No passado os cinemas de rua dominavam o cenário do entretenimento paulistano. Praticamente todos os bairros da cidade possuíam salas de exibição e não era raro algumas regiões, como a central, por exemplo, estarem dotadas de algumas dezenas delas, dos mais variados padrões e capacidades.
E no ano de 1927 um grande acontecimento no mundo do cinema iria trazer uma enorme reformulação das salas de de projeção por todo o mundo: a chegada dos filmes falados, com a estreia de “The Jazz Singer” (no Brasil – O Cantor de Jazz).
Para exibir filmes sonoros muitos cinemas precisariam ser completamente reformulados, sendo que muitos deles não conseguiriam comportar a novidade, seja pelo custo ou mesmo pelo tamanho de suas salas. Foi ai que começou a ocorrer um grande número de obras para adequação de cinemas ou construção de novos.
É nesse vendaval de mudanças que surgirá um dos mais icônicos cinemas paulistanos: o Cine Theatro Paramount
Sua construção iniciou-se no mesmo ano de 1927 e tinha como objetivo ser a primeira sala de cinema sonoro da América Latina. De propriedade da Paramount Pictures, foi projetado pelo engenheiro Arnaldo Maia Lello com capacidade de receber um público de 1800 pessoas, somando-se plateia, balcão e frisas.
A localização do cinema foi escolhida a dedo: a requintada Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no número 79 (atualmente 411). No local já existia um velho estabelecimento: o Palace Theatro, um velho casarão de madeira que era mais dedicado a exibição de peças teatrais e espetáculos circenses, mas que também exibia filmes. Seu proprietário era Alberto Andrade¹.
Sua inauguração em abril de 1929, foi grandiosa e contou com ampla divulgação nos jornais da época e trouxe ao Brasil a figura de Melville Shauer, à época representante do departamento estrangeiro da Paramount. Para a estreia do cinema foi escolhido o filme “The Patriot” (O Patriota), com o ator suíço Emil Jennings no papel principal.
Antes da exibição do filme, entretanto, como parte das celebrações de inauguração, teve a exibição de orquestra sinfônica com regência do maestro Leo Renard e discurso do cônsul-geral do Brasil em Nova York, que regressou ao Brasil especialmente para a ocasião. Horas antes a Paramount Pictures já havia oferecido um elegante banquete aos jornalistas de São Paulo no então concorrido Salão Vermelho do Esplanada Hotel.
O Cine Theatro Paramount era considerado um cinema de custo um tanto quanto mais elevado que os demais concorrentes paulistanos, o que levou a um pequeno declínio do número de espectadores à medida que novas salas de exibições similares eram abertas na capital paulista, isso levaria o cinema a um remodelamento nos programas e nos preços, no ano de 1932. O Paramount ainda receberia duas “novas fases” nos anos de 1949 e 1979², sendo que nesta última a mais marcante mudança que dividiu o cinema em cinco salas independentes.
O projeto de remodelação do Paramount em 1979 foi de Herman Guettsches e preservou a fachada e o hall monumental do cinema, sendo que todas as salas foram desenvolvidas com ar-condicionado, sanitários, bebedouros e poltronas estofadas modernas. As duas salas maiores tinham capacidade para 600 pessoas, sendo que as outras, bem menores, comportavam respectivamente 216, 200 e 175 pessoas. Por último, sob o edifício, foi construído um estacionamento com capacidade para cerca de 400 veículos.
Nesta nova e derradeira fase como cinema já perentecia à Empresa Cinematográfica Haway, sendo que sua reinauguração ocorrera em 29 de outubro de 1979 com os seguintes filmes:
As salas do Paramount tiveram um relativo sucesso durante a década de 1980, porém começou a enfrentar decadência no início dos anos 1990, época em que os cinemas de rua já não atraiam tanto público que preferiam as salas dentro de shopping centers. Enfraquecido, encerrou completamente suas atividades no ano de 1996.
Posteriormente o Paramount reabrira após ser recuperado pelo Grupo Abril e CIE Brasil reinaugurando em 2001 como um concorrido teatro de grandes musicais e espetáculos, rebatizado como Teatro Abril. O antigo cinema, agora remodelado, recuperava seu público concorrido e seu lugar de destaque no cenário paulistano, oferecendo ao público os tradicionais musicais da Broadway, como O Fantasma da Ópera, Rei Leão e Os Miseráveis.
Anos mais tarde, em 2012, com a grande crise que acometeu o Grupo Abril a T4F (antiga CIE Brasil) assina contrato com o grupo automotivo Renault e a partir de 1º de novembro deste mesmo ano é rebatizado como Teatro Renault, mantendo-se assim até o momento.
VEJA MAIS FOTOS (clique na miniatura para ampliar):
NOTAS:
1 – O Palace Theatro, que antecedeu ao Paramount, pertencia ao empresário Alberto Andrade, entretanto a propriedade em si (o terreno e o imóvel) pertencia a Lins de Vasconcelos. Falecido em 1916, seus herdeiros venderam a propriedade em nos anos 1920 para Horácio Vergueiro Rudge que levaria adiante o projeto do Cine Theatro Paramount.
2 – A reformulação do cinema ocorreu 10 anos após um grande incêndio, ocorrido em 1969, época que o Paramount era locado pela TV Record – Canal 7 São Paulo. Nesta época a emissora realizada os famosos festivais de música popular brasileira, que marcaram época.
Bibliografia consultada:
* Correio Paulistano – Edição de 16/01/1929 – pp 11
* O Estado de S.Paulo – Edição de 28/10/1978 – pp 178
* A Gazeta – Edição de 16/09/1915 – pp 2