha enorme para todos nós, paulistanos, que o primeiro cemitério construído em nossa cidade tenha chegado a tal nível de decadência! A última vez em que passei por lá fiquei horrorizada ao constatar, por exemplo, que houve furtos e depredação no túmulo da maior pianista que o Brasil já teve, Guiomar Novaes! É de estarrecer, é de chorar!
Disse muito bem o jornalista Douglas Nascimento neste artigo: os órgãos competentes deveriam planejar ações mais enérgicas, mais protetoras em nossas necrópoles. São artigos, são peças históricas sendo roubadas, dilapidadas, sem dó nem piedade!
QUE MUNDO É ESSE?!!!
Possivelmente as placas roubadas são receptadas pelas
mesmas oficinas que as vendem aos familiares dos falecidos. É um ciclo que precisa ser quebrado.
São vendidas para ferro velho clandestinos que as derretem. A maioria na região da favela do Gato ali no Bom Retiro.
Todo mundo sabe, menos a polícia…
Todos estão assim. Em Sto Amaro, mendigos morando dentro do cemitério. No Araca completamente abandonado. No Tremembé não sei se e uma favela ou cemitério.
A polícia investigativa tb deveria atuar.
Essas obras não são roubadas para colecionadores.
É pra derretimento e venda do material por quilo.
Os compradores nem devem ser tantos assim, pq não é qualquer fogueiraque se derrete peças de bronze.
Tb pode haver funcionários envolvidos.
Deceria ser investigado.
Olá Douglas, boa noite!
Se estes cemitérios onde se encontram personalidades da história do brasil está largado, você não sabe o que se passa no maior cemitério da américa latina, o de Vila Formosa…Perfeito descaso!
Não existem grandes personalidades por que somente “pobres” e pessoas simples são lá sepultados…há de tudo um pouco: Lixo, campas cobertas de mato – onde no verão fica impossível se caminhar entre as campas – ruelas sem saída onde o mato tomou conta, árvores secas aos montes, restos de despachos macabros com galinhas mortas e oferendas, e muitos urubus próximos ao velório, que …pasme! Fica no meio do cemitério! Permanecer ali durante a noite é macabro, e não há nenhum policial ou viatura fazendo ronda.
Meu pai e meus avós estão no columbário em uma área da entrada mais antiga, onde as gavetas eram compradas na época da inauguração, e hoje são apenas concedidas mediante pagamento de taxa renovável a cada 5 anos…depois desse período os parentes que não pagam tem os ossos retirados e não sei para onde são levados.
Recentemente perdi uma tia e já contratei 3 jardineiros que cobram mas nada fazem. E a reclamação é geral! Eu mesmo cuido, mas tenho medo pois como se trata de uma área enorme, e “nenhum policiamento” a ocorrência de assaltos é grande.
Vejo na privatização a única chance de não deixar os cemitérios “morrerem”…especialmente os de interesse histórico, como nas maiores cidades do mundo. Exemplos do “Pere Lachaise” em Paris e o de “Highgate ” em Londres possuem até serviços de visita monitorada, o que deveria ser feito por aqui na Consolação, Araçá e tantos outros de interesse…
Nem os mortos tem mais paz.
Triste realidade!
Lamentáveis esses furtos! E hoje o órgão da Igreja da Ordem Terceira do Carmo foi furtado também, o desmontaram e levaram as peças. Que Deus tenha piedade de quantos se arrojam na lama mais abjeta… me chamou a atenção que uma das sepulturas que foram alvo dos bandidos pertence a João Briccola, que construiu o chalé de mesmo nome situado em Osasco, imóvel esse que abriga o museu da cidade.
Semcontrole algum. E um absurdo!
Alguém abre os portões para os “fantasmas” entrarem.
É muito triste todo esse descaso e falta de comprometimento com o patrimônio fúnebre. Todos os dias nos deparamos com essa vergonha escancarada de furtos. Ninguém, absolutamente ninguém da administração pública e órgãos de proteção se importam ou se mobilizam minimamente. Isso ocorre praticamente em todo o Brasil. Raras são as preservações e incentivo para conhecer e preservar esses espaços históricos e culturais tão significativos.
E triste, mas se forem feitas reposições dos objetos furtados, melhor que sejam em materiais pouco nobres. Aliás, como o descontrole é grande e, ao que parece, não serão tomadas medidas de segurança a curto ou médio prazo, , apesar da suplica dos especialistas e dos apreciadores da história paulista e paulistana, poderia se pensar no recolhimento dos objetos (estátuas, placas etc) de valor histórico, reunindo-os em um museu, substituindo-os por réplicas de materiais que não despertem interesse dos meliantes.
Há uns dois anos enterramos um amigo neste cemitério. Ficamos mau impressionados, saímos de lá “assombrados” (rs); Era um momento triste, mas todos os amigos estávamos completamente perplexos, já que há uns vinte anos, a revista Veja fez uma reportagem super interessante sobre o verdadeiro museu de arte que era o cemitério, com fotos belíssimas das esculturas. Parabéns pela reportagem, seria bom se houvesse algum movimento para salvar este cemitério. Abraços!
Devida a falência dos órgãos públicos se tornou um grande problema administrar essa cidade. Minha família tem jazigo no cemitério Gethsemani, privado. Quanta diferença!
Contrariando algumas ideologias, antes que nosso patrimônio se derreta todo, creio que uma boa solução seria privatizar . Que não escutem o que digo….
Douglas, o túmulo da minha família também é no Consolação, Roubaram todas as placas.
O Araçá então virou uma zona de guerra ! Quarta parada parece que você tá andando no meio da guerra da Síria … tudo abandonado saqueado depredado … o túmulo da minha vó no Araçá foi destroçado pelos pedreiros que lá trabalham só para eu pagar DENOVO para reformar … E tudo acontece com o consentimento da administração .
Eu realmente desconheço essa preocupação de vocês. O importante mesmo é que logo logo começará o Campeonato Paulista de Futebol, com transmissões ao vivo pela TV aberta e o técnico Tite vai conseguir arrumar a Seleção Brasileira para a próxima Copa do Mundo. O Neymar também vai se recuperar para nos ajudar nessa empreitada.
O Fernando Diniz, o técnico de número 78 do São Paulo Futebol Clube em menos de 1 ano, vai recolocar o Tricolor no rumo certo em 2020. A mesma coisa vale para os outros chamados “GRANDES” da Capital. AH, sim, já ia me esquecendo: O “Carnaval Globeleza” também vem com tudo,aliás, como sempre. Sem novidades.
Não há motivo, portanto, para lamentações.
Segue o circo Brasilis, em pleno funcionamento. Tendo novela, carnaval e futebol, para que mais?
E bigui bróder, meu caro…você se esqueceu do bigui bróder!!!
Com certeza! Vi uma reportagem na TV, há vários anos, sobre a máfia que controla a indústria da morte. Para fazermos o transporte do nosso jazigo de classe média, de origem pobre, no Araçá, do túmulo para o ossário, paguei uma grana lascada. Nessas horas, como os falecidos antes da minha tia, irmã da minha mãe, foram ela própria e meu pai, a família “generosamente” se reuniu e deliberou que toda a despesa correria por minha conta. Lá se foi muita grana, acho que na época, em 2005, uns R$ 500,00. O Araçá ficou entregue às moscas e à máfia da indústria do sepultamento. Tem jeito para este país? Sobretudo para a corrupção? Talvez em algum Dia de São Nunca.
É a ladroagem fazendo a festa! Em 2005, precisamos enterrar uma parente, lamentavelmente falecida atropelada por um motoboy insano, em alta velocidade na contramão, e ao chegarmos ao jazigo de família de origem humilde (imigrantes, que vieram ao Brasil para trabalhar, em condições de terceira classe nos navios, caso de meus avós maternos, e de meu pai), nos deparamos com a falta da porta de bronze, furtada pelos marginais, no lado mais humilde do Cemitério do Araçá, próximo ao da Consolação. Depois de baixado o caixão, caixinha para os pedreiros fecharem tudo com tijolos, e o dia em que for preciso abrir novamente, faz-se a mesma coisa. A caixinha foi generosa, quem sabe eles cuidem ao menos um pouco de um humilde jazigo, que desaparece em meio à ostentação de alguns mausoléus (tem um da Maçonaria, que a julgar pela construção, o cara foi grau 3333, não apenas 33, com certeza os irmãos e a família achavam o indivíduo um deus na Terra, quem sabe foi um Illuminati). Já dizia Nietzsche: Ecce homo (eis o homem).
Deixei de frequentar o túmulo da minha familia, na quarta parada há dois anos por falta de segurança. Todas as placas, imagens e homenagens que haviamos colocado, foram furtadas. Isso ocorreu com todos os túmulos. Triste e revoltante! E no caso do cemitério da consolação, estão furtando a nossa história!
Um absurdo a situação dos cemitérios em SP, especialmente o da Consolação. Além dos mencionados, há muitos outros túmulos históricos violados sem que ninguém tome providências. O da Tarsila do Amaral roubaram a porta por duas vezes, além dos vasos e das placas com os nomes. Esse túmulo que é ponto de visitação está sujo e abandonado. Nem sua herdeira, a sobrinha-neta Tarsilinha, está preocupada com seu restauro. Uma pena!
A casa da Rua Castro Alves que está sendo demolida é na altura do número 300 e não 390…
Eu morei nesta rua a 43 anos atrás e me lembro dela, realmente era linda…essa rua tinha muitas casas que foram cortiços por muitos anos mas que aos poucos foram sendo demolidos e viraram prédios..
Infelizmente as autoridades poucos se importam com os vivos o que dirá com os mortos e seus túmulos, não querem nem saber que ali naquelas covas contam a história das cidades… Possuem obras de artes de escultores importantes, país sem memória, sem respeito e de cultura que hoje em dia é uma lástima, cada dia pior, temo que em poucos anos nada sobrará pra contar história…